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Folha de São Paulo, Opinião, QUINTA-FEIRA, 29 DE AGOSTO DE 2013



MARTA SUPLICY

TENDÊNCIAS/DEBATES

Moda é cultura


Sem estilistas famosos, como Pedro Lourenço, nós
não teremos condição de projetar nossas milhares de confecções charmosas

As pessoas se expressam de diferentes maneiras e a
moda faz parte dessa forma de se mostrar.

Não é difícil, olhando a vestimenta das mulheres
do século 19, perceber seu papel na sociedade e distinguir as desigualdades nas
classes sociais. A moda traduz muito da vida e cultura da história de um povo,
assim como a gastronomia. Basta pensar na nossa culinária, na judaica e, por que
não, nos Estados Unidos e seus hambúrgueres.

A cadeia produtiva da moda é gigantesca: dos
botões aos zíperes. Das costureiras às fábricas têxteis. Das pequenas confecções
aos ateliês dos famosos. Das vendedoras aos estilistas. São milhares de pessoas
dinamizando a economia e criando empregos.

A moda também gera símbolos. Marcas que, de tão
importantes, se tornam até sinônimo da cultura do país. Atraem turistas, agregam
valor a outros produtos e se, combinadas com gastronomia, música, monumentos,
potencializam uma imagem positiva e contribuem para o "soft power" do país.

No Brasil começamos a entender recentemente esse
poder da moda. As "fashion weeks" se consolidaram graças ao esforço de alguns e
toda a cadeia produtiva se beneficia.

No Ministério da Cultura o maior instrumento de
fomento é a Lei Rouanet. Mas a moda não conseguia captar. O que faltava?
Apresentar projetos de acordo com as previsões da lei. O MinC estabeleceu quatro
critérios para aceitar projetos: promover internacionalização (impacto na imagem
Brasil), ter simbologia brasileira (mostrar raízes e tradição), formar novos
profissionais (estilistas ou na cadeia produtiva), ou ainda preservar acervos.

O primeiro a apresentar projeto com base nesses
critérios foi Pedro Lourenço, jovem estilista já com reputação para participar
da Semana da Moda em Paris.

Como ministra, chamei para mim a decisão, pela
simbologia de quebrar um paradigma na afirmação que moda é cultura; por entender
a importância da repercussão de um brasileiro estar nesse desfile (cobertura
midiática), abertura e interesse pela nossa indústria da moda e para a
construção de uma imagem de um Brasil criativo, moderno e atraente. Queremos um
Brasil que transcenda o país do Carnaval, sol e biquíni.

Pedro Lourenço é beneficiado, assim como
Herchcovitch ou Ronaldo Fraga? Certamente, pela exposição que terão. Entretanto,
sem esses criadores, e outros que agora virão (espero as estilistas que
trabalham com rendas nordestinas), nós não teremos condição de projetar nossas
milhares de confecções charmosas que, com o tempo, darão alegria a tantas
mulheres como quando hoje compram algo "francês".

Essa marca/país nasceu depois de enorme esforço da
França na promoção de seus criadores (subsídios e exposições nos principais
museus) e da genialidade de alguns deles: Dior, Chanel, Lacroix, Saint Laurent,
para citar alguns. Exposições com esses ícones "vendem" o país.

A porta está aberta. Muitos passarão, sem tanto
estardalhaço, para ampliar a marca Brasil, aumentar investimentos, exportar
nossos produtos, gerar emprego e renda para brasileiros.

Torço para que os nossos, que agora podem sair
fortalecidos pelo apoio no incentivo fiscal propiciado pela Rouanet, consigam
patrocinadores, concretizem seus sonhos, mas, mais que isso, se consagrem
símbolos de um Brasil pujante, criativo e iluminado.

Todos seremos beneficiados.

MARTA SUPLICY é
ministra da Cultura. Senadora licenciada (2011-2018), foi prefeita de São Paulo
(2001-2004) e ministra do Turismo (2007-2008)

Categorias: Moda

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