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O Estado de São Paulo,
Economia & Negócios, domingo, 6 de junho de 2010 7:31



Indústria têxtil procura costureiras

Importação chinesa não inibe
aquecimento da produção local e entidades calculam déficit de 250 mil
profissionais do setor

Márcia De Chiara, de O
Estado de S. Paulo  

SÃO PAULO – A indústria têxtil e da confecção
vive o melhor momento dos últimos cinco anos, apesar da invasão dos importados.
Sustentada pelo crescimento do emprego e da massa de salários que garantem o
aumento do consumo de artigos de vestuário, a produção do setor está a todo
vapor.

A cadeia têxtil e da confecção emprega 1,7
milhão de trabalhadores, mas não consegue preencher todas as vagas. Nas contas
da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), há um
déficit de costureiras qualificadas, a mão de obra básica, de 250 mil
trabalhadores.

De janeiro a abril, o saldo de empregos gerados
no setor foi de 36.161 postos de trabalho. É mais que o triplo do saldo de vagas
registrado no ano inteiro de 2009 (11.844). Surpreso com o atual desempenho,
Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit, refez as projeções para o emprego
neste ano. A expectativa inicial era de que, entre abertura e fechamento, o ano
encerrasse com 40 mil novos postos de trabalho nas tecelagens e confecções.
Agora ele projeta 60 mil. "Estou há 40 anos no setor e não me lembro de nada
parecido."

Os preparativos para a Copa, a coleção
outono/inverno e o crescimento da economia explicam o aquecimento das
confecções, diz a presidente do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco
e da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Setor Têxtil,
Vestuário, Couro e Calçados, Eunice Nunes. Ela confirma a falta de costureiras e
diz que desde os anos 90 não vê o mercado tão agitado.

Eunice observa que a escassez de costureiras
qualificadas reflete a evolução tecnológica do setor, que usa máquinas mais
sofisticadas, e o desinteresse da nova geração. "As jovens não têm atração pela
função de costureira", atesta o gerente de Tecnologia da Abit, Silvio Napoli.

O diretor comercial da confecção Ideal Work,
Antonio Augusto Rodrigues, ressalta que a atividade tem caráter depreciativo
para muitas pessoas. "A própria filha da costureira não quer ser costureira, mas
estilista", afirma o empresário, que produz uniformes para grandes companhias e
enfrenta problemas de mão de obra. A estilista é a profissional que cria a
coleção e tem uma remuneração bem superior à da costureira. Nos últimos seis
meses, o salário das costureiras subiu entre 10% e 15%, diz Rodrigues. "Nem
pagando a gente encontra os profissionais."

Para resolver o problema da falta de mão de
obra, desde a metade do ano passado a companhia, que tem 220 vagas não
preenchidas, criou uma "escolinha" interna para os próprios funcionários que
desempenhavam funções de limpeza e embalagem das peças fabricadas. A empresa
emprega 1,5 mil trabalhadores nas cinco unidades de produção espalhadas entre
São Paulo, Paraná e Minas Gerais.

Rodrigues afirma que gastou cerca de R$ 200 mil
na compra de 30 máquinas de costura para oferecer os cursos aos funcionários. "O
maior investimento é subsidiar os salários enquanto os trabalhadores são
qualificados para exercer outras funções", diz. O empresário calcula que no
início de agosto esses empregados estarão prontos para trabalhar na costura de
peças.

O problema que afeta uma grande confecção como a
Ideal Work, que produz 280 mil peças por mês, é comum também à pequena
indústria. A Guaile Brasil, que fabrica 1,2 mil peças ao mês, entre itens de
moda, praia e fitness, há seis meses tenta preencher três vagas de costureira.

Vantagens

Salvador Caetano, proprietário da Guaile,
informa que as vantagens oferecidas por outros setores industriais, como a
metalurgia, atrai os profissionais da indústria do vestuário. A saída encontrada
pela empresa para resolver por ora a falta de mão de obra, que saiba operar
diversos tipos de máquinas, foi terceirizar parte da produção.

Outra alternativa é buscar profissionais junto
às escolas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que realizam,
desde 2008, cursos gratuitos e rápidos para a formação de costureiras. Marcelo
Costa, diretor do Senai Adriano José Marchini, no bairro paulistano do Bom
Retiro, reduto das confecções, diz que muitas empresas procuram a escola para
recrutar profissionais que concluem os cursos. O índice de empregabilidade é de
100% no caso das costureiras.

Na escola do Bom Retiro, foram formados de
janeiro a março 560 trabalhadores para exercer a função de costureira. Em igual
período de 2009, fizeram o curso 425 pessoas. Costa destaca que o perfil de quem
procura qualificação gratuita é heterogêneo, vai dos 18 aos 80 anos. O requisito
para obter vaga é ser alfabetizado e estar desempregado.

Categorias: Moda

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