Foram cinco anos tentando uma
vaga no curso de medicina. A cada não no vestibular, Aline Scarponi, de 23
anos, se sentia ainda mais cansada. Já no auge do estresse, recebeu o
seguinte conselho do pai: “Vá se distrair no jornalismo”. A jovem acatou o
pedido, mas descobriu que a profissão está longe de ser uma distração. “É
paixão, garra, prática e ética. É conhecer o poder e o perigo das palavras e
responder por elas. É se dedicar em apurações, respeitando fontes e público.
Ser jornalista não é para qualquer um, tem que estar preparado para isso”,
define a estudante, que, no próximo semestre, ingressa no 4º período de
jornalismo na PUC Minas e sonha em ser repórter de TV. A definição de Aline
foi, ontem, a reflexão de milhares de estudantes e profissionais do meio que
tiveram que engolir a decisão do Supremo. Por ano, uma média de 27 mil
jornalistas se formam no país. Em 2011, será Aline. “Já contratamos o
cerimonial, que custou R$ 7 mil, vamos vender rifas e brindes. É um
investimento de alto custo, pago mensalidade de R$ 835. O nosso diploma é a
garantia de que nada foi em
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vão.” A não exigência do canudo
foi ontem a notícia que os futuros jornalistas não gostariam de ter
recebido. Nas salas de aula e entre eles a discussão girou sobre as
previsões para aqueles que ainda vão se formar. Flávia Moraes Moreira, de
20, que está no 5º período de jornalismo da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), diz temer uma imprensa feita por profissionais que não
tiveram aulas teóricas e práticas. “Não acredito que as grandes mídias darão
preferência para os não formados. É preciso qualidade da informação”.
A qualidade a que Flávia se
refere será, segundo a coordenadora do curso de jornalismo do Centro
Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH), Lorena Párcia, o diferencial das
faculdades. “As universidades terão que focar ainda mais em formar
jornalistas mais qualificados”, diz, ressaltando que, mesmo que a decisão do
STF tenha tido impacto na classe, a mudança não afetará a escolha dos
estudantes. “O curso de publicidade e propaganda não é regulamentado,
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no entanto, é um dos mais
procurados do Uni. Pode ser que um estudante que esteja na dúvida para o
vestibular entre direito e jornalismo, por exemplo, opte pelo primeiro. Mas
aquele que sempre quis ser jornalista não vai desistir”, afirma.
GANHO No entanto, como rege a
regra jornalística, em um fato há sempre dois lados. O professor de
jornalismo da UFMG Bruno Souza Leal é quem aponta um lado positivo nessa
história. “Estamos vivendo um novo tempo para a profissão. Hoje, um
jornalista deve ser capaz de, dentro da mesma empresa, saber escrever para o
impresso, rádio, internet e TV. É a chamada convergência de mídias. Dentro
desse contexto e diante da decisão do STF, as faculdades terão que investir
em novas grades curriculares, que aprofundem o conhecimento desses jovens.
Assim, os cursos perdem a dimensão técnica e passam a investir no lado mais
humano do aluno. E isso será o grande ganho para a classe e um diferencial,
pois aquele que não é formado não terá essa qualificação”, aposta. (LE e IF)
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