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UOL EDUCAÇÃO – 15/03/2017 – SÃO PAULO, SP

Ciências do Consumo

POR WANJA BORGES

Até pouco tempo, as
pessoas interessadas em estudar a sociedade e a cultura do consumo tinham que
recorrer a cursos de pós-graduação. Essa realidade mudou no segundo semestre de
2015, quando a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo
lançou uma graduação em Ciências Sociais e do Consumo.

Em 2017, o segmento
ganhou reforço com o mais novo bacharelado em Ciências do Consumo da
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Considerados pioneiros e os
únicos do gênero no Brasil, os dois cursos foram criados para atender uma
demanda complexa e contemporânea do mercado por profissionais que entendam o ser
humano por trás do consumidor.

Segundo as coordenadoras
do bacharelado em Ciências do Consumo da UFRPE, Michelle Maciel e Laurileide
Silva, a ideia de criar este curso surgiu da “necessidade de um profissional que
tenha condições de analisar e compreender de forma crítica o consumo, o
funcionamento da sociedade de consumo e as relações de consumo que nela se
estabelecem, sobretudo o que diz respeito ao comportamento do consumidor, seus
direitos no campo da legislação e as demandas e necessidades individuais e
coletivas, em seus diferentes ciclos de vida e contextos socioeconômicos”.

Ministrada em oito
semestres nas duas instituições, a graduação é uma boa opção para estudantes que
se identificam com as ciências humanas e são inquietos, questionadores e
curiosos sobre o comportamento humano, o consumo e seus impactos, sejam sociais,
políticos, econômicos e/ou ambientais. O curso é focado em uma formação crítica,
ética, humanista e multidisciplinar, e não apenas técnica.

Além disso, ambos
possuem um formato inovador, por meio do qual o estudante tem autonomia para
traçar seu percurso formativo a partir dos seus interesses. Para isso, a partir
do 4º período, eles devem optar entre três eixos de conhecimento. Apesar de
serem similares na temática do consumo, as duas graduações são distintas no que
diz respeito à matriz curricular e, consequentemente, às áreas de especialização
e atuação.

Diferenças

Na ESPM, o curso foca em
uma formação mais humanista combinada à marketing, pesquisa e gestão com a maior
carga horária e quantidade de disciplinas direcionadas para a área de
psicologia, mas também alinhadas à economia. Lá, as trilhas de pesquisa são:
Investigação do Comportamento do Consumidor e Tendências de Mercado; Negócios de
Impacto Social; e Educação Cultura e Diversidade.

Já na UFRPE, a graduação
possui uma estreita relação com os Programas de Pós-Graduação em Consumo,
Cotidiano e Desenvolvimento Social (PGCDS) e Ciência e Tecnologia de Alimentos (PGCDS)
e, por isso, oferece os seguintes pilares: Desenvolvimento Humano; Alimentos,
Nutrição e Saúde; e Arte, Habitação e Vestuário.

As disciplinas
obrigatórias também apresentam distinções. Na ESPM, os estudantes contam com
aulas de cultura e sociedade, história contemporânea, marketing, psicologia,
filosofia, estatística, comunicação e linguagem, administração, ciência
política, ciência e religião, gestão de pessoas, neurociências, ética de
mercado, defesa do consumidor, economia e finanças, entre outras.

Em contrapartida, na
UFRPE, são abordados, entre outros assuntos, química orgânica, microbiologia,
sociologia, informática, educação física, gestão, representação gráfica e
comunicação visual, estatística, direito do consumidor, economia e outras
disciplinas com especificidades sobre alimentos, família e sociedade, arte e
artesanato e gênero.

Habilidades

Além de mapear
tendências/desafios e trabalhar dinâmicas sociais, os estudantes da ESPM
aprendem a compreender e até antecipar as necessidades do mercado com base na
análise crítica do funcionamento da sociedade e das relações de consumo que nela
se estabelecem e, também, no estudo e compreensão de aspectos sociais e do
comportamento humano, como direitos, necessidades, desejos, ambições, motivações
e outros fatores.

Eles saem da graduação
com um vasto conhecimento de consumo, mercado e do ambiente de negócios e
prontos para entender e interpretar a língua do mercado e compreender por que os
produtos entram e saem da moda. O envolvimento em causas sociais, ambientais e
áreas que envolvem a inclusão de minorias e a diversidade étnica, religiosa e
sexual, também é um fator característico dos profissionais deste segmento.

Já o profissional
graduado pela UFRPE é capaz de orientar sobre educação e direito do consumidor;
planejar e organizar orçamento doméstico, créditos e investimentos; desenvolver
atividades com grupos e instituições socioeducativas; e elaborar e executar
projetos e ações de assistência técnica e extensão rural.

Os estudantes também são
formados para prestar consultorias, orientar, coordenar, planejar, elaborar e
executar ações e/ou atividades, relacionadas aos conhecimentos adquiridos;
garantir a melhoria da qualidade de vida individual e coletiva; e ainda
planejar, implantar, orientar, coordenar, supervisionar e avaliar programas,
projetos e ações no campo do consumo.

Mercado

Os profissionais que
concluem o curso são diplomados como cientista social e do consumo, na ESPM, e
consumólogos ou cientistas do consumo, na UFRPE. Eles podem atuar em empresas
privadas e instituições públicas de diferentes segmentos, institutos de ensino,
pesquisa e/ou extensão, organizações não governamentais (ONGs), associações de
direito e defesa do consumidor, entre outras.

Especialistas em
sociedade, cultura do consumo e comportamento humano, os profissionais deste
segmento muitas vezes ocupam funções de administradores e/ou publicitários como,
por exemplo, sendo assessores em institutos de pesquisas ou em agências de
propaganda na área de planejamento de comunicação.

Eles também podem atuar
com pesquisas, programas, projetos e políticas públicas nas áreas de
comportamento do consumidor e consumer insight e serem empreendedores ao criar
seu próprio negócio de impacto social.

Para o coordenador do
curso de Ciências Sociais e do Consumo da ESPM, Mario Ernesto Rene Schweriner, a
graduação em Ciências do Consumo deve ter a mesma importância que o curso de
Administração nos próximos 10 ou 15 anos. “Esse segmento está crescendo muito
porque, cada vez mais, as empresas buscam profissionais que entendam de
comportamento humano. O avanço da tecnologia acaba despersonalizando o ser
humano e os relacionamentos e as humanidades são fundamentais para promover o
equilíbrio. Sempre vai haver lugar para Ciências Sociais e Psicologia”, reforça.

Salário

O fato de o curso ser
relativamente novo e também de possibilitar a atuação do profissional em
diferentes áreas, níveis e estabelecimentos comprometem a definição de médias
salariais. Por outro lado, a estimativa é que as remunerações se assemelhem às
das profissões de ciências sociais aplicadas, principalmente Administração e
Publicidade e Propaganda. Um profissional recém-formado, por exemplo, pode ser
remunerado com um salário em torno de dois ou três salários-mínimos, enquanto
gerentes e diretores podem receber o triplo.


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