UBERIZANDO A VIDA
Luigi Mazza e Renata Buono, Revista Piauí *
O Brasil tem hoje 1,7 milhão de pessoas trabalhando na informalidade como motoristas de aplicativo, taxistas e entregadores. É o dobro de seis anos atrás. O crescimento mais impressionante foi o dos entregadores de moto: de 33 mil, em 2016, passaram a 383 mil no ano passado. São, em sua maioria, homens jovens e negros, que trabalham sem vínculo empregatício e, portanto, com poucas garantias trabalhistas. Dados do Ipea mostram que esses informais fazem jornadas mais longas que a média brasileira, mas recebem pouco: no final de 2021, o rendimento médio de motoristas de aplicativo e taxistas foi de R$ 1,9 mil, valor 30% menor que em 2016. Além disso, estão expostos aos perigos do trânsito. Nos últimos anos, enquanto crescia o número de entregadores de moto, cresciam também os acidentes. Em 2013, 88 mil motociclistas foram internados depois de sofrerem acidentes; em 2022, foram 122 mil. O =igualdades traça um retrato da “uberização” do Brasil.
O número de motoristas de aplicativo e taxistas cresceu continuamente entre 2016 e 2019, e desde então se estabilizou. No terceiro trimestre de 2022, havia 945,5 mil brasileiros com essa ocupação. Já o número de entregadores, seja de moto ou por outros meios, decolou, puxando para cima as estatísticas de informais: eram 33 mil, passaram a ser 383 mil.
A remuneração média dos entregadores informais permaneceu estável nos últimos seis anos. Por outro lado, a de motoristas de aplicativo e taxistas caiu consideravelmente. No primeiro trimestre de 2016, a remuneração média desses profissionais era de R$ 2,7 mil. No quarto trimestre de 2022, foi de R$ 1,9 mil. Uma queda de 30%.
No quarto trimestre de 2021, os motoristas de aplicativo e taxistas trabalhavam uma média de 42,9 horas por semana. É uma jornada que supera em mais de três horas a média dos brasileiros ocupados, que naquele mesmo trimestre foi de 39,3 horas por semana.
Com o sucesso dos aplicativos de entrega, impulsionados pela pandemia, o número de entregadores no Brasil cresceu rapidamente. Eram apenas 33 mil em 2016; no final de 2022, eram 383 mil. O crescimento se deu tanto entre os entregadores de moto (que são, ao todo, 323 mil) quanto entre aqueles que usam outros veículos (55,5 mil).
A maioria dos entregadores que trabalham na informalidade são jovens: 77% deles têm menos de 40 anos. O padrão dos motoristas de aplicativo e taxistas é diferente: só 46% deles têm menos de 40 anos.
As mulheres são apenas 6% dos entregadores que trabalham na informalidade. Trata-se de uma profissão masculina, jovem e majoritariamente negra: 59% dos entregadores se autodeclaram pretos ou pardos, segundo dados colhidos no quarto trimestre de 2021.
Em 2016, quase 40% dos trabalhadores informais de transporte no Brasil contribuíam com a Previdência. À medida que esse mercado se expandiu, no entanto, a proporção foi se diluindo. No terceiro trimestre de 2022, apenas 23% deles contribuíam com a Previdência. Entre os brasileiros que trabalham na informalidade de modo geral, excluído o setor de transportes, a proporção foi maior: 33% contribuíam.
Fontes: Ipea (Nota de Conjuntura nº 16 da Carta de Conjuntura 58 e Nota de Conjuntura nº 14 da Carta de Conjuntura 55)
* Revista Piauí, https://piaui.folha.uol.com.br/uberizando-a-vida/, 27/03/2023
Luigi Mazza (siga @LuigiMazzza no Twitter) – Repórter da piauí
Renata Buono (siga @revistapiaui no Twitter) – É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno