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Folha de São Paulo, Fovest, terça-feira, 14 de fevereiro de 2006



Atuação vai desde a área pública, em hospitais e secretarias, a empresas, com
recursos humanos



Assistente social assegura direitos


FERNANDA CALGARO


"Não trabalhamos com caridade nem com assistência, mas com a garantia e a
proteção dos direitos da população", explica Rosalina Santa Cruz Leite,
vice-diretora da faculdade de serviço social da PUC-SP, sobre o papel do
assistente social.


A atuação do profissional é voltada para atender principalmente às pessoas
carentes com o objetivo de assegurar acesso universal aos direitos sociais,
civis e políticos. Por ser uma carreira generalista, o campo de trabalho é
amplo: vai desde a área pública, em hospitais e secretarias, a empresas, na
parte de recursos humanos e treinamento e de responsabilidade social.


"O assistente social lida com trabalhadores em empresas ou com desempregados e
excluídos da sociedade", explica Rosalina. O público-alvo do atendimento,
segundo ela, pode ser idoso, criança, mulheres (gênero), famílias e deficientes.
Se o profissional quiser dar aula, só pode ser no ensino superior, com mestrado.


As principais dificuldades na área giram em torno de verba, de acordo com
Elisabete Borgianni, presidente do Conselho Federal de Serviço Social. "A
efetivação de direitos depende de políticas sociais públicas. E os recursos
oferecidos conseguem atender apenas uma parte dos necessitados."


Segundo Elisabete, há 62 mil assistentes sociais no Brasil -o segundo maior
contingente no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, que têm 150 mil. A
profissão é abraçada em geral pelo sexo feminino. "Há muitos homens também, mas
são poucos em relação ao número de mulheres."


Para ela, os que buscam a carreira "têm certamente um sentimento de justiça
social muito agudo".


A opinião é compartilhada pela professora da PUC, Rosalina. "Os alunos, quando
chegam à universidade, são idealistas, têm vontade de mudar o mundo desigual." O
curso tem duração de quatro anos, com estágio obrigatório a partir do quinto
período.


E foi como estagiária em um projeto de campo de extensão da própria PUC que
Marcela Barbato Hoenen encontrou seu primeiro emprego como assistente social. O
programa atende a 120 adolescentes em situação de risco da favela de Heliópolis,
na zona sul de São Paulo. Ela fez estágio lá e, após se formar, em 2003, foi
contratada. Hoje, aos 24 anos, a maior recompensa para ela é ver que conseguiu
que mais um jovem não entrasse para o tráfico.


Mesmo com 27 anos de experiência como assistente social, Nancy Cavallete da
Silva, 48, conta que é muito difícil não se envolver com algumas situações das
famílias que atende. "Às vezes ainda choro com alguns casos. Não dá para ser
frio. Há alguns relatos que emocionam", afirma. "Claro que, no momento do
atendimento à família, dou orientações precisas, tento passar segurança, mas é
difícil não se envolver."


Nancy trabalha como assistente social da Secretaria Municipal de Habitação de
São Paulo e conta que uma das áreas de que mais gosta de atuar é com moradia. "É
muito gratificante porque é algo bem concreto e palpável. Se a pessoa tem uma
casa, todos os outros aspectos da vida dela melhoram: com um endereço fixo fica
mais fácil conseguir trabalho e matricular os filhos numa escola mais próxima.
Se a pessoa saiu de um barraco para ir para uma casa, a qualidade de vida e a
saúde também melhoram com condições de higiene mais adequadas."



Às vezes ainda choro com alguns casos. Não dá para ser frio. Há alguns relatos
que emocionam


NANCY CAVALLETE DA SILVA


assistente social com 27 anos de experiência



Profissional atua também em empresas


A vontade de trabalhar com o ser humano e de contribuir de alguma forma para o
seu bem-estar foi o que motivou Rita de Cássia S. Costa Silva a seguir a
carreira de assistente social. Aos 43 anos, ela sempre trabalhou em empresas.


"Em uma companhia privada há quatro pontos de atuação", explica Rita, que é
contratada da empresa metalúrgica alemã ThyssenKrupp.


O primeiro se refere ao programa de assistência aos funcionários. "Eles nos
procuram se estão com algum problema familiar ou dificuldade financeira, por
exemplo." O segundo é a coordenação da política de benefícios oferecidos pela
empresa, como convênio médico e cestas básicas.


O terceiro está relacionado à gestão de programas ligados à qualidade de vida
dos empregados, como atividades de recreação e atendimento e palestras sobre
dependência química. "O assistente é também um educador social", diz Rita.



Responsabilidade social


O último ponto é a área de responsabilidade social da empresa, que investe em
programas voltados para a comunidade da região, como o patrocínio de uma
biblioteca no bairro.


Um outro tipo de assistência prestada é no caso de afastamento de um funcionário
por motivo de saúde. "É praxe ligar para a família perguntando se precisa de
alguma coisa. Também visito a pessoa no hospital e vou até a residência para dar
apoio."


Independentemente do local de trabalho -setor público ou em empresa privada-, o
perfil do assistente social é o daquela pessoa que gosta de lidar com o público
e sabe trabalhar em equipe, pois há uma interação com profissionais de outras
áreas, como psicólogos e médicos.


"E, acima de tudo, a pessoa deve ter também um bom astral. Claro que, como todo
mundo, nós temos problemas pessoais, mas é preciso conseguir separar bem isso
para tentar ajudar ainda mais os outros", ensina.


O
assistente é também um educador social. Nos procuram se estão com algum problema
familiar ou dificuldade financeira}


RITA DE CÁSSIA S. COSTA SILVA


assistente social que trabalha em empresa privada


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