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Folha de São Paulo, Mercado, sábado, 05 de junho de 2010 

cifras & letras

 

CRÍTICA TECNOLOGIA 

 


História dos fundadores da Apple é
crônica da inovação

Clima colaborativo dos anos 70 contrasta com
atual controle de produtos 

RONALDO LEMOS,
COLUNISTA DA FOLHA

Nem todo mundo se lembra, mas Steve Jobs começou
sua carreira como "hacker", vendendo um aparelho que permitia burlar a rede
telefônica e fazer ligações sem pagar nada por isso.

Essa é só uma das histórias contadas por Michael
Moritz em "O Fascinante Império de Steve Jobs". Moritz, investidor de risco do
Vale do Silício, acompanhou a Apple por boa parte da vida.

Retorna agora acrescentando um novo capítulo ao
livro que escreveu na década de 80 sobre a fundação da Apple ["The Little
Kingdom", O Pequeno Reino].

Vale notar que o protagonista do livro não é só
Steve Jobs, mas também Steve Wozniak, engenheiro e cofundador da Apple, que
ajudou definir o conceito de computador pessoal.

Ao acompanhar a história dos dois, o livro relata
a dinâmica da inovação. É interessante ver como a Califórnia dos anos 70, com
sua mistura de filosofia zen e um ambiente tecnológico colaborativo, foi
determinante para o surgimento da Apple.

Tanto Jobs quanto Wozniak aprenderam sobre
computadores na prática.

Estudaram os circuitos de outras máquinas (como o
precursor Altair), visitaram projetos de outras empresas (como Atari e HP),
participaram de clubes de computação e se valeram do ambiente universitário
favorável.

CONTROLE

Esse cenário quase utópico, em que o papel do
amador era tão importante quanto o do profissional, contrasta com as
transformações posteriores da Apple, no sentido de exercer controle quase total
sobre seus produtos. Sobre isso, vale notar que nem iPhone nem iPad trazem
parafusos que permitam que os produtos sejam abertos pelo consumidor. Até a
troca da bateria deve ser feita pela Apple. Um símbolo de como os valores da
empresa foram se modificando desde seu surgimento descrito no livro.

Outra transformação importante foi a evolução da
empresa, surgida literalmente em uma garagem, para uma gigante de capital
aberto, com mais de 1.500 funcionários, em alguns poucos anos. É o ponto forte
do livro.

Ele mostra os dois pesadelos fundamentais que
assolam empresas de tecnologia.

O primeiro, criar demanda por um novo produto,
muitas vezes desconhecido do consumidor. O segundo, lidar com a explosão dessa
demanda e se reorganizar para dar conta dos pedidos O livro deixa claro como os
ciclos de inovação impulsionam ou destroem empresas.

A Apple que ganhou o mundo na década de 80 com o
Apple 2 foi obliterada, após a saída de Jobs, pela conjunção entre IBM e
Microsoft. Hoje Steve Jobs está de volta e o mundo é de novo da Apple. E o livro
de Moritz nos leva inevitavelmente a perguntar: por quanto tempo? 


O FASCINANTE IMPÉRIO DE STEVE
JOBS

AUTOR Michael
Moritz 

TRADUÇÃO Heinar
Maracy 

EDITORA Universo
dos Livros 

QUANTO R$
39,90 (368 págs.


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