Folha de São Paulo, Ilustrada, domingo, 01 de outubro de 2006
Weir
vê jornalismo com originalidade
INÁCIO ARAÚJO
Repórteres são sempre ótimos personagens. Ou pelo menos parecem
ser. Digamos que o jornalismo rendeu material ao cinema americano por dois
lados que ele aprecia: a virtude e a canalhice. Os exemplos de virtude são mais
raros.
Ninguém negará que a transformação de Jean Arthur em "A
Mulher Faz o Homem" conta a favor dessa categoria. E o Truman
Capote de "Capote", com a paixão por seu objeto, ou o Clint Eastwood de "Crime
Verdadeiro", com sua paixão pela verdade, não a desonram.
No outro extremo temos desde o canalha de "A Montanha dos
Sete Abutres" até o "Cidadão Kane",
com seu poder desmedido e descontrolado.
Em "O Ano que Vivemos em
Perigo" (TCM, 22h),
Peter Weir nos dá uma visão original da atividade
jornalística, porque o julgamento moral é secundário. Estamos em Jacarta,
Indonésia, no momento do golpe de Estado contra Sukarno,
em 1965. Mel Gibson é o jornalista que tem na pessoa de Sigourney
Weaver uma fonte (ela é da diplomacia britânica) e
uma amante. O que virá primeiro? O dilema moral vai existir, e nele interferirá
Linda Hunt, que faz o papel de um fotógrafo (homem).
Mas o que mais chama a atenção é a maneira como Weir explora a paisagem, em particular os exteriores de
Jacarta. Estávamos em 1982. Não se conhecia tanto Gibson e Weaver.
Weir era um novato. Seu filme prometia muito mais do
que ele foi capaz de cumprir.
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