Revista Isto é, https://istoe.com.br/3936_MODA+NOS+TEMPOS+DO+POS+GUERRA/, 03/10/2007

Moda nos tempos do Pós-Guerra

Exposição retrata a
recuperação da alta-costura após a Segunda Guerra

LENA CASTELLÓN

A Europa vivia entre os escombros da Segunda Guerra
Mundial (1939-1945) quando Christian Dior lançou seu nome para o mundo.
Destruído, o velho continente atravessava um duro período de racionamento e
lutava para recuperar seu antigo prestígio. Até que o estilista abriu sua maison
e criou uma coleção que transformou os conceitos da moda, ganhando o epíteto de
new look
. Seus modelos de amplas saias com bainhas milimetricamente
medidas, ombros arredondados ressaltando o busto e cinturas bem marcadas, como
de vespa, trouxeram o luxo e a elegância para o cenário de recessão do pósguerra
e fizeram com que até as americanas desejassem ardentemente vestirse no novo
estilo determinado por Dior e adotado depois por outros costureiros, como Hubert
de Givenchy. Algumas dessas peças que despertaram sonhos estão hoje em exposição
no Victoria & Albert Museum, em Londres. Distribuídos em três halls, entre
documentos, acessórios e fotografias, estão mais de 100 vestidos desenhados por
mestres franceses e ingleses. Parte deles é de Dior. Não é à toa que a mostra –
que vai até janeiro – se chama The golden age of couture (ou a era dourada da
costura). Era assim que o estilista se referia ao momento em que reinou. A
exposição compreende criações entre 1947 e 1957, o ano da morte de Dior.



Foram dois anos para organizar a mostra, recuperando peças e remodelando
manequins para reviver o brilhantismo da maison que rompeu a austeridade dos
anos de guerra e reinventou a feminilidade
. Durante o conflito,
houve racionamento até para os tecidos, o que perdurou por um bom período mesmo
com o fim da guerra. Muitas mulheres ficaram masculinizadas, pois tinham de usar
sobras de roupas dos maridos. Foi nesse quadro que surgiu Dior. O estilista
havia trabalhado com dois costureiros quando se associou ao empresário têxtil
Marcel Boussac. O estilista pôde dar vazão à criatividade. Ele aumentou o
comprimento das saias, criou pregas e franzidos e forrou suas criações para que
as roupas ficassem armadas.

No lançamento da coleção, em fevereiro, fazia um frio
colossal em Paris. Nesse clima, jornalistas de moda se deslocavam para ver a
estréia da casa Dior. Antes de o desfile iniciar, a editora da revista Harper s
Bazaar, Carmel Snow, declarou que para compensar o dia a apresentação teria de
ser muito boa. Ao final, ela se rendeu. E chamou a coleção de new look. Nem
todos, claro, aprovaram a novidade. Houve quem considerasse
um escândalo “desperdiçar” tanto pano para se fazer um vestido.

O barulho, porém, não foi suficiente. “Mesmo nos anos mais difíceis, a mulher
tinha vontade de se vestir bem. Havia guerra, mas havia vaidade”, diz o
estilista Marco Sabino, autor do livro Dicionário da moda.

O interesse de celebridades sedimentou o sucesso do novo
visual. Meses após a estréia de Dior, atrizes do porte de Rita Hayworth e Vivien
Leigh fizeram suas encomendas, atraindo a atenção de mais consumidoras. Com as
criações dos demais estilistas o conceito se expandiu para além do continente.
“Dior foi o primeiro a capturar o desejo da Europa pós-guerra por uma moda mais
feminina e glamourosa. E ele também esteve entre os primeiros a perceber o
potencial do mercado internacional”, reforça Eleri Lynn, curadora-assistente da
exposição. Além disso, nesse período as fotografias começaram a suplantar as
ilustrações nas publicações de moda. A luz natural e a escolha de locações
excepcionais modernizaram as revistas, ajudando a popularizar a alta-costura.

 

 

Categorias: Moda

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