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O Estado de São Paulo, Domingo, 28 outubro de 2007



OPORTUNIDADES

 
 



Sonho de carreira circense faz jovens buscarem profissionalização



Ficou no passado a idéia de que para ser artista era preciso pertencer a uma
família tradicional de circo

Juliana Portugal

Toda criança já pensou em ser ou advogado, jogador de
futebol, modelo, astronauta, jornalista ou professor. Mas será que alguém sonhou
em ser um artista circense? Pelo visto sim. É cada vez maior a procura de jovens
interessados em se profissionalizar nesta área. E pensar que até pouco tempo
essa era uma profissão restrita à tradição familiar, passada de pai pra filho.

 

Um desses jovens que buscam a profissionalização é
Carlos de Barros Sugawa, de 29 anos, aluno do curso profissionalizante do Galpão
do Circo e também professor de técnica circenses.

 

Sugawa é aluno da primeira turma, que teve início em
2004. Ele já é formado em Arte Cênicas e Música. Em 2002, participou de oficinas
e aulas de palhaço e se interessou por esse universo. “Queria saber quem era o
palhaço, como vivia, até que cheguei no mundo do circo.”

 

Aos poucos, ele foi deixando o trabalho com música e
teatro de lado. “O circo foi suprindo minhas necessidades, pois eu procurava uma
nova forma de expressão.” Entretanto, no curso de técnicas circenses, ele ainda
tem contato com essas disciplinas, música e teatro, além de dança, anatomia,
parte técnica e jurídica. Lá, além das técnicas circenses, os alunos também
aprendem a fazer projetos. “Tem de escrever bem, ser artista, produtor e
empresário.”

 

Além dos treinos diários, ele ainda dá aulas em três
academias. “Sempre dei aulas. Gosto de investir e ver as pessoas melhorando.”

 

Sugawa também desenvolve pesquisas na área, o que lhe
rendeu bons frutos. Há dois meses, recebeu a notícia de que havia sido o
ganhador do Prêmio Carequinha Funarte de incentivo à pesquisa. Com o dinheiro
ganho com o prêmio ele pretende investir no projeto de fazer um livro com DVD
sobre os exercícios: “Seria um verdadeiro manual de técnicas aéreas”, explica
ele.

 

DIFICULDADES

 

Entre os problemas que o profissional de circo
enfrentará está o preconceito de quem ainda não considera a atividade como um
trabalho de verdade.

 

A dificuldade de Sugawa em provar que havia escolhido
uma profissão como outra qualquer esteve presente até em sua casa.
Principalmente pelo fato de ele ter aberto mão do cargo de técnico judiciário no
Tribunal Regional Eleitoral (TRE). “Todos me acharam louco, um salário de R$ 3
mil, concursado, com diversos benefícios e eu não iria aceitar?”

 

Pois Sugawa não aceitou. E não se arrepende da sua
escolha. “Eu não seria um bom funcionário fazendo aquele trabalho, ia faltar,
sair mais cedo; não era o que eu gostava.”

 

Hoje, a família já percebeu que não há chance de ele
sair do mundo do circo.

 

Nos planos de Sugawa para o crescimento profissional
está aprender francês. “Boa parte da literatura do circo está neste idioma.”

 

Ele acredita que investir em cursos contribui para o
diferencial : “Quanto mais ferramentas você tiver, melhor profissional será.”

 

TRABALHO EM FAMÍLIA

 

As irmãs Giulia e Lúcia Tateishi Destro, de 20 e 18
anos, respectivamente, desde pequenas tiveram contato com as artes. “Nossos pais
sempre gostaram e nos incentivaram”, diz Giulia. Tanto que elas já fizeram balé,
ginástica olímpica e atualmente fazem o curso profissionalizante de técnicas
circenses.

 

Mas, como todos os pais cautelosos, eles têm suas
ressalvas: “A maior preocupação dos meus pais não é nem com o nosso futuro
financeiro, mas sim com a possibilidade de lesões e fraturas durante o
trabalho”, diz Giulia.

 

As jovens começaram nesta área há três anos nas oficinas
livres no Galpão do Circo, apenas por hobby. Na época, Giulia estudava música
erudita e Lúcia, além do ensino médio, cursava técnico em nutrição. Mas com o
passar do tempo o que era hobby transformou-se numa possibilidade real de
carreira.

 

Hoje, porém, Giulia não pensa mais em ser musicista,
apesar de ainda estudar e até dar aulas de música. “O circo é o que eu gosto
mais e é o que pretendo seguir.”

 

Lúcia formou-se no ensino médio, mas deixou o curso
técnico de nutrição para dedicar-se ainda mais ao circo. No futuro, ela pretende
cursar uma faculdade de Educação Física. “Tem tudo a ver com o trabalho que
fazemos.” Lúcia ainda diz que uma de suas aulas preferidas é a de anatomia: “É
muito legal entender melhor o funcionamento do corpo.”

 

Apesar de jovens, as irmãs Tateishi Destro mostram que
sabem bem a área em que estão envolvidas: “O mercado de trabalho é muito bom, há
muitos segmentos em que podemos atuar: dar aula, fazer evento, desenvolver
pesquisa ou integrar alguma companhia”, exemplifica Giulia.

 

Lúcia concorda com a irmã e companheira de treino e
completa: “O mercado não é tão concorrido, tem poucas pessoas que realmente se
prepararam para isso.”

 

Aliás, este último parece ser o grande sonho das
meninas. “Ainda não decidimos qual a área em que queremos trabalhar, mas seria
muito legal ser aprovada numa audição, integrar uma companhia e viajar por todo
o mundo.”

 

No ano passado, as irmãs Tateishi Destro até
participaram da audição para integrar um dos mais famosos circos da atualidade,
o Cirque du Soleil, mas não conseguiram a vaga. “Ainda somos novas e podemos
tentar outras vezes.”

 

Um das metas para 2008 é intensificar os treinos. “Já
sabemos que no ano que vem o curso profissionalizante será em período integral.”

 

 

Cursos

 

Centro de Formação Profissional em Artes Circenses (Cefac)
– inscrições até 14 de novembro. Mais informações site www.galpaodocirco.com.br
ou pelo telefone (11) 3812-1676.

 

Escola Nacional de Circo – inscrições de 23 de outubro a
6 de dezembro. Mais informações pelo e-mail escolacirco@funarte.gov.br, pelo
site www.funarte.gov.br/enc/enc.htm ou pelo telefone (21) 2273-2144.

 

Spasso – Escola Popular de Circo – inscrições em
fevereiro. Mais informações pelo site www.circospasso.art.br.

Formação
de qualidade é fundamental

Mercado oferece diversas
opções para profissional além da clássica lona

Igor Giannasi

Não é só debaixo da lona que
pode trabalhar um profissional do circo. Ao mesmo tempo em que o ensino das
técnicas circenses deixou de ser passado apenas de geração em geração, com o
aumento do número de escolas com cursos livres e profissionalizantes, abriu-se
um leque de opções para o artista mostrar seu talento.

 

“É um mercado que está em
ascensão”, comenta a presidente da Cooperativa Paulista de Circo, Bel Toledo.
Eventos, festas, casas de espetáculos, parques temáticos, peças teatrais,
espetáculos musicais e até mesmo treinamento empresarial utilizando a arte
circense como referência de motivação para funcionários estão entre as
possibilidades do artista encontrar seu espaço.

 

“Ainda bem que o mercado está
ficando mais exigente”, comemora Bel. Para ela, no momento em que espetáculos do
chamado circo contemporâneo chegam ao País, como o Cirque de Soleil, eles se
tornam referência. “O momento é do circo, o público está ávido para consumir o
circo de qualidade.”

 

Porém, o
coordenador-pedagógico da Spasso – Escola Popular de Circo, Rogério Sette Câmara
discorda desta visão. “Acredito que o mercado anda crescendo sem muitos
critérios em relação à qualidade”, diz ele.

 

De qualquer forma, para que
essa qualidade seja alcançada, a boa formação do profissional é fundamental. “Na
escolha de um curso profissionalizante de circo é bom saber se a escola te
possibilita descobrir sobre a tradição e te estimula para a criação,
proporcionando de uma formação coerente e consciente”, aconselha Câmara. A
Spasso fica em Belo Horizonte, funciona há dez anos e já formou três turmas. Os
processos de seleção para os cursos ocorrem em fevereiro.

 

A assessora da Coordenação
Nacional de Circo e diretora-substituta da Escola Nacional de Circo, Alessandra
Brantes, alerta quanto ao que ela chama de “escolas de fundo de quintal”.
“Primeiro é preciso ter certeza do que quer. O circo é uma arte muito exaustiva.
Depois, procurar uma escola que realmente vá oferecer uma formação artística
séria”, diz ela.

 

MARCO

 

A Escola Nacional de Circo,
instalada no Rio de Janeiro e mantida pela Fundação Nacional de Arte (Funarte)
do Ministério da Cultura, é um marco no ensino as artes circenses no Brasil,
recebendo interessados de dentro e fora do País. Fundada há 25 anos, a escola é
reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) como curso técnico
profissionalizante desde 2003.

 

O curso dura três anos e meio
e é dividido em sete períodos. A idade mínima para participar é de 14 anos. A
Funarte lançou um edital abrindo inscrições para uma nova turma no próximo ano
(veja quadro acima). Serão oferecidas 30 vagas, 20 no primeiro semestre e 10 no
seguinte.

 

“A escola quando foi fundada
foi criada para fazer treinamento de filhos de artistas circenses”, conta
Alessandra. Por ser uma arte itinerante, eles acabavam não tendo onde ficar
durante a realização da complementação. Para abrigar este público, alunos de
outros estados e mesmo os estrangeiros, Alessandra diz que há um projeto para a
construção de um alojamento dentro da escola.

 

PAIXÃO

 

O diretor do Centro de
Formação Profissional em Artes Circenses (Cefac), Alex Marinho, conta o perfil
de seus alunos ainda está se definido, mas a média de idade está entre os 17 e
20 anos. Mas uma característica é certa. “Os artistas em geral são movidos por
paixão, por uma identificação muito grande.”

 

O curso funciona no Galpão do
Circo, na Vila Madalena, em São Paulo, em período integral e dura quatro anos.
Nos dois primeiros, os alunos aprendem diversas modalidades circenses e nos dois
últimos, escolhem duas para se especializar. As inscrições para a próxima turma
estão abertas e são, em média, dez vagas por ano.


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