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Folha de São Paulo, Ilustrada, segunda-feira, 11 de junho de 2012


FOLHATEEN


CHOQUE DE REALIDADE

A partir desta semana, o "Folhateen" inaugura
uma série de reportagens que pretendem desmistificar a profissão que você, jovem
ou adolescente, sonha em seguir

Corte & costura

Na semana da SPFW, Fernanda Yamamoto fala
sobre o que é fundamental para seguir a carreira de estilista

IURI DE CASTRO TÔRRES,
DE SÃO PAULO

"É preciso ralar muito. Fui até separadora de
botões do Alexandre Herchcovitch." A frase é da estilista Fernanda Yamamoto, 33,
um dos nomes em ascensão no disputado mercado de moda brasileiro.

Com a largada da São Paulo Fashion Week hoje, o
"Folhateen" convidou dois jovens estudantes de moda para um papo sobre o mercado
de trabalho e a profissão de estilista com Fernanda.

Ela recebeu Maria Vitória Grisi, 17, e Lavoisier
Clement, 23, em meio a croquis e provas finais dos modelos que ela desfila no
sábado, no Pavilhão da Bienal.

Ansiosa por conhecer mais de perto a proposta de
alguém que apostou no trabalho autoral e conseguiu emplacar a própria marca,
Maria Vitória logo quis saber sobre o começo da carreira de Fernanda.

A estilista contou que só foi se envolver com
moda aos 24 anos, após se formar em administração de empresas.

E deu uma lição que os garotos acharam valiosa:
"É importante ralar no começo da carreira. É muito mais transpiração do que
inspiração".

Por ralar, Fernanda quer dizer conhecer todas as
etapas do processo de criação. Antes de ser criadora, por exemplo, ela lembra
que já passou roupa, arrumou loja e costurou muito à máquina.

"Todos querem ser estilistas, mas não há espaço
suficiente e é importante saber fazer uma roupa antes de criá-la", adverte a
paulistana.

O estágio é fundamental. Antes de partir para a
marca própria, fundada há quatro anos, Fernanda trabalhou na Calvin Klein e na
Tufi Duek, em Nova York, onde estudou.

"É legal trabalhar em uma grande marca, assim
temos noção do processo como um todo, além de ter sempre pé no chão para saber o
que é possível ou não."

Maria Vitória, que estuda para ser estilista,
saiu com uma pulga atrás da orelha: "Estou pensando seriamente em mudar para
modelagem", confessou.

NEGÓCIOS

Já o interesse de Lavoisier está focado no
mercado de moda, assunto sobre o qual ele não economizou perguntas -imagem,
tecidos, parcerias, tudo entrou no radar.

Fernanda lembrou ao garoto que a moda é um
trabalho coletivo, que vai desde a ideia para uma peça até um desfile, passando
por confecção e distribuição.

"O trabalho autoral torna o produto mais caro",
explica a estilista. "Há todo um processo de pesquisa de materiais, de busca por
uma modelagem diferenciada. Fora os impostos, que encarecem tudo." Nas araras de
sua loja, na Vila Madalena, vestidos de mais de R$ 500 são comuns.

Mas nem tudo são percalços. Segundo Fernanda,
não há nada que lhe dê mais satisfação do que ver alguém na rua usando uma
criação sua.

"A profissionalização da moda no Brasil é algo
muito recente", analisa ela. "Nunca houve tantas faculdades de moda, por
exemplo."

"O Brasil ainda é um bebê, mas, finalmente, a
moda está na moda", conclui, antes de correr para os último retoques em sua
coleção.

SÃO PAULO FASHION WEEK

QUANDO de
hoje a sábado

ONDE Fundação
Bienal (Parque do Ibirapuera – av. Pedro Álvares Cabral, s/n, portão 3; tel.
0/xx/11/5576-7600)

QUANTO para
convidados

CLASSIFICAÇÃO não
informada

FICA A DICA!

Estilista Rita Wainer dá
toques preciosos sobre o mundo da moda

1. ATENÇÃO

Estude, pesquise, olhe muito para rua e tente
melhorar todos os dias

2. COMEÇO

O começo da carreira é para experimentar todas as
áreas da moda. Para mandar é importante saber fazer

3. MODELAGEM

Aprenda a costurar e modelar. Mesmo que não seja
ótimo nisso, você aprende a criar soluções sozinho

4. DESEJO

A sua função é criar desejo no consumidor. Respeite
sempre seu cliente final e se apegue aos detalhes

5. MENOS É MAIS

Nunca se ache importante demais nem se leve tão a
sério -ninguém é insubstituível e você não está salvando nenhuma vida

Glamour??? HA HA HA

Em "Cartas a um Jovem Poeta", Rainer Maria Rilke
pergunta a um escritor iniciante que se questiona sobre seu talento: "Investigue
o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos
mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado
escrever?".

A escrita é diferente do trabalho de criar coleções,
mas o jovem estilista deveria questionar sua vocação com a mesma intensidade.

A verdade é dura: o mercado está saturado de
designers. Pior: o espaço para experimentações e viagens criativas foi reduzido
a quase nada.

Aos novatos, restam pouquíssimas vagas, muito
trabalho e regras rígidas. Tem de acordar cedo, cumprir metas, trabalhar muitas
horas por dia, abrir mão de folgas e acumular funções. Glamour? Hahahahahahaha,
só rindo.

Enquanto isso, outras áreas gritam por profissionais.
Onde estão os engenheiros que vão inventar novas máquinas? E os alquimistas dos
tecidos que vão revolucionar a indústria?

Cadê os modelistas que vão transformar a roupa
brasileira em exemplo de excelência? O mercado oferece salários iniciais altos
para a carreira. Um conselho quente? Estude modelagem. Se jogue na arte que é a
base de uma roupa e saia da escola empregado, veja que maravilha!

Quer brilhar na multidão? Então tenha a coragem de
largar a boiada deslumbrada e traçar outros caminhos. Fica a dica.

POR VIVIAN WHITEMAN

Categorias: Moda

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