FOLHA
DE SÃO PAULO –
14/07/2013 – SÃO PAULO, SP

Todo ano, melhores da Fuvest
recebem convite para tentar curso “secreto” da USP

CHICO FELITTI

Luan Granzotto, 24, pensou que o vestibular da USP já tivesse acabado. Enfrentou a via-crúcis de provas no fim de
2012 e passou em 12º lugar no curso de letras, com 849 vagas.

Mas em maio, enquanto estudava literatura clássica para uma prova, recebeu uma carta da faculdade. `Abri. Era um convite para conhecer o curso de ciências moleculares.`

Ele havia sido convocado a tentar entrar na `graduação secreta` da USP. Secreta porque, apesar de existir há 23 anos, a formação de ciências moleculares não aparece no manual de vestibulandos da Fuvest.

`Selecionamos quem já foi aprovado, e bem`, diz Antonio Martins Figueiredo, que coordena o curso –um misto de biologia,
química, física e matemática.

O curso não é subordinado a nenhuma faculdade do campus. 


As aulas acontecem na `Colmeia`, apelido das salas vizinhos ao restaurante da USP.

A cada ano, cerca de cem pessoas se candidatam a entrar no que alunos chamam de `a elite da universidade`. Há 25
vagas abertas –nem sempre todas são preenchidas. 

O segundo vestibular para quem já enfrentou o vestibular acabou de acontecer. A primeira fase, de perguntas discursivas,
restringiu-se às quatro matérias que formam a grade, mais inglês. E é `impossível de difícil`, segundo André Humberto, 22, que passou em psicologia e fez a prova há quatro anos (não passou).

A segunda fase –uma mesa-redonda com os concorrentes– é na primeira semana de julho. Certa vez, um professor levou pepino, batata, clipe de metal, moeda de cobre e lâmpada. `Com isso, é possível fazer uma bateria e acender a luz.` Os alunos que se virassem com o experimento.

A deste ano foi na semana retrasada. O resultado é divulgado sem notas –o candidato apenas fica sabendo se entrou ou
não. Os aprovados se autodenominam `os moleculentos`.

`São poucos alunos, convivendo o dia inteiro. Tirando que tem um mínimo divisor comum, são pessoas
extraordinárias`, diz uma aluna do quarto ano (todos os atuais estudantes com os quais a Folha de
São Paulo conversou preferiram não se identificar).

PEDE PRA SAIR

Se poucos entram, menos ainda duram até o final do curso.


O biólogo Fernando Rossine, 26, ingressou em 2005. Sua turma
começou com 15 pessoas. Antes do segundo semestre, eram dez. No dia de formatura, sete.

A um semestre de pegar o diploma, o próprio Fernando decidiu retornar para a biologia, por `uma questão de
insatisfação pessoal`.

Um dos imbróglios era a rigidez da grade curricular. Quando Fernando se recusou a fazer uma matéria, teve de se
submeter a um `tribunal` de professores. Acabou absolvido –permitiram que ele terminasse o curso.

Em casos extremos, permite-se que o estudante tranque a matéria. `Mas são exceções`, diz o coordenador da carreira,
Figueiredo. Um exemplo recorrente: depressão profunda.

As aulas são pesadas e muitas. Na sexta-feira, as classes têm o dia livre. `Para pode estudar`, diz Figueiredo.

Agregou-se à carga draconiana um desafio físico: a sala oficial está em reforma, então cada matéria é dada num prédio da USP.
`Andamos uns 40 minutos entre uma aula de biologia e outra de matemática`, diz uma aluna. `Assim também vamos ficar os mais magros, além de os mais inteligentes.`

Luan, o aluno de letras convidado, não foi à prova deste ano. `Conversei com conhecidos que fizeram. Não é muito a minha. Mas que foi bacana ter sido convidado, ah, isso foi.` 


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