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> Estado de
Minas, 19/06/2009 – Belo Horizonte MG


Ministro quer
lei para diploma

Nova
legislação, aprovada pelo Congresso, poderia restituir a exigência de
formação superior para o exercício da profissão. Decisão do Supremo
repercute mal nas escolas

Ingrid
Furtado e Luciane Evans


Um dia depois de o Supremo
Tribunal Federal (STF) abolir a exigência do diploma para o exercício da
profissão de jornalista, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, defende
que o Congresso aprove lei que exija o curso superior para exercer o
jornalismo. Segundo ele, basta que um parlamentar tome a iniciativa para que
a questão comece a ser discutida. Costa afirma que, como há muitos
questionamentos sobre o tema, a Casa precisa entrar no debate. "O Supremo
decide apenas se a questão é inconstitucional ou não. Mas acredito que o
Congresso é o fórum ideal para discutir o assunto e não a Justiça. Vale a
pena encontrar um caminho para oficializar a importância do diploma”,
observou. No entanto, há correntes que afirmam que a decisão é irreversível.
Para o advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli, será preciso
“muita criatividade” para mudar a situação.

 


O ministro reforça que o
jornalismo trata de assuntos sensíveis e que, em função disso, pode ser
comparado a outras profissões que têm grande necessidade do diploma. “Eu me
formei nas redações de jornais e por isso mesmo acredito que o ambiente
acadêmico é fundamental. Antigamente, aprendíamos tudo nas redações, pois
não havia faculdades. Mas a 


situação hoje é completamente
diferente. A pressão é muito maior. O jornalismo é mais sofisticado e, por
isso, exige uma formação apropriada”, diz Costa. Ele sugere que,
inicialmente, sejam feitas audiências públicas com a participação da
categoria, deputados e senadores com o objetivo de estruturar uma lei que
regulamente a profissão.

Costa disse ainda não ter
considerado um deboche a declaração do presidente do STF, Gilmar Mendes, que
comparou a profissão de jornalista com a de um cozinheiro. "Não acho que ele
quis debochar. Mas é uma comparação infeliz”, completou. AÇÕES Sem a
obrigatoriedade do diploma para o profissional de imprensa, a Federação
Nacional dos Jornalistas (Fenaj) vai interpelar o Ministério do Trabalho
sobre os critérios necessários para exercer a profissão. A federação marcou
também uma reunião no mês que vem, em São Paulo, com representantes de todos
os sindicatos da categoria para discutir estratégias para tentar anular a
decisão do Supremo.

 


Para o presidente da Fenaj,
Sérgio Murilo de Andrade, a determinação do STF é irresponsável. “É natural
que quando uma categoria perde a identidade, como ocorreu, ela fique mais
fragilizada e, por isso, é mais fácil 


que as condições trabalhistas
conquistadas ao  longo de 40 anos sejam ignoradas. A decisão significa que
uma pessoa analfabeta pode também ser jornalista. Isso é um absurdo”, afirma
Andrade. Ele defende a necessidade de criar um conselho federal que organize
e mobilize a categoria. “Há teorias e ética específicas sobre o jornalismo
que não se aprendem da noite para o dia”, defende o jornalista.
Especialistas no mercado de trabalho estão divididos quanto à decisão do
supremo mas afirmam que mudanças mais drasticas vão ocorrer somente a médio
e a longo prazo. Para o técnico da pesquisa de emprego e desemprego da
Fundação João Pinheiro, Plínio de Campos Souza, a não exigência do diploma
significa aumento da concorrência. “Obviamente, vai ocorrer a elevação dos
possíveis concorrentes para uma vaga de jornalista, pois a falta de
regulamentação significa a perda de reserva de mercado. Mas ainda é difícil
prever o impacto dessa medida”, afirma o pesquisador. Ele acredita que será
muito mais difícil que um profissional de outra área consiga uma vaga como
jornalista. “Ele terá que ser muito bom mesmo, pois a cultura da necessidade
do diploma já é estabelecida no Brasil, mesmo com a negativa do Supremo. Por
isso, vai demorar para essa lógica mudar”, afirma o especialista.

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Minas, 19/06/2009 – Belo Horizonte MG


Decepção
entre estudantes


Foram cinco anos tentando uma
vaga no curso de medicina. A cada não no vestibular, Aline Scarponi, de 23
anos, se sentia ainda mais cansada. Já no auge do estresse, recebeu o
seguinte conselho do pai: “Vá se distrair no jornalismo”. A jovem acatou o
pedido, mas descobriu que a profissão está longe de ser uma distração. “É
paixão, garra, prática e ética. É conhecer o poder e o perigo das palavras e
responder por elas. É se dedicar em apurações, respeitando fontes e público.
Ser jornalista não é para qualquer um, tem que estar preparado para isso”,
define a estudante, que, no próximo semestre, ingressa no 4º período de
jornalismo na PUC Minas e sonha em ser repórter de TV. A definição de Aline
foi, ontem, a reflexão de milhares de estudantes e profissionais do meio que
tiveram que engolir a decisão do Supremo. Por ano, uma média de 27 mil
jornalistas se formam no país. Em 2011, será Aline. “Já contratamos o
cerimonial, que custou R$ 7 mil, vamos vender rifas e brindes. É um
investimento de alto custo, pago mensalidade de R$ 835. O nosso diploma é a
garantia de que nada foi em 


vão.” A não exigência do canudo
foi ontem a notícia que os futuros jornalistas não gostariam de ter
recebido. Nas salas de aula e entre eles a discussão girou sobre as
previsões para aqueles que ainda vão se formar. Flávia Moraes Moreira, de
20, que está no 5º período de jornalismo da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), diz temer uma imprensa feita por profissionais que não
tiveram aulas teóricas e práticas. “Não acredito que as grandes mídias darão
preferência para os não formados. É preciso qualidade da informação”.

 


A qualidade a que Flávia se
refere será, segundo a coordenadora do curso de jornalismo do Centro
Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH), Lorena Párcia, o diferencial das
faculdades. “As universidades terão que focar ainda mais em formar
jornalistas mais qualificados”, diz, ressaltando que, mesmo que a decisão do
STF tenha tido impacto na classe, a mudança não afetará a escolha dos
estudantes. “O curso de publicidade e propaganda não é regulamentado, 


no entanto, é um dos mais
procurados do Uni. Pode ser que um estudante que esteja na dúvida para o
vestibular entre direito e jornalismo, por exemplo, opte pelo primeiro. Mas
aquele que sempre quis ser jornalista não vai desistir”, afirma.


GANHO No entanto, como rege a
regra jornalística, em um fato há sempre dois lados. O professor de
jornalismo da UFMG Bruno Souza Leal é quem aponta um lado positivo nessa
história. “Estamos vivendo um novo tempo para a profissão. Hoje, um
jornalista deve ser capaz de, dentro da mesma empresa, saber escrever para o
impresso, rádio, internet e TV. É a chamada convergência de mídias. Dentro
desse contexto e diante da decisão do STF, as faculdades terão que investir
em novas grades curriculares, que aprofundem o conhecimento desses jovens.
Assim, os cursos perdem a dimensão técnica e passam a investir no lado mais
humano do aluno. E isso será o grande ganho para a classe e um diferencial,
pois aquele que não é formado não terá essa qualificação”, aposta. (LE e IF)

Categorias: Jornalismo

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