O Estado de São Paulo Domingo, 3 junho de 2007

FEMININO



Figurinos em cena



Logo que se popularizou, nos anos 30, o cinema encontrou-se com a moda. E
assim viveram felizes para sempre

Mariana Abreu Sodré e Nathalia Birkholz

Já na infância, as mulheres são
apresentadas a Cinderela, e se encantam com a história da pobre gata
borralheira que se torna princesa. As roupas maltrapilhas da personagem,
antes do aparecimento da fada madrinha, acentuavam a infelicidade da
mocinha, que só teve fim quando ela ganhou um belo vestido rodado, como o
das princesas. A realização de Cinderela começou com a mudança de visual,
antes mesmo da dança com o príncipe. Isso sem falar no sapatinho de cristal.
Será que o príncipe buscaria a dona de um chinelo gasto? Provavelmente não.
Figurino é isso: a tradução de uma personalidade. Tem o poder da linguagem
e, por isso, é fundamental em contos, novelas e filmes.

Prova disso foi a afirmação feita por
Meryl Streep, protagonista do filme O Diabo Veste Prada, quando recebeu seu
Globo de Ouro por melhor atriz. De cima do palco, ela homenageou a
figurinista do longa, Patrícia Field (que também assina o visual das garotas
de Sex and the City), dizendo que a profissional merecia a estatueta da
categoria “efeitos especiais” pelo trabalho realizado no filme. Meryl, na
pele de Miranda, era o diabo que vestia Prada e outras grifes bacanas.
Enquanto sua assistente Andrea, interpretada por Anne Hathaway, fazia as
vezes de uma Cinderela moderna, que trocou a suposta saia da avó por um
guarda-roupa jovem, repleto de peças da Chanel, por Karl Lagerfeld.

Mas Anne não foi a primeira atriz que
teve o prazer de usar Chanel nos sets de filmagem (e quem sabe na vida
real). Na década de 30, a marca já estava na telona. Coco Chanel recebeu US$
1 milhão para desenvolver as vestes de três longas dos estúdios MGM, entre
os quais, A Regra do Jogo, de Jean Renoir (1939). Mas foi o estilista Hubert
de Givenchy quem levou a melhor no filão cinematográfico, produzindo oito
longas, em seis deles vestindo sua bonequinha de luxo Audrey Hepburn.

ADRIAN E O FAST-FASHION

Menos conhecido e bastante importante
foi o norte-americano Adrian, queridinho das personagens de Greta Garbo, e
famoso por criar trajes de gala. Foi ele quem vestiu o elenco de filmes como
O Mágico de Oz (1939) e Redimida (1932), no qual o vestido branco de organza
– usado pela atriz Joan Crawford – virou objeto de desejo das mulheres, e no
melhor estilo fast-fashion acabou nas prateleiras da loja Macy’s por US$ 20
– cinqüenta mil réplicas foram vendidas em menos de um mês.

Além desse feito, Adrian criou os looks
da primeira montagem de Maria Antonieta, dirigida por W.S. Van Dyke, com
roteiro de F. Scott Fitzgerald. Na época, a atriz Norma Shearer era a
protagonista, recentemente vivida por Kirsten Dunst no remake moderno de
Sofia Copolla com indumentária de Milena Canonero. O mix de babados e ancas
vitorianos, com toques contemporâneos, é um dos atrativos do longa de 2006.
Assim como a estética dos “drugues” (como são chamados os companheiros do
protagonista) de Laranja Mecânica (também assinados por Milena Canonero) se
destacam desde 1971.

Em busca de mais referências sinérgicas
entre o cinema e a moda, o Feminino perguntou a alguns dos maiores fashion
experts quais são os filmes imperdíveis para quem gosta de moda. Confira os
três filmes eleitos por Lilian Pacce, Giovanni Frasson, Chiara Gadaleta,
Érika Palomino e Costanza Pascolato, como os mais representativos no
casamento moda e cinema.

Agradecimento: 2001 Vídeo


Fashionistas opinam

Lilian
Pacce, editora e consultora de moda e apresentadora do GNT Fashion

Bonequinha
de Luxo (Breakfast at Tiffany’s) (1961):

“O figurino do costureiro Hubert de Givenchy fez com que a atriz Audrey
Hepburn se tornasse a eterna bonequinha de luxo do cinema, com sua elegância
discreta, chapeuzinho, luvas e carteira – e o ótimo pretinho básico com o
qual ela contempla a vitrine da famosa joalheria de Nova York, que dá nome
ao filme no título original.”

Dolls, de
Takeshi Kitano (2002):
“Um filme de
trágicas histórias de amor, reforçadas pelo preciso figurino do estilista
japonês Yohji Yamamoto, que caracteriza os personagens com alma e estilo: da
roqueira, que é um ícone pop, ao casal que perambula amarrado um ao outro.”

Maria
Antonieta (2006):
“No século 18 ou
hoje, o filme mostra como a moda pode ser usada para expressar
comportamentos e ideais, repressão e rebeldia. O figurino mescla, com toda
naturalidade, ícones da época e de hoje. “

Giovanni
Frasson, editor de moda da Vogue Brasil

Blow Up
(1966):
“É uma das primeiras tramas no
mundo da moda.”

Bonequinha
de Luxo (Breakfast at Tiffany’s) (1961):

“Foi um marco na década de 60, com imagens de moda que até hoje alimentam o
universo fashion.”

Blade
Runner, o Caçador de Andróides (1982):

“Foi o filme que marcou o futurismo dos anos 80, que é referência até hoje.”

Chiara
Gadaleta, designer, consultora de moda e stylist

Memórias
de uma Gueixa (Memoirs of a Geisha) (2005):

“Possui uma referência de moda mais absurda do que a outra. Um espetáculo é
a cena da dança dos leques, com as gueixas lindíssimas, vestindo quimonos
extraordinários.”

Último
Tango em Paris (Last Tango in Paris) (1972):

“Adoro aquela cena em que ela (a atriz Maria Schneider) chega ao apartamento
para encontrar o Marlon Brando e veste um mantô com gola de pele, botas e um
chapéu, o look é lindo.”

Quem é
você Polly Magoo? (Qui êtes vous Polly Magoo?) (1966):

“Eu adoro a estética toda do célebre filme do Willian Klein. A cena que
marcou é uma das primeiras, a do desfile naquele lugar absurdo, com todas as
modelos descendo as escadas em caracol e tudo muito sixties.”

Costanza
Pascolato, consultora de moda e etiqueta

Quem é
você Polly Magoo? (Qui êtes vous Polly Magoo?) (1966):

“Vivi esta época. O filme tem tudo sobre os anos 60 e sobre a revolução da
moda futurista de nomes como Andre Courréges. Esta foi a única época que o
futuro serviu de base para a invenção de modas. Até essa década, o mundo era
adulto. O jovem começou a existir a partir daí, e não foi só com uma moda
voltada para eles , mas também com idéias para o futuro que foram
contempladas com interesse.”

Sabrina
(1954):
“Com a Audrey Hepburn vestida
por Hubert de Givenchy. Tem uma cena que é maravilhosa, na qual ela usa um
vestido tomara-que-caia branco de baile com o ator Willian Holden. Conheci o
Givenchy, que inclusive me levou ao mesmo dentista da Audrey. E contou que
ela foi procurá-lo em seu ateliê, pois entendeu a força da imagem. Audrey
foi esperta, e os dois se deram muito bem. Ela era chique e ele deu o grande
toque em sua imagem.”

Maria
Antonieta (2006):
“Gosto muito de
filmes de época. Ainda não assisti a este, mas já vi tanta coisa sobre o
enredo e sobre as roupas que posso dizer que o figurino é excepcional. Adoro
a Milena Canonero (a figurinista), é o tipo de mulher que entende de moda.”

Erika
Palomino, editora de moda

Maria
Antonieta (2006):
“Por motivos óbvios:
o filme é lindo, a direção de arte é incrível e a Kirsten Dunst é a menina
que todas querem ser hoje.”

2046 – Os
Segredos do Amor (2004):
“Estética
fechada e cores dramáticas. Japonismo à última potência.”

Babel
(2006):
“A caracterização dos
personagens é incrível e é muito em cima do figurino. “

 

 

Categorias: Moda

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