Folha de São Paulo, Ribeirão Preto, Domingo, 04 de Abril
de 2010
Faltam cursos de graduação de museólogo
DA FOLHA RIBEIRÃO
Raro no mercado, o profissional que atua em museus representa um custo
elevados para as cidades da região. No Estado, não há cursos de graduação em
museologia. De acordo com dados do Ministério da Educação, no país, somente dez
faculdades formam profissionais com essa habilitação.
"Faltam pessoas qualificadas. Toda cidade luta para ter um museu, mas não
sabe depois fazer a manutenção, não sabe a forma de organizar o acervo. Não é
abrir uma porta e ter peças, é preciso ter pessoas para a parte técnica", disse
o diretor de Cultura de Franca, Sérgio Menezes.
Além dos museus da cidade, Menezes é responsável pela Coordenadoria
Regional do Polo de Museus, ligada ao Sisem (Sistema Estadual de Museus), e
abrange 42 municípios.
"Aos poucos, estamos fazendo oficinas de capacitação em diversas áreas para
formar mão de obra."
Para a museóloga do Museu de Portinari em Brodoswki, Angélica Fabri, a
formação de pessoas por meio de cursos e oficinas é uma boa alternativa.
"Há uma tendência de profissionalizar os museus. Às vezes, não se consegue
manter a equipe totalmente interdisciplinar, mas você pode fazer esse
intercâmbio."
Universidades têm museus para
público interno e externo
DA FOLHA RIBEIRÃO
Para mostrar aos alunos a história do curso ou mesmo promover ações de educação
para a comunidade, as universidades também têm seus museus. Na região, pelos
menos três universidade públicas mantêm esses espaços.
Em
uma sala dentro do campus, a USP de São Carlos mantém um acervo com 220 peças
que compõem o Museu de Computação Professor Odelar Leite Linhares. "Temos desde
instrumentos de cálculo numérico, máquinas de somar, até computadores, como o
primeiro notebook", explica a secretária do local, Marília Finasi de Andrade
Marino.
O
local não tem muita visitação porque fica dentro do instituto e precisa de uma
estrutura melhor. "Recebemos escolas com visita agendada para mostrar a evolução
dessa área, que é bem rápida", disse.
A
Federal de São Carlos mantém um museu de história natural. "É mais uma coleção
do que um museu, porque está dentro do Debe (Departamento de Ecologia e Biologia
Evolutiva)", explica o professor responsável pelo acervo, Marcelo Adornas
Fernandes.
Também fora dos moldes tradicionais, a Unesp de Araraquara mantém o Centro de
Ciências, fora do campus.
Museus da região lutam pela
sobrevivência
Maioria dos espaços é carente de
investimentos e de políticas de apoio e, mesmo sem cobrar ingresso, recebe pouca
visita
Museólogos afirma que é necessário
dinamizar, apostar na interatividade e produzir conhecimento para conseguir
atrair mais público
DA FOLHA RIBEIRÃO
Carentes de investimento e sem políticas de apoio, os museus da região de
Ribeirão Preto lutam para se manter abertos. De acordo com levantamento do
Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), na região existem 50 instituições
distribuídas em 27 cidades.
Embora quase a totalidade dos museus ofereça entrada gratuita, os principais
visitantes são alunos em excursões escolares. De acordo com museólogos, é
preciso dinamizar o espaço para atrair o público.
Para o coordenador do Ibram, Mário de Souza Chagas, o museu deve atender a três
funções: preservação, pesquisa e comunicação. "Não basta preservar. Precisa ter
um desejo de comunicar e, para isso, é necessário produzir conhecimento."
Chagas afirma que há museus em diferentes estágios no país, sendo alto o número
de unidades em condições precárias. "A maioria surgiu em condições inadequadas,
sem noções de conservação, parte de exposição mal resolvida, entre outras
dificuldades."
Na
região, um exemplo de persistência é o Museu Histórico de Jaboticabal, criado há
30 anos. O aposentado Dorival Martins de Andrade é o coordenador do local. "É um
trabalho paciente, de fazer levantamento, catalogar, mas é a preservação da
nossa história e eu sempre gostei dessa área."
O
prédio é da década de 1920 e enfrenta problemas de infiltração. "Quero tentar
eliminar isso neste ano, porque a umidade é prejudicial. Além disso, é preciso
ver também a questão de luminosidade e segurança", diz Andrade.
Em
Ribeirão Preto, a dificuldade do MIS (Museu da Imagem e do Som) em relação ao
espaço é outra: sem local próprio, o acervo está encaixotado. "Estamos
aguardando a recuperação do prédio da Cianê para fazer a transferência para lá.
Provisoriamente, o acervo está embalado na Secretaria da Cultura", disse a chefe
da Divisão do Patrimônio Cultural, Lilian Rodrigues de Oliveira Rosa.
Além do entrave nas questões estruturais, Lilian afirma que é preciso repensar
os museus antes de aplicar os recursos. "Precisamos pensar com profissionais da
área e também da sociedade civil como tornar o espaço interativo e não apenas
motivo de curiosidade. É preciso ter ações educativas e de pesquisa nesses
espaços."
Entre os problemas para reestruturar os museus está a escassez de profissionais
com qualificação na área.
40 anos
O
Museu de Portinari, que acaba de comemorar 40 anos de fundação, tem investido em
ações educativas para a comunidade e nas escolas visando aumentar a visitação às
obras em Brodowski.
"A
família brasileira não visita museus, não é hábito. É preciso cultivar o
interesse. O desafio é buscar o público e mostrar a importância de se ter esse
espaço", disse a museóloga Angélica Fabbri.
Já
o Museu do Calçado, criado em 2001 em Franca, fechou as portas no mês passado. O
local, mantido pela Unifran, tinha calçados do papa João Paulo 2º e do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre as cerca de 3.000 peças de seu
acervo.
(LÍGIA SOTRATTI)
CAJURU: CIDADE
DEVE GANHAR MEMORIAL CRIADO POR MORADORA
Fotos dos
primeiros moradores, cartas de voluntários da Revolução de 32, histórias que
resgatam o passado de Cajuru. A moradora Maria do Carmo Pereira Arena, 66, reúne
um acervo para abrir neste ano o Memorial de Cajuru José Mariano Arena, nome em
homenagem a seu pai. "Sempre gostei de conhecer a história, é algo que meu pai
plantou em mim." Maria já consultou museólogos e pensou o projeto. O futuro
museu deve ficar na antiga estação ferroviária da Mogiana.
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