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O Estado de São Paulo,
Domingo, 14 setembro de 2008


FEMININO

 
 


O plano B que deu
certo


 


Karina Sterenbergh,
Amir Slama e Sarah Chofakian contam por que deixaram suas


carreiras pela moda


 

Mariana Abreu
Sodré e Maria Christina Hansen

 

Há dez anos, Karina
Sterenbergh, de 34 anos, era gerente de direitos autorais da gravadora Warner.
Tinha carro bacana, décimo terceiro e décimo quarto salários, se divertia com
ligações nonsenses de Tim Maia e Roberto de Carvalho, e com muitas viagens pelo
Brasil e exterior. Aos 24 anos, viajava com freqüência para Los Angeles, com a
missão de visitar a sede da multinacional. Na capital do glamour americano,
circulava a bordo de limusine, como se a vida fosse um vídeo clipe. Sete anos se
passaram para alcançar tal posição, que também incluía muita, mas muita
burocracia e trabalho duro. A carreira de Karina começou cedo, aos 17 anos, e
logo ela era a mais bem-sucedida da turma. “Vivia uma realidade completamente
diferente das que minhas amigas viviam. Trabalhava com música , descreve ela,
sem precisar explicar muito mais.

 

O trabalho meio que
a obrigou a deixar a faculdade em segundo plano. Mas, com esforço e muito
jeitinho, Karina se tornou bacharel em Direito após seis anos de – vá lá –
estudos. A verdade é que, desde o primeiro semestre de aulas, sabia que aquela
não era a sua praia. Tanto que foi procurar estágio com uma vizinha que
trabalhava na Universal Music, ao invés de enviar o currículo para um escritório
de advocacia. “Eu me formei porque tenho um compromisso comigo de terminar tudo
aquilo que começo”, diz a estilista. Ah, sim, Karina é estilista. E proprietária
da bem-sucedida marca Ka, que soma cinco anos de mercado e se prepara para
aportar em novo endereço, no shopping Fórum de Ipanema. É que dez anos atrás,
Karina trocou a rotina que parecia perfeita aos olhos dos outros por um novo
capítulo na sua vida: a moda. O mesmo caminho foi trilhado por Amir Slama e
Sarah Chofakian.

 

Para iniciar esse
novo “ciclo”, a ex- executiva se matriculou numa faculdade de moda, ramo que
sempre amou. “Recomecei do zero, fui fazer estágio, mas sempre com o objetivo de
ter o meu negócio. Trabalhei com Alexandre Mattos, numa fábrica, e fiz carreira
na Animale. Quando estava segura, abri a Ka. Vendi a minha Pagero Sport, que
comprei com o dinheiro do meu trabalho na gravadora, para adquirir meu primeiro
ponto de venda. O principal desafio? Foi trocar a segurança de uma multinacional
por um mercado pouco profissionalizado como o da moda. Mas é o que amo e no que
acredito”, resume. “Não paro para pensar o que teria acontecido caso não tivesse
tido a coragem de mudar. O mercado fonográfico hoje é outro, sou outra também.
Então, não dá para avaliar”, comenta Karina. “O Andre Midani, profissional da
música, tem uma frase ótima: a vida é mais generosa com quem se movimenta”,
destaca. “E é isso. Não adianta sustentar uma situação que não está bacana por
medo. Depois que você toma atitudes, se movimenta, a vida parece, realmente,
olhar de uma outra maneira para você”, filosofa Karina.

 

“O mercado de moda
é difícil. Mas o que é fácil nesta vida? Na moda, você depende de uma cadeia de
prestadores de serviço, da bordadeira que some, do tecido que fica preso na
alfândega, mas tem que se virar. Nunca me iludi, sempre quis ter minha marca e
sabia que o criar era apenas 5 % do processo. Ser dona de uma empresa também é
bem diferente de ser empregada. Há o tal fluxo de caixa, enquanto não existe o
cheque no final do mês. Contudo, valeu a pena e muito”, finaliza, feliz.

 


GANHA-PÃO

 

Se Karina mudou de
área em busca de satisfação e deu as costas para o luxo, o historiador Amir
Slama encontrou na moda uma opção para pagar as contas no final do mês, e acabou
descobrindo na carreira de estilista e empresário de moda grandes semelhanças
com o que sempre almejou profissionalmente. “O que queria mesmo era trabalhar
com pesquisa. Viajar pelo mundo participando da vida das pessoas era o meu
objetivo na época em que era estudante e trabalhava como barman em bares como
Café Piu Piu. Mas logo vi que pesquisa não dava dinheiro e, como alternativa,
depois de formado, comecei a lecionar História na PUC-SP. Com o passar do tempo,
percebi que dar aula me frustrava um pouco, pois não gostava de ficar preso na
sala de aula”, conta Amir Slama. Mas as contas continuavam a chegar, e o
historiador, então, teve vontade de mudar de ramo.

 

Os pais estavam
envolvidos com o mercado de confecções e, a partir daí, Amir Slama fez a
transição da sala de aula para o mundo da moda. Começou a confeccionar biquínis
com três máquinas de costura, presentes do pai, em um espaço que nem sequer
tinha telefone. “Demoramos um ano e meio para conseguir comprar uma linha”,
lembra o estilista. “Descobri, então, que a distância entre a História e a Moda
não é tão grande. A moda é uma forma de se comunicar com o mundo e de
transformá-lo. Hoje mantenho o mesmo objetivo de antes, que é atingir as pessoas
por meio de pesquisas”, explica ele, com muito conhecimento de causa. Basta
mensurar o poder da Rosa Chá para entender o recado. “Por meio de pesquisas e
intuição, consegui identificar um novo nicho para a moda praia que antes era
exclusiva do Rio de Janeiro. A partir da criação da Rosa Chá, conseguimos
mostrar que São Paulo também tem a sensualidade brasileira”, comenta. “No
entanto, a falta de tempo para pesquisar e escrever é o lado negativo desta
troca de carreira”, conclui Amir Slama, que hoje se ocupa em incrementar a linha
masculina de sua marca, em plena ascendência.

 


SONHO ANTIGO

 

Orgulho é o
sentimento da psicóloga Sarah Chofakian, depois de ter preterido a psicologia
pelo design de sapatos. Mas demorou a chegar. Sarah escolheu a primeira carreira
aos 17 anos. Quando se formou, aos 22, já havia feito estágio e estava montando
seu consultório. Tudo parecia correr bem: os pacientes começavam a aparecer e os
pais de Sarah, que sempre quiseram que ela seguisse uma carreira mais
“intelectual”, estavam felizes da vida.

 

Porém, um ano
depois, por conta de sua separação, ela resolveu fazer uma viagem de 40 dias
pela Europa. “A faculdade e o consultório aconteceram muito rapidamente. Não
tive tempo de pensar se tudo aquilo estava me fazendo feliz. Durante a viagem,
pude realmente olhar minha vida e percebi que não estava realizada.” De volta ao
País, Sarah tomou fôlego para concretizar o antigo sonho de ter uma marca de
sapatos. O comércio estava no DNA da família: seus avós, refugiados da Armênia,
eram comerciantes e tinham uma loja no interior de São Paulo. O stand onde
vendiam sapatos era o local favorito de Sarah desde menina, e foi lá que ela
aprendeu suas primeiras lições sobre calçados.

 

Apesar dos
protestos de toda a família, a psicóloga foi em frente e correu atrás de cursos
e informações na área. “Só me apoiaram depois que comecei a ir bem”, conta a
estilista e empresária. Contudo, a tal consagração familiar só veio mesmo quando
o avô de Sarah lhe disse que estava orgulhoso de ter o sobrenome da família nos
jornais. Era a continuidade da história e da tradição dos Chofakian.

 

Com base em sua
trajetória, e em tempos de vestibular, Sarah deixa uma mensagem para os que
estão no processo de escolher uma faculdade. “Faça algo que o deixe realmente
feliz e que você, obviamente, saiba fazer bem. Sempre fui elogiada pela minha
segunda escolha, deveria saber que o meu caminho era por aí.”



Profissionais da moda


Criadores e empresários reconhecidos, eles também deram início a uma outra
carreira antes de se decidirem pela moda, obtendo muito sucesso:


 


Clô Orozco, da Huis Clos: é socióloga.


 


Camila Cutolo, da Maria Garcia: é administradora.


 


Flavia Goldfarb , da FG: também é administradora.


 


Daniella Martins, da marca de mesmo nome: é economista.


 


Oskar Metsavaht, da Osklen: é médico.


 


Paula Raia e Fernanda de Goeye, da Raia de Goeye: são arquitetas.


 


Eliana Tranchesi, da Daslu: é artista plástica.


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