Revista
Isto É, MEDICINA
& BEM-ESTAR,

N° Edição:  2278 |
 12.Jul.13
– 20:40 |  Atualizado em 16.Jul.13 – 21:23

Bebês com
selo de garantia

Embriões
começam
a ser submetidos ao mais amplo teste genético
disponível. O método chegará em
breve ao País e permite que sejam escolhidos os
bebês com menor risco para
doenças

Mônica
Tarantino

Como
40% dos casais que fazem tratamentos de infertilidade, a americana
Marybeth
Scheidts, 36 anos, e o marido, David Levy, 41, estavam prestes a entrar
em mais
um ano de tentativas de engravidar, com medicamentos e
técnicas de medicina
reprodutiva. Faltava pouco para desistirem. Foi então que o
médico do casal, o
especialista em reprodução humana Michael
Glassner, da Filadélfia, nos Estados
Unidos, propôs algo jamais tentado: submeter os
embriões gerados no laboratório
com as células reprodutivas de ambos ao mais novo e amplo
teste de
sequenciamento genético existente. “O objetivo era
selecionar o embrião mais
saudável e com maiores chances de levar a uma
gravidez”, disse Glassner à
ISTOÉ. Deu certo. De 13 embriões, foram
selecionados três e, desses, um foi
escolhido para ser implantado no útero de Marybeth. Em maio,
ela deu à luz
Connor Levy. Outro casal americano que participou desse estudo aguarda
o
nascimento do filho para o próximo mês. O
anúncio dos nascimentos foi feito na
última semana, na Inglaterra, durante o encontro da
Sociedade Europeia de
Reprodução Humana e Embriologia.

SUCESSO

Connor
foi o primeiro do mundo
a passar por uma parte do teste. O geneticista Ciro diz que o recurso
pode
baratear o tratamento

O
exame usado pelos pesquisadores, o NGS, sigla do nome em
inglês Next Generation
Sequencing, permite checar anormalidades no número de
cromossomos (estruturas
que guardam os genes), identificando partes que faltam ou sobram.
Também tem
potencial para apontar, simultaneamente, mutações
em genes e variações em uma
região do código genético que
é herdada exclusivamente da mãe, chamada de DNA
mitocondrial – no caso de Connor e da outra
criança, foram feitas apenas
análises dos cromossomos. “Ele propicia a
investigação de 300 genes associados
a 700 doenças. O teste irá reduzir o
número de crianças nascidas com severas
anormalidades”, disse à ISTOÉ o
cientista Dagan Wells, da Universidade de
Oxford, no Reino Unido, responsável pelas
análises genéticas. Hoje, o teste
mais usado – o CGH – rastreia cerca de 100
enfermidades.

O
novo teste inaugura a possibilidade de ler todo o DNA dos
embriões antes que
sejam implantados a um custo mais baixo e sem a necessidade de exames
específicos para cada doença.
“Evidentemente isso deve ser precedido por
sessões de aconselhamento genético do casal para
planejar o rastreamento e
evitar exageros”, diz o médico geneticista Ciro
Martinhago, doutor em medicina
reprodutiva e diretor do laboratório de análises
genéticas Chromossome, em São
Paulo.

No
que se refere ao sucesso dos tratamentos de infertilidade, os
pesquisadores
comprovaram a eficiência da nova metodologia. “O
uso de testes mais precisos
para selecionar os melhores embriões aumenta a taxa de
nascimentos em cerca de
50% e reduz o índice de abortos na mesma
proporção”, comemora Glassner. Outro
avanço destacado por ele é o fato de ter
conseguido a gravidez com um único
embrião, prevenindo as gestações
múltiplas resultantes da transferência de dois
ou mais embriões. Também diminui o
número de tentativas. 

Haverá
ainda economia. O CGH, por exemplo, menos abrangente, custa cerca de R$
1,8 mil
por embrião. “O NGS deve custar um pouco menos da
metade”, diz o geneticista
Martinhago. A partir de setembro, o brasileiro oferecerá o
recurso em sua
clínica. Outro exame que estará
disponível no Brasil este ano é o SNP
microarray. Ele procura alterações em cerca de um
milhão de regiões do DNA,
enquanto o CGH consegue ler dez mil regiões.
“Também indica se os cromossomos
duplicados vêm do pai ou da mãe. Dependendo da
origem, podem causar diferentes
síndromes”, diz o geneticista. Hoje, as amostras
são analisadas fora do País, o
que eleva o preço e restringe o acesso.



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