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Folha de São Paulo, The New York Times, segunda-feira, 10 de
setembro de 2012


ANÁLISE

Quanto tempo você quer viver?

Por DAVID EWING DUNCAN

Desde 1900, a expectativa de vida dos americanos
saltou de 47 anos para quase 80 anos.

Esse aumento decorre principalmente de melhoras
na higiene e na nutrição, mas também de novas descobertas e intervenções: de
antibióticos e pontes de safena a remédios contra o câncer que identificam e
neutralizam o impacto de mutações genéticas específicas.

Agora, cientistas que estudam os meandros do DNA
e de outras biodinâmicas moleculares podem estar prestes a oferecer mais
longevidade, ao desenvolverem novas drogas e tratamentos para problemas
cardíacos, diabetes e outras doenças.

"A idade é o principal fator de risco para a
maioria das doenças", diz Felipe Sierra, diretor da Divisão de Biologia do
Envelhecimento do Instituto Nacional do Envelhecimento. "Os Institutos Nacionais
de Saúde financiam pesquisas sobre a compreensão das doenças do envelhecimento,
não do prolongamento da vida, embora esse possa ser um efeito colateral."

Mesmo sem uma nova "solução" tecnológica para o
envelhecimento, a ONU estima que a expectativa de vida ao longo do próximo
século se aproximará dos 100 anos para as mulheres no mundo desenvolvido e
superará os 90 anos para as mulheres nos países em desenvolvimento (os homens
ficam três ou quatro anos atrás).

Nos últimos três anos, fiz uma pergunta a quase
30 mil pessoas em palestras sobre tendências futuras das biociências: quanto
vocês querem viver?

Apresentei quatro respostas possíveis: 80 anos,
atual vida média no mundo desenvolvido; 120 anos, aproximadamente o máximo que
alguém já viveu; 150 anos, o que exigiria avanços da biotecnologia; e para
sempre, rejeitando a ideia de que a vida deve ter um limite.

Cerca de 60% das pessoas optavam por viver até
os 80 anos; 30% escolhiam 120; e quase 10% respondiam 150 anos. Menos de 1%
abraçava a ideia de que as pessoas possam evitar completamente a morte.

Nas minhas palestras, eu descrevia as pesquisas
capazes de influenciar a duração da vida.

Os laboratórios estão realizando testes clínicos
sobre novas fórmulas que prorroguem vidas. "Muitas tentativas sérias estão sendo
feitas para se chegar a uma pílula para o envelhecimento", disse Sierra, que no
entanto suspeita que não haverá um remédio único contra a idade, se é que alguma
das fórmulas irá funcionar. "Será uma combinação de coisas."

Há mais de uma década, os cientistas também
testam o uso de células-tronco para substituir e reparar tecidos de animais, e
pacientes humanos já receberam bexigas e uretras gerados dessa forma. Mas um
pioneiro das células-tronco, James Thomson, da Universidade de Wisconsin,
acredita que as soluções envolvendo células-tronco vão demorar muito para chegar
aos órgãos mais complexos.

A biônica -incremento ou substituição de funções
biológicas por máquinas- também pode ter um impacto. Marca-passos cardíacos já
prolongaram as vidas de milhões. Os pesquisadores também estão desenvolvendo
exoesqueletos para proteger articulações, e dispositivos que exploram a
atividade cerebral de pacientes paralisados, permitindo-os operar computadores
com a mente.

Curiosamente, após saber dessas possibilidades,
poucos mudaram seu voto, alegando que não gostariam de se tornar velhos e
enfermos por mais tempo do que o necessário.

Outros se preocuparam com o impacto sobre o
planeta. Alguns temiam que os milhões de centenários na ativa deixem nossos
netos e bisnetos sem empregos.

Já os adeptos da longevidade argumentavam que
prolongar vidas saudáveis adiaria o sofrimento. Isso permitiria que as pessoas
realizassem mais e tentassem coisas novas. Também significaria que gênios como
Steve Jobs ou Albert Einstein ainda poderiam estar vivos. Einstein, se fosse
vivo, estaria com 133 anos.

Isso supondo que ele quisesse viver tanto.
Quando agonizava por causa de um aneurisma da aorta abdominal, em 1955, Einstein
recusou uma cirurgia. "É de mau gosto prolongar a vida artificialmente",
afirmou. "Já fiz minha parte, é hora de ir. Farei isso com elegância."

David Ewing Duncan é
colaborador da "Science Times".

Este ensaio foi adaptado do seu mais recente livro eletrônico, "When I”m 164:
The New Science of Radical Life Extension and What Happens If It Succeeds"


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