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Folha de São Paulo, Ilustrada, sábado, 18 de dezembro de 2010 

CRÍTICA COLETÂNEA 

“Realidade Re-Vista” traz jornalismo audaz


Volume reúne reportagens históricas da publicação que marcou a imprensa
brasileira no final dos anos 1960 

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA, DE SÃO PAULO 


Talvez só tivesse sido possível realizar no Brasil um projeto jornalístico tão
audacioso e bem-sucedido como o da revista “Realidade” na década de 60: 1966. 


Muitas e raras condições para uma “tempestade perfeita” se juntaram: um grupo de
jornalistas de extraordinário talento, um público ansioso por insumos
intelectuais que lhe permitissem compreender os fenômenos da sua época plena de
transformações de toda espécie, um mercado que comportava iniciativas arrojadas,
uma empresa jornalística com saúde financeira e disposta a correr riscos. 

O
fato é que não houve antes e provavelmente nunca haverá nada parecido. 

Isso
explica o fascínio que “Realidade” provoca até em pessoas que nem eram nascidas
quando ela deixou de existir, 42 anos atrás (uma sucessora homônima a sucedeu
até 1976 sem lhe chegar aos pés), mais ainda nas que esperavam ansiosamente uma
vez por mês o dia em que ela chegava às bancas, sempre instigante, inteligente,
surpreendente. 


DESTAQUE CULTURAL

Dois
veteranos daquela aventura, José Carlos Marão e José Hamilton Ribeiro,
resolveram, com o editor José Luiz Tahan, revivê-la um pouco na forma de livro. 


Escolheram e colocaram juntas algumas das reportagens que a revista publicou. E
produziram comentários e textos atuais sobre elas e sobre o grande projeto. 

Num
deles, Marão enfatiza que, ao contrário da mitologia criada, não foi na
política, mas na área da cultura, que “Realidade” foi de fato grandiosa no seu
conteúdo. 

A
identidade entre leitores e revista era intensa porque ela os ajudava a
compreender as perplexidades que pílula anticoncepcional, liberação feminina,
conquista do espaço, igualdade racial, urbanização acelerada, transplantes
cardíacos, teologia da libertação lhes causavam. 

Por
ser mensal, o que muitos consideravam loucura, sua pauta tinha de se livrar do
cotidiano imediato, no que ela radicalizou, tendo feito algumas edições
especiais que poderiam ter a perenidade de um livro (como o relançamento de uma
sobre a mulher brasileira em 1967). 

Por
ser do tempo em que era proibido proibir, seus repórteres tinham a liberdade de
escrever como quisessem e, como eram muito bons, souberam tirar pleno proveito
dessa liberdade, para total desfrute da audiência. 


“Realidade Re-Vista” leva os leitores para aquela época (de volta, no caso dos
mais velhos, talvez pela primeira vez, no dos jovens) com os textos históricos e
os que reconstituem a história. José Hamilton Ribeiro tem a minúcia de contar
que filmes estavam em cartaz em abril de 1966, as cotações do dólar, os
comentários de senhoras mineiras à coleção de Pierre Cardin em que as saias
curtas preponderavam. 

Essa
viagem ao passado vale a pena ser feita. Inclusive para entender melhor o
presente e vislumbrar o futuro com mais nitidez. 


REALIDADE RE-VISTA 


AUTORES
 José
Hamilton Ribeiro e José Carlos Marão 


EDITORA
 Realejo 


QUANTO
 R$
70 (436 págs.) 


AVALIAÇÃO 
ótimo 


LANÇAMENTO
 segunda,
dia 20/12, no Posto 6, às 19h (rua Aspicuelta, 646; tel. 0/xx/11/3812-4342).

Categorias: Jornalismo

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