olha de São
Paulo, Ilustrada, domingo, 09 de março de 2008

De Gabriela a Bebel,
livro revê figurino das novelas

“Entre Tramas, Rendas e Fuxicos” revela bastidores da
costura nas produções da TV Globo

Figurinistas relatam suas experiências em 40 anos de
TV; estilistas criticam a massificação que as novelas exercem na moda brasileira

BRUNA
BITTENCOURT, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

“Eu achava que estava fazendo um drama entre duas irmãs;
na verdade, era a história de uma moça que usava uma meinha de lurex!” A frase
de Gilberto Braga sobre “Dancin” Days” (1978) dimensiona a importância do
figurino na teledramaturgia da TV Globo e na moda brasileira.

E é sobre o assunto que se debruça “Entre Tramas, Rendas
e Fuxicos – O Figurino na Teledramaturgia da TV Globo”. Em quase 400 páginas,
carregadas de fotos, o livro repassa mais de 40 anos da teledramaturgia global
sob esse prisma, em uma iniciativa da Memória Globo (núcleo que pesquisa a
história da emissora).

O livro destaca a importância do figurino na composição
de uma personagem e na construção de uma narrativa. Os figurinistas são os
grandes protagonistas do livro, recuperando seus trabalhos e suas histórias de
bastidores. Entre elas, a de que Sinhozinho Malta, personagem de Lima Duarte em
“Roque Santeiro” (1985), foi inspirado no seriado americano “Dallas”. E que para
a cena em que Dona Redonda (Wilza Carla) explode em “Saramandaia” (1976) foram
feitos seis vestidos iguais pela dificuldade da seqüência.

Nos primeiros anos, os figurinistas tinham um único
guarda-roupa geral, com três andares de roupas penduradas. Por falta de um local
adequado para guardar as peças, muitas vezes elas eram doadas.

O figurinista Carlos Haraldo Sörensen, 80, conta no
livro que havia dias em que a favela da Rocinha estava “vestida de novela”.

“Toda atriz deve ter um vestido preto. Era a primeira
coisa que eu fazia porque era só botar um colar, uma flor, um lenço, que servia
para várias cenas, incluindo enterro e casamento”, conta Sörensen no livro sobre
uma das técnicas que driblava a limitação de recursos de tempos passados.

Hoje a Globo conta com cerca de 80 funcionários em sua
fábrica de costura, que produz uma média de 1.340 peças mensais, enquanto seu
acervo conta com 200 mil itens.

“Muito da formação de moda que nós temos hoje vem do
figurino feito para a televisão”, diz o estilista Ronaldo Fraga. “Existem
trabalhos primorosos. O figurino da Emilia Duncan em “Amazônia” [minissérie de
2007] era infinitamente melhor do que o enredo”, afirma.

Moda

O livro dedica mais de 40 páginas para a influência da
tramas globais no gosto das mulheres brasileiras. Ex-dona de uma boutique, a
figurinista Marília Carneiro introduziu a moda na teledramaturgia global. É dela
o figurino de “Dancin” Days”, a grande referência entre tendências lançadas
pelas novelas, com um trabalho que dialogava com a febre disco da época.
Carneiro é categórica: “A televisão é o veículo mais importante para se ditar
moda no Brasil”.

“A novela é fundamental como informação de moda, mas
hoje não acho que a influência seja tão grande quanto foi para a minha geração”,
diz o estilista Marcelo Sommer. Assim como ele, a estilista Clô Orozco, da Huis
Clos, critica a massificação que as novelas exercem na moda brasileira.

Modismos à parte, o grande desafio para os figurinistas
hoje é alta definição, que acentua, por exemplo, o desgaste natural das roupas.
Mas, depois do advento do videoteipe e da cor na TV, a alta definição parece
apenas mais um capítulo para os figurinistas.


ENTRE
TRAMAS, RENDAS E FUXICOS


Autor:
Memória
Globo


Editora:
Globo


Quanto:
R$ 58 (400
págs.)

 

 

Categorias: Moda

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