Nova pagina 9

Revista Isto é, DESIGN. |  N° Edição:  2284 |  23.Ago.13 – 20:40
|  Atualizado em 27.Ago.13 – 10:09

Arquitetura sem fronteira


Com soluções
inovadoras e inspiração no trabalho de Oscar Niemeyer, o mexicano Fernando
Romero entra para a elite mundial de projetistas e negocia uma exposição no
Brasil em 2014

Luiz
Fernando Sá

Fernando Romero tem
projetos na prancheta e muitos planos em mente. Na segunda categoria está uma
viagem ao Brasil ainda este ano. O arquiteto mexicano negocia com um galerista
de São Paulo trazer para a cidade, em 2014, uma exposição sobre o seu trabalho.
Aproveitaria a ocasião, também, para avançar nas tratativas com um potencial
cliente brasileiro. “É um grande empresário paulista”, antecipou à ISTOÉ na
terça-feira 20, numa conversa via Skype, direto da Cidade do México. “Para nós,
será uma honra fazer um trabalho em um país tão extraordinário.” Romero fala de
forma simples e modesta, as palavras se encaixando em equilíbrio e elegância.
Ousadias e hipérboles ele reserva para as obras que fazem dele uma estrela
emergente da arquitetura global contemporânea, um nome que sobe rapidamente os
degraus que levam a um Olimpo ocupado por gente como Zaha Hadid e Santiago
Calatrava. Seu cartão de visitas é o impressionante Museu Soumaya, ícone de uma
nova fase de prosperidade na capital mexicana. Romero exprimiu em curvas
improváveis os desejos do homem mais rico do mundo, seu compatriota Carlos Slim
Helú, dono do Grupo Carso (que no Brasil controla Claro, Embratel, Net e outras
companhias) e de uma fortuna avaliada em US$ 66 bilhões. O prédio é um tributo à
mulher de Slim, falecida em 1999, e a morada para a coleção de 66 mil obras de
arte do magnata – uma eclética lista de obras-primas que inclui Van Gogh,
Matisse, El Greco, Rodin (o maior conjunto de peças do escultor fora da França),
entre outros. Diante de tantos mestres, é quase uma heresia dizer que o edifício
de 50 metros de altura rivaliza com o conteúdo na atração de visitantes. Mas é a
mais pura verdade.


Museu
Soumaya (Cidade do México)


Aberta
em 2011, a principal obra de Romero abriga coleção do bilionário Carlos Slim

O cliente, nesse caso,
está muito além de ser especial. É o sogro. Romero é casado e tem quatro filhos
com Soumaya, filha de Slim homônima da mãe. Poderia sugerir nepotismo – e não
faltou alguém para depreciar, dessa forma, o talento do rapaz. A trajetória da
elaboração do projeto e o seu resultado relatam o contrário. O cliente-sogro não
deu trégua ao arquiteto-genro. Feita a encomenda, Romero teve nada menos que 16
pré-projetos rejeitados até receber o sim de Slim para avançar, em 2007. Durante
a construção, o bilionário fazia visitas diárias ao canteiro. “Desde o início,
foi um processo contínuo de aprendizado”, conta Romero. “O fato de o cliente ser
engenheiro fez com que ele desafiasse minhas ideias e as soluções que eu
apresentava até o último momento.” A insinuante estrutura externa do museu
reflete a fertilidade dessa parceria. Sua assimetria confronta o senso geral em
uma cidade frequentemente sacudida por terremotos. Para o revestimento da
fachada foram produzidas 16 mil hexágonos de alumínio em mil formas e tamanhos
diferentes, que formaram um complexo mosaico. “Isso só foi possível porque fomos
buscar as mais modernas ferramentas de design existentes no mundo”, explica.

Com sua grandiosidade,
beleza e patrono, o museu Soumaya teria potencial para fazer sombra eterna sobre
seu criador. Romero, porém, já mostrou que não é arquiteto de um projeto só. No
entorno desse marco, por exemplo, está em fase final de construção, com sua
assinatura, a Torre Jumex, encomenda de outro bilionário mexicano, Eugenio López
Alonso. Ao lado do prédio, Alonso mandou erguer seu próprio museu, desenhado
pelo inglês David Chipperfield, onde reunirá aquela que é considerada a maior
coleção de arte latino-americana contemporânea. Assim, com arquitetura, arte e
ousadia, dois mecenas mudaram para o bairro de Polanco, no subúrbio da Cidade do
México, o epicentro econômico e cultural de um país. Há nada menos que um milhão
de metros quadrados sendo erguidos ali, redesenhando o futuro mexicano. “A
arquitetura tem a missão de nos ajudar a evoluir”, resume Romero.

O efeito Soumaya
expandiu também as fronteiras do arquiteto. Em 2010, com o museu ainda em
construção, mas já com a demanda por seus serviços em alta, ele abriu em Nova
York uma filial do FR-EE (Fernando Romero Entreprises), seu escritório de
arquitetura, e passou a colecionar encomendas e prêmios, de Miami à China
(confira alguns de seus projetos ao longo da reportagem). A cada vez mais
influente comunidade latina dos Estados Unidos, por exemplo, cobiça seus traços
e reverencia sua influência ao redor do mundo. “Fernando Romero é o novo Oscar
Niemeyer da América Latina, o novo Frank Lloyd Wright para o mundo”, afirma o
artista plástico brasileiro Romero Britto, radicado em Miami. São duas
referências imediatas. Wright, autor do projeto do Guggenheim Museum em Nova
York, é o papa da arquitetura moderna americana. O brasileiro Niemeyer, um dos
ídolos do mexicano. “A habilidade de Niemeyer para combinar silhuetas inovadoras
e grandes espaços abertos com economia sempre me interessou muito e influencia o
modo como trabalhamos no FR-EE”, diz. Outro brasileiro na sua lista de
influências é Paulo Mendes da Rocha, “por causa da abordagem poética e racional
da arquitetura”.

Atualmente, Fernando
Romero está debruçado sobre as questões urbanas. Seu principal trabalho em curso
é um grande projeto de infraestrutura para a Cidade do México. Em seu portfólio,
há uma série de conceitos para cidades planejadas, espécies de Brasílias do
futuro, imaginadas para serem erguidas em regiões remotas como polos de
desenvolvimento e um antídoto às migrações que ampliam o caos nas grandes
metrópoles como a sua terra natal ou São Paulo. “São cidades irmãs no tamanho,
na complexidade, na diversidade e no contraste”, analisa. Para ele, uma tem
muito a aprender com a outra. Os brasileiros de São Paulo e do Rio, acredita,
têm mais expertise no trato das questões sociais, avançam mais rapidamente nesse
quesito. Já a capital mexicana despertou para a urgência das grandes
transformações viárias e de convivência urbana. “Vivemos um momento especial”,
comemora. “Até há pouco tempo, o México era um país de engenheiros. Agora, estão
ouvindo os arquitetos e descobrindo outras maneiras de resolver os velhos
problemas. É o que podemos ensinar ao Brasil”.



Entrevista / Fernando Romero


“Meu
projeto favorito é o próximo”


ISTOÉ –
O Museu Soumaya é seu projeto favorito?


Meu
favorito é sempre o próximo, porque é o que concentra minha atenção. Mas o museu
terá sempre um valor emocional muito grande. Um arquiteto tem poucas
oportunidades na vida de desenhar um museu para receber obras de artistas como
Rodin, Van Gogh e outros.


ISTOÉ –
Quando desenhou o museu, tinha a ambição de criar um novo símbolo para a Cidade
do México?



Estávamos determinados a criar as melhores condições para abrigar as obras de
arte, mas também queríamos que se tornasse um destino para os mexicanos. É um
conceito que pode ser repetido em outros lugares do mundo.


ISTOÉ –
Carlos Slim é apenas mais um cliente?


É um
cliente extraordinário e visionário. Trabalhar com ele foi um processo contínuo
de aprendizado. Por ser engenheiro, ele desafiou minhas ideias e as soluções que
eu apresentava até o último momento


ISTOÉ –
Qual é a missão da arquitetura no século XXI?


A
arquitetura deve ter a possibilidade de nos surpreender, de desenvolver novos
contextos, novas inter-relações pessoais, novos modelos de construção e maneiras
de usar materiais. A arquitetura deve nos ajudar a evoluir.


ISTOÉ –
Qual é a sua visão das cidades brasileiras?


O Rio de
Janeiro me faz lembrar Acapulco, no México. São Paulo e Cidade do México são
cidades irmãs, no tamanho, na complexidade, na diversidade e nos contrastes.

Categorias: Arquitetura

1 comentário

Os comentários estão fechados.

× clique aqui e fale conosco pelo whatsapp