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Revista Isto É,
COMPORTAMENTO,
|  N° Edição:  2362 |  06.Mar.15 – 22:20 |

A casa onde Jesus passou a infância


Arqueólogos descobrem
sob as ruínas de um convento em Nazaré o local onde Cristo teria vivido seus
primeiros anos e concluem, pela estrutura do imóvel e os objetos encontrados,
que a sagrada família seria de classe média

Raul
Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br)


Uma casa com pórticos
arqueados e feitos de calcário, material considerado puro pelos judeus do século
primeiro. Nem suntuosa, nem muito pobre. Este pode ter sido o lar de Jesus
Cristo durante sua infância em Nazaré, segundo pesquisa realizada por um time de
arqueólogos da Universidade de Reading, no Reino Unido. A equipe descobriu que,
cerca de 600 anos após a crucificação, os bizantinos acreditavam que o menino
Jesus havia vivido seus primeiros anos no local. Por isso, ao redor da
construção, ergueram uma igreja que se tornou um importante centro de
peregrinação para cristãos do período.


Hoje, no mesmo lugar
está o convento das Irmãs de Nazaré, que foi crucial para a identificação. A
principal evidência de que os cristãos daquele tempo acreditavam ser aquela a
moradia do pequeno Cristo está num documento chamado “De Locis Sanctis” (Os
Locais Sagrados), escrito em 670 d.C. pelo abade irlandês Adomnàn de Iona. No
texto, o monge conta a história da suposta peregrinação a Nazaré feita pelo
bispo franco Arculf e explica que naquele tempo existiam duas grandes igrejas na
cidade, a Basílica da Anunciação e um outro templo próximo, que contava com uma
cripta com duas tumbas e um poço em seu interior. Entre as sepulturas, estava
uma casa que os bizantinos acreditavam ter pertencido à Sagrada Família. De
acordo com os pesquisadores, a descrição da segunda igreja se encaixa
perfeitamente com as ruínas sob o convento – que, além disso, está a poucos
metros da Basílica da Anunciação, conforme descrito no “De Locis Sanctis”.


Se esta realmente foi a
casa de Jesus, seus padrões de vida estavam acima da alardeada origem humilde.
Chefe da equipe acadêmica da Universidade de Reading, o arqueólogo Ken Dark
explica que os moradores do local não eram nem muito pobres, nem muito ricos, a
julgar pela estrutura do imóvel e pelos objetos encontrados. Ele também
considera que os que lá viveram provavelmente eram judeus, já que a construção
foi feita em calcário, um material que respeitava as regras de pureza daquele
povo. A datação foi feita através do estilo arquitetônico e dos modelos
cerâmicos encontrados.


O especialista acredita
que este pode ser realmente o antigo lar do menino Jesus, mas diz que as
evidências científicas só permitem afirmar com certeza que os bizantinos
acreditavam nessa possibilidade. “Por se tratar de uma residência do século
primeiro, talvez eles estivessem corretos na identificação de onde Cristo foi
criado, mas é muito difícil ligar evidências arqueológicas a pessoas
específicas”, disse à ISTOÉ. A descoberta foi publicada no periódico Biblical
Archaeological Review, reunindo material de dois estudos anteriores do próprio
Dark. No artigo, ele revela que na escavação foram achados potes de cozinha, um
fuso de tear e uma decoração de mosaicos bizantinos feita séculos depois da
crucificação. “Os adornos sugerem que o local era de importância especial e
possivelmente venerado”, escreveu ele.


Os escombros foram
descobertos por acaso no século 19 pelas freiras que moravam no convento. Em
2006, a equipe de Dark fez a datação das ruínas da residência e do antigo templo
erguido em volta dela, chamado de Igreja da Nutrição (uma referência onde Maria
amamentou Jesus). Depois dos bizantinos, o templo foi abandonado por um período
e voltou à ativa durante as Cruzadas, antes de ser destruído pelo fogo no século
13. Mas a descoberta não é uma unanimidade entre a comunidade acadêmica. “A
importância do achado está em iluminar o contexto histórico de Cristo, e não em
confirmar sua presença física naquela residência”, afirma o arqueólogo Rodrigo
Silva, professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo. Presidente da
Associação Brasileira de Arqueologia do Mediterrâneo Oriental, Jorge Fabbro acha
pouco provável que Cristo tenha passado a infância na casa. “A única evidência
que os pesquisadores têm é uma tradição bizantina em relação àquele local. Essas
tradições não têm valor histórico porque são muitas vezes exageradas. Do ponto
de vista científico, a ligação com a figura de Jesus é precária”, afirma. Para
Dark, no entanto, “as novas informações do projeto transformam o conhecimento
arqueológico do período romano e da Nazaré bizantina.” Alheios às considerações
acadêmicas, os cristãos do mundo todo devem adotar o local como uma importante
ponto de peregrinação para alimentar a fé.  


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