Volta ao trabalho após maternidade desafia mulheres

Mães se sentem pressionadas depois da licença-maternidade e buscam o apoio de terapia para retornar ao mundo corporativo

AMANDA FUZITA | OESP*

O retorno ao trabalho após a licença-maternidade é um momento de desafios para muitas mulheres. A transição de volta ao ambiente profissional, após meses dedicados aos filhos, pode ser marcada por sentimentos de culpa, ansiedade e preocupações sobre como equilibrar as responsabilidades profissionais e pessoais.

Danilo Suassuna, psicólogo especialista em reprodução humana assistida e PhD em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, ressalta que muitas mães retornam ao trabalho com medo de perder o emprego ou não conseguir ter o mesmo rendimento de antes.

“Elas ficam muito divididas entre Será que eu continuo trabalhando? Será que eu volto para casa?”, afirma. Essa dualidade é um reflexo do conflito interno entre o desejo de continuar a carreira e a preocupação com os filhos.

Suassuna destaca que, em muitos casos, as mulheres sentem uma pressão para voltar rapidamente ao trabalho, mesmo que isso signifique deixar o bebê aos cuidados de outras pessoas.

Em conversa com o Estadão, mães relatam suas experiências na volta ao trabalho após a maternidade.

EXPERIÊNCIAS. Railene Rios, 42 anos, gerente de recursos humanos, compartilha seu percurso de conciliação entre maternidade e carreira. “Eu não pensava em ter filhos. Queria me dedicar 100% à minha carreira”, revela.

Com uma carreira consolidada e um mestrado em andamento, Railene enfrentou a difícil decisão de ser mãe aos 37 anos. “Sofri muito antes de retornar, pois decidi não voltar no formato em que trabalhava antes. Negociei um horário reduzido e flexível”, conta. Ela destaca o sentimento de incompetência que teve inicialmente, mas que, com o tempo, deu lugar a uma nova perspectiva sobre produtividade e qualidade. “O acompanhamento psicológico foi meu suporte antes, durante e depois de a Alice nascer.” – Cilmaria Franco, 37 anos,

médica, relata que enfrentou desafios significativos, como a dificuldade em manter a amamentação devido à intolerância da filha às fórmulas. “Foi muito difícil manter a amamentação enquanto trabalhava. A amamentação no Brasil é curta, e há muita pressão sobre as mulheres”, observa.

Após a primeira gravidez, Cilmaria temia voltar ao trabalho. “Eu me preocupava se ainda teria as mesmas oportunidades e se conseguiria manter a eficiência com a chegada da minha filha”, explica. O seu retorno ao trabalho foi marcado por um sentimento de incompetência.

“A inteligência e a memória diminuíram muito. Eu não tinha a mesma velocidade de raciocínio porque minha filha acordava à noite, e eu não dormia bem”, compartilha. Para lidar com isso, ela fez terapia contínua, um acompanhamento terapêutico de longo prazo adaptado às necessidades do paciente. “A terapia foi fundamental para equilibrar a carreira com a maternidade e lidar com a culpa”, afirma.

Francyelle Soares, 36 anos, é bancária e trabalha no mercado financeiro há 16 anos. Ela é mãe de três filhas: uma de quatro anos e gêmeas de oito meses. Ao descobrir que estava grávida de gêmeas, sentiu que sua vida sairia do controle. “Eu pensei: ‘Como vou conseguir conciliar a minha carreira com três filhas?’ Não trabalhar nunca foi uma opção para mim”, desabafa. “Eram uma angústia e um conflito muito grandes.”

Essa preocupação a levou a buscar ajuda psicológica durante a gestação, o que ela afirma ter sido essencial para enfrentar o pós-parto e a volta ao trabalho.

*Estado de São Paulo, https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo, p. B8, 25/08/2024

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