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O Estado de São Paulo, Domingo, 29 junho de 2008


ECONOMIA &
NEGÓCIOS

 
 

           

A revolução da microeletrônica faz 60 anos



Ethevaldo Siqueira


A
invenção do transistor é considerada a mais importante do século 20. Esse
minúsculo dispositivo revolucionou a eletrônica e as comunicações. Sua invenção
foi anunciada há 60 anos, no dia 30 de junho de 1948, pelos Laboratórios Bell,
de Murray Hill, Nova Jersey. Quem visita hoje a sede desses laboratórios pode
ver como era o primeiro transistor numa vitrine no saguão do prédio principal.
Para muitas pessoas não passa de uma aranha sem nenhum charme. Para outros, no
entanto, é algo tão significativo quanto o 14-Bis de Santos-Dumont ou o primeiro
telefone de Graham Bell.

 

Nessa mesma vitrine, o
visitante pode ver um exemplar da nota à imprensa distribuída pelos Laboratórios
Bell, sobre a invenção do transistor e que foi publicada no dia 1º de julho de
1948 pelos grandes jornais dos Estados Unidos e do mundo, sem grande destaque. O
New York Times, por exemplo, registrou o invento numa pequena nota, perdida no
meio do jornal, em apenas quatro parágrafos.

 

No primeiro momento, poucos
compreenderam a importância do transistor, além dos três cientistas que criaram
esse dispositivo – William Shockley, Walter Brattain e John Bardeen. Na
realidade, o protótipo estava pronto desde o dia 23 de dezembro de 1947, e
funcionava perfeitamente, amplificando em 40 vezes a intensidade do sinal
elétrico. Mas o dispositivo ainda não era de silício e, sim, de germânio.

 

A direção dos Laboratórios
Bell, contudo, não se convenceu logo da importância nem do alcance do invento e
só decidiu divulgá-lo seis meses mais tarde, depois de exaustivas demonstrações
de seu funcionamento. Até mesmo o reconhecimento do mérito do invento pelo mundo
científico demoraria quase nove anos. Finalmente, porém, vem a consagração:
Shockley, Brattain e Bardeen ganham o Prêmio Nobel de Física de 1956.

 


MINIATURIZAÇÃO

 

Na indústria, poucos meses após
seu lançamento, o novo componente começa a substituir as válvulas a vácuo de
três pólos e deflagra o processo de miniaturização que tem marcado a
microeletrônica nos últimos 60 anos. Com ele, se produzem componentes e
equipamentos eletrônicos cada vez menores, mais rápidos e mais baratos – ou
smaller, faster, cheaper, para usar as palavras inglesas que traduzem essas três
características.

 

Nos anos 1950, a evolução
tecnológica cria diversos tipos de transistores, sempre menores, montados sobre
pastilhas de silício. E o mundo passa a ser inundado por rádios portáteis
transistorizados – em especial os fabricados no Japão.

 

O transistor tem muitas
funções: amplifica o sinal elétrico, comuta circuitos, estabelece conexões,
redireciona a corrente e muitas outras. Na microeletrônica é o ponto de partida
para uma série de avanços. Trabalhando separadamente, Jack Kilby e Robert Noyce
inventam em 1959 o circuito integrado – dispositivo que reúne numa única
pastilha algumas dezenas de transistores e outros componentes como os diodos,
capacitores e resistores. Em 1970, Ted Hoof e Robert Noyce, da Intel, inventam o
microprocessador, ou seja, a unidade de processamento central ou CPU dos
computadores. O primeiro a ser comercializado em 1971 é o Intel 4004. Os mais
recentes são Pentium ou o Intel Core2Duo.

 

Atualmente, os
microprocessadores ou chips reúnem centenas de milhões de transistores. Os mais
sofisticados e poderosos de hoje já quebram a barreira de um bilhão de
transistores. Na realidade, a miniaturização dos componentes eletrônicos parece
não ter fim. É claro que há limites, quando se alcançam as dimensões moleculares
ou atômicas.

 


CUSTOS

 

Uma das características
revolucionárias dos chips é sua constante queda de custo. Numa comparação
ilustrativa, a revista BusinessWeek lembra que o número de transistores
fabricados no ano de 2006 foi maior e mais barato do que todos os grãos de arroz
produzidos no mundo.

 

Em 1965, os circuitos
integrados abrigavam apenas algumas dezenas de transistores. Naquele ano, Gordon
Moore, um dos fundadores da Intel, previu, por simples observação da evolução
dos componentes, que os circuitos integrados dobrariam o número de transistores
a cada 18 ou 24 meses. Acertou na mosca. É exatamente o que tem ocorrido nos
últimos 40 anos. Essa previsão ganhou o nome de Lei de Moore.

 

Em 1975, os circuitos
integrados já continham até 65 mil transistores. Em 1985, a IBM apresentou seu
primeiro chip com mais de um milhão de transistores, na feira National Computer
Conference (NCC), em Chicago. O Pentium 4 tinha mais de 55 milhões de
transistores. Em 2002, os microprocessadores mais densos quebraram a barreira
dos 100 milhões de transistores. Até 2009, surgirão os primeiros chips com mais
de um bilhão de transistores.

 


Confira, leitor, a massa de novas tecnologias e produtos que o mundo ganhou
depois de 1970, graças ao avanço da microeletrônica e, em especial, dos
microprocessadores: computadores pessoais, videocassetes, CDs, câmeras digitais,
DVDs, satélites domésticos, TV de alta definição, fibras ópticas, tomografia
computadorizada, celulares, redes de banda larga e internet.


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