O Estado de São Paulo, 21 de abril de 2014 | 2h 02

Alunos reclamam de falta de transparência em curso da USP

Estudantes de Ciências
Moleculares afirmam que não há recuperação nem critério para exclusão;
coordenação nega as acusações e diz que cada caso é analisado e as avaliações
“não podem ser engessadas”

Bárbara Ferreira Santos – O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO – Alunos do
Curso de Ciências Moleculares (CCM) – o único da Universidade de São Paulo (USP)
que começa no segundo semestre e tem processo seletivo após a Fuvest –
questionam os métodos para selecionar quem deve sair ou continuar e reclamam que
são submetidos a “fortes pressões”. O coordenador do curso, Antonio Figueiredo,
afirma que cada caso é analisado: “Não queremos massacrar o aluno”, diz.

O Estado ouviu oito
alunos e três ex-alunos do CCM. Levantamento feito por representantes de turmas
apontou que 15 alunos ou ex-alunos de quatro turmas (de cerca de 100 estudantes
no total) passaram por tratamentos psiquiátricos.

O ponto crítico,
afirmam, é o encontro da Comissão de Graduação, quando se decide quem vai
permanecer no curso. Composta pelo pró-reitor de Graduação da USP, pelo
coordenador, por professores e por alunos representantes, a comissão avalia,
duas vezes por semestre, o desempenho individual dos alunos – principalmente dos
que têm notas vermelhas. Por causa da má fama, a reunião ficou conhecida pelos
estudantes como “ceifadora”, porque “lá rolam cabeças”, dizem eles.

O curso está ligado à
pró-reitoria de Graduação e cerca de 25 a 30 estudantes são selecionados. “Vi
gente muito boa, que acaba tendo notas baixas por diversas razões, desistir no
meio do semestre e acabar nem apelando para fazer uma nova prova. Por uma
matéria você já pode ser excluído”, conta Rafael Ribeiro, de 21 anos, ex-aluno
do CCM, que saiu porque não quis seguir carreira científica.

Quem é excluído volta
para a carreira para a qual foi aprovado. “Não há uma regra, ninguém sabe se uma
nota vermelha, duas ou três vão levar à retirada do curso”, disse um aluno que
não quis se identificar. “Existe o argumento de que a pressão mimetiza o
ambiente acadêmico, mas questiona-se se o método didático é saudável, pois o
curso tem um alto índice de depressão entre os alunos”, diz Marcos Masukawa, de
22 anos, de uma das turmas. Os alunos ainda reclamam que não têm direito a
recuperação nem abertura para o diálogo para pensar em possíveis mudanças.

Exigências. O
coordenador Antonio Figueiredo afirma que as avaliações são feitas para saber se
o aluno tem condições de continuar. “As avaliações não podem ser engessadas.
Analisamos caso a caso e verificamos se aquela atividade é prazerosa para ele e
se vai resultar em um bom pesquisador”, diz.

Para a professora Lucile
Maria Floeter-Winter, a decisão de devolver o estudante para sua unidade de
origem se dá quando a equipe percebe que ele não vai acompanhar as exigências.
“Com a garantia de que o aluno não será jubilado ao retornar à sua unidade de
origem, ele é retirado porque a gente considera que ele não vai conseguir
acompanhar o curso na exigência.”

Segundo Figueiredo, os
estudantes solicitaram mudanças em disciplinas e conteúdos. As alterações estão
sendo analisadas, e o resultado deve ser discutido na próxima reunião, no dia 18
de julho. Ele também afirmou que o número de alunos com depressão não é alto em
comparação com outras unidades – o que é rebatido pelos estudantes.

Estrutura. A seleção é
feita por perfil: além das habilidades com ciências, o aluno tem de saber
trabalhar em grupo e ter interesse em aprender. Um convite para o evento de
apresentação do curso é enviado aos 20 primeiros colocados na Fuvest e para
estudantes de algumas unidades específicas da USP, como a Faculdade de Medicina.
Mas qualquer estudante pode se candidatar. Eles fazem um teste de ciências
básicas e depois têm de solucionar, em grupos de 15 pessoas, um problema
proposto pelos professores.

Os selecionados têm
aulas de Biologia, Física, Matemática, Química e Computação nos dois primeiros
anos. Nos dois anos finais, fazem uma pesquisa e montam sua grade. O aluno ainda
tem privilégios: pode escolher disciplinas em qualquer unidade da USP e, se
necessário, tem uma vaga extra em uma disciplina que esteja lotada. Se faz uma
disciplina e tira nota abaixo da média, pode excluir a matéria do histórico.

 

 


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