O Estado de São Paulo, ECONOMIA & NEGÓCIOS, Domingo, 11
janeiro de 2009
Músicos correm atrás de anúncios
Publicidade vira alternativa para a queda nas vendas de Cds
Marili Ribeiro
Se antes as empresas corriam atrás
de músicos e intérpretes para atrelar suas marcas ao glamour que eles poderiam
sugerir aos consumidores – promovendo até polêmicas como quando Tom Jobim cedeu
os direitos de Águas de Março para a Coca-Cola -, agora são os próprios
artistas que buscam atrelar seus trabalhos à publicidade para garantir receita
e projetar trabalhos, inaugurando uma nova fase na contratação de trilhas
sonoras na propaganda.
Diante de um mercado em que a venda
de CDs despencou com a facilidade dos downloads pela internet, virou questão de
sobrevivência encontrar formas de garantir ganhos. Associar músicas às marcas é
um recurso cada vez mais utilizado. Cresce o número de músicos que assinam
contratos de licenciamento antes mesmo de entrar nos estúdios para gravar os
novos trabalhos.
O poder da estratégia fica bem
dimensionado em casos como o da cantora e compositora franco-israelita Yaël
Naïm. Na estrada há tempos, ela sentiu o sabor do reconhecimento global após
ter cedido a canção New Soul para o comercial de lançamento do laptop da Apple,
MacBook Air. Detalhe: no disco que abriu as portas a turnês lotadas, Yaël canta
em hebraico.
No Brasil, há experiências
semelhantes. A rainha do axé baiano, Ivete Sangalo, procurada pela Avon para
ser garota-propaganda de um perfume, condicionou sua participação à venda de
seu CD pelas revendedoras. O resultado foram mais de meio milhão de discos
vendidos.
“Quando fizemos a parceria, a
gravadora dela, a Universal Music, classificou-a como ‘ação depredatória’, com
que sempre discordei”, conta Jesus Sangalo, irmão da cantora e presidente da
Caco de Telha Entretenimento, empresa que administra os interesses de músicos
como Banda Eva e Timbalada. Para ele, a música é um produto de preço absoluto
barato, porque há farta disponibilidade no mercado. “Só ganha valor depois de
atrair audiência”, diz ele.
Ivete tem sido uma das mais ousadas
no uso de apelos mais comerciais para impulsionar seu trabalho. Não se
intimidou em oferecer ao Bradesco uma música que criou na piscina de sua casa
com a palavra “completo”, mote da campanha do banco. O Bradesco, lógico, topou.
Mas não só os artistas consagrados
buscam esse tipo de contato com as empresas. A garota sensação do momento,
Mallu Magalhães – que com apenas 15 anos se projetou em sites de relacionamento
-, assinou contrato de distribuição de seu primeiro CD com a operadora de
celular Vivo. Tudo começou com uma parceria Vivo/Motorola para os fãs da Mallu
baixarem, dois meses antes da venda do CD, as músicas de seu trabalho de
estreia. “Foram 70 mil downloads”, conta o gerente de Negócios Multimídia da
Vivo, José Guilherme Novaes.
O publicitário Alexandre Gama,
presidente da agência NeogamaBBH, concorda: está mais fácil adquirir direitos
autorais. Ele não usa jingles ou trilhas encomendadas, mas observa: “Há ainda
os puristas, como a banda londrina Coldplay, que procuramos e nos disse que não
vende música para publicidade”.
O avanço do negócio de
licenciamento de canções é reconhecido até por quem mais se prejudicará com isso,
como o produtor musical Zezinho Mutarelli, da empresa Sax So Funny, responsável
por trilhas de comerciais. “Criar para a publicidade vai ficar mais difícil,
por isso estudo entrar no negócio de licenciamento de artistas.”
Mutarelli constata que muitas
músicas ganham visibilidade pela propaganda, que se torna um canal para os
profissionais. “Para se conseguir uma inserção musical no programa do Faustão,
a gravadora tem de desembolsar até R$ 100 mil por alguns minutos. Logo, um
comercial pode ser excelente vitrine, a um custo muito menor.”
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