Folha de São Paulo, Empregos, domingo, 23 de novembro de 2008
sua carreira
Mulheres são parcela pequena na Marinha
Restrições impedem que sigam qualquer carreira da instituição
DIOGO BERCITO, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
De zero para 2.268. Foi esse o aumento no número de mulheres na Marinha do
Brasil entre 1980, data da criação do Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da
Marinha, e 2004.
A quantidade, porém, continua pouco significativa se comparada ao
contingente total -as mulheres representavam, em 2004, apenas 5,6% dos
integrantes da instituição.
As informações constam do estudo "As Mulheres nas Forças Armadas
Brasileiras: A Marinha do Brasil (1980-2008)", concluído em agosto pela
professora Maria Rosa Lombardi, da Fundação Carlos Chagas, e divulgado com
exclusividade pela Folha.
Na Marinha, algumas carreiras são restritas a homens, como as do Corpo da
Armada e do Corpo dos Fuzileiros Navais.
Além das limitações impostas pela instituição, outro fator pesa para que as
mulheres tenham pouca participação na Marinha. "Elas muitas vezes desconhecem as
possibilidades profissionais nas Forças Armadas", afirma Lombardi.
O trabalho da pesquisadora indica alguns pontos de atrito que as mulheres
enfrentam na Marinha, como o preconceito de que, devido a uma suposta
fragilidade física, não estejam aptas a desempenhar todas as suas funções
propriamente.
Uma técnica em administração que trabalha desde 2004 no 1º Distrito Naval,
no Rio de Janeiro, e que não quis se identificar, disse já ter sido alvo de
piadas que a desmereceram profissionalmente.
Ela afirma, por exemplo, que já ouviu de seus colegas que o trabalho na
Marinha é mais fácil para as mulheres devido ao fato de que elas não podem
servir em embarcações.
Barreiras
"Outra dificuldade que a mulher enfrenta nas Forças Armadas tem a ver com o
papel tradicionalmente atribuído a ela, o de mãe e de dona-de-casa", aponta
Maria Margaret Lopes, assessora técnica da SPM (Secretaria Especial de Políticas
para as Mulheres), ligada à Presidência da República.
Para Lopes, os problemas enfrentados refletem-se no tratamento e nas
oportunidades profissionais. "Em muitos casos, são mulheres qualificadas, mas
que não chegam às posições mais altas, o que mostra que há barreiras de gênero."
Tânia Richa, 51, que entrou na Marinha em 1982, foi uma das que alcançaram
uma colocação de destaque. Ela ocupa o posto de capitão-de-mar-e-guerra, patente
que apenas outras nove mulheres detinham em 2004 -os 371 restantes eram homens.
"A Marinha é como qualquer empresa, há um fluxo de carreira", aponta Richa. "As
mulheres estão chegando aos postos mais altos porque é [só] agora que estão
entrando na Marinha. Não há distinção em relação ao sexo", conclui.
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