Folha de São Paulo, Mercado, sábado, 16 de abril de 2011
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CRÍTICA INDÚSTRIA
TÊXTIL
Livro discute por que moda do Brasil brilha, mas não vende
Gloria Kalil reúne análises sobre a relação da produção nacional com o mercado
VERENA FORNETTI, DE SÃO PAULO
"Fashion Marketing: Relação da Moda com o Mercado", que a jornalista Gloria
Kalil lançou neste ano, começa com uma provocação: por que a moda brasileira
chama a atenção, mas não vende?
Estilistas, executivos da indústria, consultores e acadêmicos são convidados
para responder a essa e outras perguntas. Entre elas, a suposta necessidade de
que o país -cuja imagem está ligada à combinação sol, praia e alegria- imprima
identidade nacional ao que produz.
A resposta para as provocações não é uníssona, e na diversidade de vozes está um
dos principais acertos da obra organizada por Kalil.
Há quem não concorde que a moda brasileira tenha resultados minguados. Paulo
Borges, criador da SP Fashion Week, diz que a presença de estilistas do país no
exterior avança rapidamente.
Roberto Stern, da H. Stern, e José Miguel Wisnik, professor da USP, relativizam
a questão da identidade. Stern pondera que, para se destacarem no exterior, as
mercadorias precisam de mais do que apelo folclórico; devem atrair por si só.
Wisnik duvida da possibilidade de individualizar o que é brasileiro: "A
característica brasileira é a capacidade de juntar linguagens diferentes,
atravessar fronteiras, e não fixar uma identidade", escreve.
Outro mérito do livro é contar o percurso da profissionalização -e da
sobrevivência- da moda em um país que passou por uma profusão de pacotes
econômicos na década de 1980 e só controlou a inflação em 1994.
Nessa história, não esconde episódios desastrados, como a formação do grupo I M
(Identidade Moda), em 2007. Entretanto, o formato do livro -que sintetiza
palestras de quase 30 especialistas em 119 páginas- traz reveses.
O primeiro é a falta de aprofundamento em alguns textos. Exemplo está no relato
de Daniella Helayel, que veste a futura princesa Kate Middleton. A estilista
fala de forma pueril da decisão de fabricar na China. "Sem a organização da
fábrica da China, nada daria certo porque somos superbagunçados." O segundo
revés é temporal e é lembrado pela organizadora logo na introdução.
As palestras foram feitas de 2006 a abril 2008. Antes, portanto, da crise, que
mudou o mercado da moda.
Na LVMH, que detém marcas como Louis Vuitton e Sephora, por exemplo, em 2009 a
Ásia (excluindo o Japão) ultrapassou os EUA em receita.
À Folha Kalil
disse que o país desde então passou por reviravolta em relação ao interesse
estrangeiro. "O Brasil virou a percepção do pessoal de fora." Ela ressalva que,
apesar disso, os problemas para prosperar tanto no mercado interno quanto
externo continuam os mesmos.
De fato, os textos enriquecem o debate sobre o aspecto econômico da moda. Como
destaca Kalil, em tom direto, é preciso evitar que o ufanismo ofusque essa
discussão.
FASHION MARKETING
AUTORA Gloria
Kalil (org.)
EDITORA Senac
QUANTO R$
45 (144 págs.)
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