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Folha de São Paulo, Fovest, terça-feira, 06 de fevereiro de 2007

Engenharia de materiais está em alta

No mercado, há falta do
profissional, que trabalha com a aplicação de metais e polímeros

DA REPORTAGEM LOCAL

Muito requisitada, a carreira de engenharia de materiais tem
registrado escassez de profissionais, com perspectiva de atuação em diversos
setores.

O engenheiro dessa área lida com a aplicação e o
desenvolvimento de novos materiais metálicos, poliméricos (plásticos) e
cerâmicos, entre outros.

As ofertas de trabalho são em geral nas indústrias
petroquímicas e siderúrgicas e no ramo de fabricação de embalagens.

No entanto, segundo Horacidio Leal Barbosa Filho,
diretor-executivo da Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais, existe
ainda muito espaço para crescer em outras áreas.

“Indústrias de avião, petróleo, gás, automóveis, papéis e
cerâmicas são alguns dos ramos que têm recrutado muitos profissionais. E já está
faltando engenheiro no mercado brasileiro com essa formação”, avalia Barbosa
Filho.

“O campo de atuação abrange todos os ramos da engenharia
porque os materiais são os meios com os quais os projetos de engenharia são
feitos”, afirma Francisco Ambrozio Filho, coordenador do departamento de
metalurgia e materiais do Centro Universitário da FEI.

“Há ainda a nanotecnologia e o desenvolvimento de materiais
inteligentes, com aplicações específicas, como uma embalagem com maior
resistência ao tempo e à pressão.”

Para o professor da UFSCar (Universidade Federal de São
Carlos) Nelson Guedes de Alcântara, por ter uma formação completa, o
profissional é muito requisitado. “Há um campo real de oportunidades.”

Número pequeno

O número de profissionais graduados na área é muito pequeno no
país. O Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) não
dispõe de dados específicos sobre a carreira, mas, pelas estimativas da
Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais, aproximadamente 10% dos 4.000
associados da entidade são engenheiros de materiais.

A concentração é maior em São Paulo, no Rio e em Minas, mas há
também em outros Estados, como Rio Grande do Norte, Paraná e Paraíba.

“O número de pessoas com a formação em materiais é realmente
reduzido. Por esse motivo, vários cursos de pós-graduação estão sendo criados
para suprir a falta de especialização na área”, ressalta o diretor-executivo da
associação.

Para o venezuelano Roberto Rojas, 39, os convênios firmados
entre universidades e indústrias têm ajudado a atrair o interesse dos estudantes
de engenharia para a carreira.

Há 17 anos no Brasil, ele se graduou em engenharia de
materiais com menção em cerâmica na UFSCar e depois fez mestrado na área pela
mesma instituição. Hoje, ele é responsável pelo sistema de qualidade da Cerâmica
Gyotoku, que fabrica pastilhas, pisos e revestimentos. Rojas tem que verificar
se as características das placas cerâmicas estão dentro das normas, como
tamanho, espessura, resistência e abrasão superficial (qual o desgaste da placa
com o trânsito).

Curso

Os dois primeiros anos do curso de engenharia na Escola
Politécnica da USP têm matérias básicas, como fundamentos de cálculo, álgebra e
física. A partir do quinto semestre, o estudante escolhe o tipo de engenharia e
faz as disciplinas específicas da carreira escolhida, segundo André Paulo
Tschiptschin, chefe do departamento de engenharia metalúrgica e materiais da
USP.

“Em materiais, o estudante adquire conhecimentos sobre
matérias-primas, processamento, propriedades, estrutura e aplicações”, explica.

(FERNANDA CALGARO)


Cotidiano da área inclui contato com setor de
marketing e com fornecedores

DA REPORTAGEM LOCAL

Ao abrir um pote de creme para o rosto, a mulher pode não
imaginar que o toque agradável e o brilho do frasco passaram pelo crivo do
engenheiro de materiais Romulo Zamberlan, 26. Ele é responsável pelo
desenvolvimento de embalagens de uma das linhas de cosméticos da Natura.

Formado há quatro anos pela Escola Politécnica da USP, na hora
de escolher a carreira chegou a pensar em estudar engenharia de produção, por
causa da “visão mais administrativa do negócio”. “Acabei optando pela engenharia
de materiais devido ao grau de inovação.”

Há um ano e meio na função, Zamberlan explica que cabe a ele
pôr em prática as idéias do marketing da empresa e sugerir os melhores materiais
de acordo com os aspectos técnicos.

“O grande desafio é conseguir transmitir o conceito da marca
por meio da embalagem: desde a caixa e o celofane que vai em volta dela até os
frascos e a tampa do produto.”

O engenheiro conta que procura usar produtos que reduzam o
impacto na natureza, como materiais reciclados.

Na empresa há uma pequena área para fazer pesquisas de novos
materiais, mas a rotina de trabalho de Zamberlan é tomada por reuniões com
fornecedores e a área de marketing.

“Como o curso na faculdade teve uma abordagem muito técnica,
quero fazer um MBA na área de gestão empresarial, que será muito importante no
meu dia-a-dia”, diz.

Na sua opinião, o potencial de crescimento da carreira é muito
promissor porque esse tipo de formação acaba sendo o diferencial de mercado.
(FC)


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