O Estado de São Paulo, CADERNO 2, Domingo, 3 setembro de 2006

A função do maestro e a
ópera americana

New Yorker faz ensaios sobre
importância dos regentes e analisa obras para o palco de autores como Carter e
Adams

João Luiz Sampaio

A revista New Yorker traz em sua última
edição do mês de agosto dois interessantes artigos sobre o universo musical. Justin Davidson escreve sobre “o
mistério do maestro”. Parte da velha piada segundo a qual o maestro é o único
músico que não produz nenhum som e sai em busca de explicações para a sua
função. Já Alex Ross tem como tema a nova ópera
americana. Viaja pelo País assistindo a estréias de novas obras e compartilha
no texto sua avaliação.

É um prazer ler
o longo artigo de Davidson. Ele acompanhou durante
pouco mais de dois meses uma série de maestros em atividade com suas
orquestras. Esteve em Atlanta com Robert Spano,
passou alguns dias ao lado de Lorin Maazel na Filarmônica de Nova York; trocou idéias com James
Levine no Metropolitan Opera; e não se furtou de uma
pequena parada em Berlim para acompanhar o britânico Simon Rattle
à frente da Filarmônica. A peregrinação tem ainda uma pequena parada na sala de
sua casa onde, ao lado de Spano, assiste ao DVD The Art of Conducting: Legendary Conductors of a Golden Era, que
traz imagens raras de maestros das antigas como Furtwangler,
Karajan e Mengelberg, entre
outros.

Davidson não chega a nenhum conjunto de regras para
explicar a função do maestro – e, conseqüentemente, uma fórmula para escolher
entre eles aqueles que ostentam com propriedade o título. Mas sua peregrinação
pelas salas de concerto revela um mundo dinâmico, vivo,
repleto de idiossincrasias
, regras a serem quebradas, personalidades
marcantes – aquelas coisinhas que fazem da interpretação ao vivo algo tão
fascinante.

Alex Ross, por sua vez, saiu em viagem para encontrar a ópera
que se produz atualmente nos Estados Unidos. Em Nova York, assistiu a Our Town, de Ned Rorem, e à produção da Ópera de Los
Angeles para Grendel, de Elliot Goldenthal;
e, no festival de Tanglewood, em Boston, acompanhou
Levine comandar a estréia de What Next?,
de Elliott Carter. As três
encerram uma temporada, lembra Ross, que já havia
visto subir aos palcos americanos outros novos títulos, especialmente Doctor Atomic, de John Adams, An American Tragedy,
de Tobias Picker, e Miss Lonelyhearts,
de Lowell Liebermann. Ross fala de cada espetáculo e, mais importante, nos revela
como estas novas óperas se encaixam no contexto das experiências prévias de
seus autores com o gênero.

Não há uma
fórmula para se pensar a ópera nos dias de hoje – em termos formais, não há o
rigor de escolas que pautou, mesmo sem excluir as individualidades dos
compositores, a produção do repertório tradicional. Isso gera um panorama muito
amplo – e às vezes parece que o gênero anda meio perdido, deixado de lado. O
texto de Ross mostra que não. A prova de vida da
ópera é a tentativa destes e muitos outros autores de continuar a pensar o
gênero e suas possibilidades. Em tempo: este mês, Ronaldo Miranda estréia no
Teatro São Pedro sua Tempestade; e, em outubro, no Municipal, será a vez de
Jorge Antunes e sua Olga.

Categorias: Música

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