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O Estado de São Paulo, Sábado, 8 dezembro de 2007


VIDA&

 
 



Mais próximo do mercado



Contato com profissionais e dia-a-dia da redação são diferenciais para jovens
jornalistas do Curso Estado

Marianna Aragão

Nas próximas páginas,
você poderá conferir o resultado do trabalho jornalístico de uma equipe de
talentosos profissionais. Uma bela reportagem. Mas não só. Esse caderno coroa um
período curto, mas intenso, capaz de transformar 31 jornalistas recém-formados
em verdadeiros focas, como são chamados os novatos nas redações. Por isso, é
provável que apenas eles e outros 500 profissionais que já passaram pelo Curso
Intensivo de Jornalismo Aplicado do Estado nos últimos 18 anos possam entender o
real significado desta série de reportagens.

Foram três meses de
aprendizado. Na sala da sede do Grupo Estado, os focas tiveram a oportunidade de
dissecar e de aprimorar textos com a ajuda de experientes profissionais da
escrita. Ao lado de especialistas em política, economia e filosofia, se
aprofundaram nos assuntos que cercam a atualidade. Aprenderam – às vezes de
forma dura – a lidar com os próprios erros e a trabalhar sob a pressão dos
prazos. Por fim, freqüentaram as barulhentas redações da empresa. Lá, puderam
entender como funciona um jornal, uma rádio e uma agência de notícias, fazendo
parte do seu dia-a-dia.

 

Tudo isso por um
objetivo maior: encurtar o caminho entre a faculdade e o mercado de trabalho. “O
programa está para o profissional de comunicação assim como a residência médica
para o egresso da faculdade de Medicina”, explica o jornalista Francisco
Ornellas, coordenador do curso, patrocinado neste ano por Odebrecht, Philip
Morris, Santander e Vivo. Para a maioria dos que passaram pela residência de 90
dias, essa proposta foi alcançada – pelo menos 80% deles estão atuando em
redações pelo País. Só no Grupo Estado, trabalham hoje 70 jornalistas vindos do
curso.

 

A chefe de reportagem
do caderno Metrópole do Estado, Luciana Garbin, encarou a experiência no
programa, em 1996, como a porta de entrada para o mercado. “Meu foco sempre foi
trabalhar em um grande jornal. Vi no curso a chance de alcançar esse objetivo”,
conta a paulistana de 32 anos. Depois de um ano no exterior, logo após o
treinamento, Luciana deu início à sua carreira no grupo, que já dura 11 anos.
Cobriu de rebelião em penitenciária a desfile de moda e hoje, como chefe de
reportagem, recepciona outros focas na editoria. “Todos vêm com muito pique,
como todo iniciante deve ser.”

 

Entusiasmo não faltou
à repórter Liège Albuquerque, de 37 anos. Natural do Acre, em 1992 ela deixou
família e amigos no Norte do País e apostou no curso para encontrar seu espaço
na concorrida São Paulo. Passou nove anos na cidade, trabalhando em veículos
como Veja, Folha de S.Paulo, Gazeta Mercantil e Estado, e outros dois no Rio e
em Brasília. Hoje, Liège é correspondente em Manaus do Grupo Estado. Para ela,
mais que servir de passaporte para o mercado, o curso trouxe outras lições.
“Aprendi a ter cuidado com o texto, pude vivenciar a prática jornalística e
desenvolvi networking.”

 

Assim como Liège, boa
parte dos jornalistas que completa o curso vem de outros Estados. Neste ano, há
gente do Acre, Brasília, Espírito Santo, Minas, Paraná, Rio, Rio Grande do Sul e
Santa Catarina, além de paulistas – a maioria da capital. Como ocorreu em anos
passados, há uma estudante estrangeira no grupo, desta vez de Portugal.

 

Para a paulista de
Jundiaí Marcela Buscato, de 24 anos, foca em 2006, essa composição é um dos
diferenciais do programa. “Foi interessante conviver com colegas que atuam ou
atuaram em outros mercados e, claro, ampliar a rede de relacionamentos”, diz
Marcela, repórter de Ciências da revista Época.

 

Após deixar para trás
2.247 candidatos e atravessar três longos meses de trabalho e estudo, os 31
focas deste ano estão prontos para um próximo desafio. “O histórico e a
credibilidade do programa dão uma chancela que pode me abrir portas”, diz o
acreano Iago da Silva Bolívar, de 29 anos. Depois de concluir a faculdade e
trabalhar em quatro jornais no interior do Rio, Felipe Cruz, de 23, acredita que
está mais próximo dos objetivos que traçou para sua carreira. “Foi um grande
salto.”

 

Além deste caderno,
outra característica do programa poderá mostrar ao mercado um pouco do potencial
de Iago, Felipe e dos outros 29 jovens jornalistas. É o Banco Estado de Talentos
(www.estadao.com.br), que oferece na internet o currículo e o perfil de cada um
dos formados. O site fica disponível para as empresas interessadas, durante todo
o ano seguinte ao curso.

 

Marianna Aragão, repórter da editoria de Economia & Negócios
do Estado, fez o Curso em 2006


Conteúdo, a revolução que falta

Carlos Alberto Di Franco

Focas
amestrados, armados de afiadas garras investigativas, estão prestes a encarar o
mercado de trabalho. A eles dirijo estes breves recados e o meu abraço mais
afetuoso.

 

Para
quem acredita que o sucesso das empresas de comunicação depende de sua
capacidade de dar ao público o que ele quer (ou imagina que quer), proponho uma
reflexão: quem só vai atrás de supostas demandas do mercado pode conseguir
sucesso imediato, mas corre o risco de perder prestígio a longo prazo. No setor
da informação, a empresa que mais se fortalece é aquela que tem a coragem de
mudar, mas, ao mesmo tempo, crê em alguma coisa, tem uma mensagem para
transmitir. O verdadeiro crescimento sustentado rejeita o imediatismo do
vale-tudo mercadológico.

 

A
fórmula de um bom jornal se resume a uma equilibrada combinação de mudança e
coerência. Os jornais, sobretudo os que têm história e um patrimônio ético a
preservar, não podem atirar-se em aventuras inconseqüentes. As mudanças,
contínuas e necessárias, não devem alterar o DNA do produto, não podem arranhar
sua identidade editorial. Mas, ao mesmo tempo, não há nada de mais pernicioso
que a teimosia dos comportamentos imobilistas. É preciso – e é aí que reside a
dificuldade – conquistar novos leitores sem perder a fidelidade dos antigos. A
empreitada, fascinante, pressupõe a decisão estratégica de travar uma verdadeira
revolução nos conteúdos. A reinvenção do jornalismo pede a ousadia do
revolucionário e o realismo pragmático de quem sabe que o sucesso de uma
publicação depende de sua fina sintonia com as verdadeiras (não as aparentes ou
supostas) necessidades do mercado. O jornal de prestígio é o resultado da
sinergia entre as políticas editoriais e as possibilidades do negócio.

 

Os
recursos humanos são as peças-chave das empresas informativas modernas; daí o
forte empenho do Grupo Estado em seu Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado. O
principal fator de diferenciação é a qualificação das pessoas que fazem o
produto. A diferença entre dois jornais, duas revistas, duas TVs não é o suporte
tecnológico, mas o talento e a competência dos seus quadros. Por trás do sucesso
de veículos como The Wall Street Journal, The New York Times e Financial Times
existem anos e anos de investimentos em formação de pessoas. O tempo e o
dinheiro gastos em atrair, formar e aperfeiçoar os melhores profissionais são um
investimento extremamente rentável.

 

Uma
outra questão, com a qual tenho certeza os alunos do Curso Estado de Jornalismo
entraram em contato durante o programa, é a necessidade da revalorização da
reportagem e da informação local. Autor do mais famoso livro sobre a história do
The New York Times, Gay Talese põe o dedo na chaga da crescente ausência de boas
reportagens. “Não fazemos matéria direito, porque a reportagem se tornou muito
tática, confiando em e-mail, telefones, gravações. Não é cara a cara. Quando eu
era repórter, nunca usava telefone. Queria ver o rosto das pessoas. (…) Não se
anda na rua, não se pega o metrô ou um ônibus, um avião, não se vê, cara a cara,
a pessoa com quem se está conversando”, lamenta Talese. Tem razão. Os jornais de
maior sucesso são aqueles que decidiram retomar os investimentos na reportagem
de qualidade.

 

Por
outro lado, a globalização, argumento utilizado para justificar certo descaso
com a informação local, está produzindo, na prática, um fenômeno curioso: quando
tudo parece ser transnacional, o local ganha sabor e importância. O leitor quer
saber o que acontece na sua cidade, no seu bairro, no seu quarteirão. O
consumidor quer saber em que medida o global pode afetar o seu dia-a-dia e o seu
bolso. E é isso o que os leitores esperam de nós.

 

O que
vai agregar estavelmente novos leitores não é a concessão acrítica aos aparentes
apelos do mercado. O que vai atrair novas audiências é uma ágil e moderna
prestação de serviços, é a informação que não traz o gosto requentado do
telejornal da véspera, é a matéria que ultrapassa a superficialidade, é a pauta
ousada e criativa.

 

Me
recordo agora de um amigo gozador: costuma dizer-me que a expressão “jornalismo
de qualidade” é contraditória em si mesma. Outro dia, quis exemplificar-me essa
sua opinião. “Veja – dizia – boa parte do noticiário de política não tem
informação. Está dominado pela fofoca e pelo espetáculo. Não tem o menor
interesse para os leitores. Não resolve nada, não questiona nada, não melhora a
vida das pessoas.” O desinteresse crescente dos leitores pelas páginas de
política, mesmo em período eleitoral, está em relação direta com o excesso de
aspas, a falta de apuração e a substituição de matéria jornalística por
transcrição rotineira de fitas.

 

As
redações, meus caros focas da turma de 2007, esperam ansiosas pela chegada de
vocês, pelo oxigênio da sua juventude e pela certeza da sua competência. Sejam
felizes.

 

* Carlos Alberto Di Franco é professor de Ética do Curso
Estado de Jornalismo.

Categorias: Jornalismo

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