Nova pagina 7

Folha de São Paulo, Opinião, SEXTA-FEIRA, 16 DE NOVEMBRO DE 2012

O fator trabalho

Projeções demográficas ameaçam crescimento
do PIB apoiado na absorção de mão de obra; atrair imigrantes é uma
alternativa a considerar

Economistas discutem que razões domésticas
permitiram ao Brasil acelerar o crescimento do PIB na metade final da década
passada. Quantidade e capacidade produtiva de máquinas e instalações não tiveram
elevação destacada -o que se nota pela variação discreta da taxa de
investimento.

A produtividade decepcionou. O país não veio
produzindo significativamente mais para uma mesma quantidade de insumos
aplicada.

A atividade acelerou-se sobretudo tirando
proveito da capacidade já instalada, diminuindo sua ociosidade, e da força de
trabalho disponível. A taxa de desemprego, que nas regiões metropolitanas
pesquisadas pelo IBGE foi a 5,4% em setembro, está 58% abaixo do nível de 2003.
O número de pessoas ocupadas, 23% acima. O poder de compra do salário, 31%
maior.

Esse ritmo notável de incorporação de
trabalhadores dificilmente continuará. A oferta de mão de obra, já limitada pelo
baixo desemprego, tende a se tornar mais escassa com o correr dos anos.

A julgar pelas projeções demográficas, a
população brasileira passará por pronunciada mudança de perfil etário até meados
deste século. A queda drástica já verificada no número médio de filhos esperados
de cada mulher, para menos de dois, prenuncia declínio populacional no longo
prazo.

Mantida essa tendência, a população em idade de
trabalhar começará a declinar no país por volta de 2030 -quando terá atingido o
auge de 150 milhões.

O padrão de crescimento do PIB baseado na
absorção de mão de obra disponível está, portanto, ameaçado. Decerto a solução
para o impasse é catapultar a produtividade da economia brasileira, o que requer
saltos na educação e na incorporação de tecnologia.

Porém, medidas que possam mitigar o declínio
precoce da força de trabalho -e evitar que ele se acentue demais ao longo das
décadas- deveriam também ser cogitadas. Bem calibrada, a atração de imigrantes
seria uma delas.

A Europa em crise oferece oportunidades de
buscar trabalhadores especializados, o que deveria ser a prioridade dessa
política. De países sul-americanos e caribenhos, onde a fecundidade elevada se
combina à falta de empregos, poderia vir mais mão de obra, como já ocorre -desde
que, em todos os casos, em fluxlos controlados e direcionados a necessidades
circunscritas.


1 comentário

Os comentários estão fechados.

× clique aqui e fale conosco pelo whatsapp