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Folha de São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010 


ENTREVISTA SOFIA ESTEVES 

Jovem quer se sentir valorizado e receber retornos constantes


DIRETORA DE RH DIZ QUE AMBIENTE DE TRABALHO É PRIORIDADE PARA "GERAÇÃO Y"

DE SÃO PAULO

Sofia
Esteves, 49, fundadora e presidente do Grupo DMRH, de recursos humanos, diz que
salário está em sétimo lugar na lista de prioridades dos jovens no mercado de
trabalho hoje.

Os
aspectos mais valorizados pela chamada "geração Y" -dos nascidos de 1978 ou 1980
(não há consenso entre pesquisadores) a 2000- são bom ambiente de trabalho,
possibilidade de desenvolvimento profissional e qualidade de vida.

"A
empresa tem de investir em tudo isso para reter talentos, além de ter uma boa
comunicação com os jovens", diz Esteves, uma das mais prestigiadas no mercado.

A
seguir, trechos da entrevista exclusiva à Folha:


(CAROLINA MATOS)


Encontro de gerações 

Os
gestores mais velhos, de 50 ou 60 anos, têm dificuldade de entender os
funcionários mais jovens, de 20 ou 30 anos. E, muitas vezes, rotulam esses
profissionais como a geração "I": de imaturos, insubordinados e infiéis.

Sim,
eles são mais imaturos, por causa da superproteção dos pais e também porque
chegam mais tarde ao mercado de trabalho. Mas eu costumo dizer que existem mais
"is" nessa lista.

Essa
nova geração é, por exemplo, mais inteligente que as anteriores no que diz
respeito à tecnologia, à inovação. E também em relação à liberdade que os jovens
se dão de falar o que pensam.

Nós,
que pertencemos às gerações anteriores, aprendemos a não reclamar quando estamos
infelizes.

O
comportamento menos formal de hoje é visto pelos chefes mais velhos como
desrespeitoso. Mas é tudo questão de comunicação.

Os
jovens tratam os outros como iguais. Foram educados na escola a chamar a
professora de "tia". E essa liberdade acaba sendo trazida para o ambiente de
trabalho.


Muitas vezes, o conteúdo do que o jovem critica está correto; o problema é a
forma. Quando o gestor percebe isso, não estamos mais falando de conflito, mas,
sim, de encontro de gerações.


Reter talentos 

Para
reter talentos, além de aprender a se comunicar melhor com os jovens, as
empresas têm de investir em aspectos importantes para esses funcionários.

A
nossa pesquisa Empresa dos Sonhos dos Jovens de 2010, feita com 35 mil
universitários brasileiros, mostra que, pela primeira vez em nove anos, o
salário apareceu em sétimo lugar entre as prioridades da "geração Y" no mercado.

A
primeira razão apontada para escolher determinada empresa foi o bom ambiente de
trabalho.


Depois, veio a possibilidade de desenvolvimento profissional. E, em seguida,
apareceu qualidade de vida.

Em
2008, salários e benefícios vinham em primeiro lugar na preferência dessas
pessoas. E bom ambiente de trabalho não era um item que aparecia entre os cinco
motivos mais citados.

Isso
representa uma grande mudança de prioridades.


Mais valor 

Com
os principais aspectos atendidos, 30% dos entrevistados disseram que
permaneceriam na mesma empresa por mais de 20 anos.

Cinco
anos atrás, esses 30% diziam que o tempo adequado para ficar no emprego seria
dois anos no máximo.

As
empresas têm de investir em treinamento e salários adequados para que o jovem se
sinta valorizado. E dar retorno sobre o trabalho que estão realizando e os
motivos desta ou daquela decisão.

O
raciocínio é simples: faça pelo outro o que você gostaria que fizessem por você.


Ponderação 

É
preciso que o gestor delegue responsabilidades aos jovens e os ensine a serem
mais ponderados, a refletir.

Aos
poucos, a "geração Y" vai percebendo que problemas existem em qualquer empresa e
que não adianta ficar pulando de galho em galho. A solução é enfrentar os
problemas e se apresentar como parte da solução.

Os
jovens são dispostos a aprender, ligados em novidades e se dedicam muito ao
trabalho. Basta que eles se sintam valorizados.


Escola 

A
renovação e o treinamento dos gestores para lidar com os jovens também têm
facilitado o diálogo.

O
maior problema está na escola, que, de maneira geral, ensina o aluno a ter uma
posição passiva e não está preocupada em aproximá-lo do mercado de trabalho.

RAIO-X SOFIA
ESTEVES 

IDADE 
49 anos 

FORMAÇÃO 
Graduada em psicologia com pós-graduação em gestão de
pessoas 

CARREIRA 
Fundadora e presidente do grupo DMRH. Professora da
FIA do curso de MBA em recursos humanos e professora convidada do Insper e
Fundação Dom Cabral 


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