Folha de São Paulo, The New York Times, TERÇA-FEIRA, 24 DE
SETEMBRO DE 2013
O ponto cego da moda
Modelos negras são excluídas de desfiles da
alta-costura
Por ERIC WILSON
Há cinco anos, a indústria da moda precisou
enfrentar um acerto de contas a respeito da notável ausência de diversidade de
modelos nas principais passarelas. Reagindo a queixas, a "Vogue", na sua edição
de julho de 2008, apresentou um artigo cujo título era: "A moda é racista?".
Isso aconteceu pouco antes de Franca Sozzani,
editora da "Vogue" italiana, publicar uma edição provocativa usando apenas
modelos negras. A ex-modelo Bethann Hardison, que agora é agente, também
promoveu debates sobre o tema na época.
Por fim, Diane von Furstenberg, presidente do
Conselho de Estilistas de Moda dos EUA, pediu mais consciência aos filiados para
que diversificassem a escolha de profissionais. Desde então, quase nada mudou.
Os desfiles em Nova York continuam tão dominados
por modelos brancas quanto eram no final da década de 1990, no fim da era das
supermodelos. Após um notável aumento em 2009, a representação das modelos
negras se manteve praticamente a mesma até este ano.
O blog Jezebel, que monitora a participação de
minorias nos desfiles, disse que modelos negras vestiram apenas 6% dos figurinos
da New York Fashion Week de fevereiro (menos que os 8,1% dos desfiles de
setembro de 2012); 82,7% das peças eram vestidas por modelos brancas.
Na Europa, onde Phebe Cilo, da Céline, Raf
Simons, da Dior, e outros têm apresentado coleções inteiras sem usar nenhuma
modelo negra, as oportunidades têm sido ainda menos favoráveis.
"Há algo de terrivelmente errado", disse Iman,
uma das mais famosas modelos negras do mundo, que mais tarde criou uma empresa
de cosméticos. Sua experiência nas décadas de 1980 e 1990, quando estilistas
como Calvin Klein, Gianni Versace e Yves Saint Laurent rotineiramente escalavam
negras, foi diferente da de jovens modelos não brancas da atualidade, quando o
preconceito racial é declarado de forma quase explícita.
"Temos [nos EUA] um presidente e uma
primeira-dama que são negros", disse Iman. "Você pode achar que as coisas
mudaram, mas aí você percebe que não. Na verdade, retrocederam."
Para Hardison, o aspecto mais chocante da
persistente falta de diversidade é a ausência de repercussão."Ninguém com poder
peita esses estilistas", disse.
Na New York Fashion Week deste mês, Hardison
organizou uma campanha nas redes sociais para promover a reprovação pública a
estilistas que não usam modelos negras.
James Scully, diretor de casting cujos clientes
incluem Tom Ford, Derek Lam e Stella McCartney, veio a público em março com uma
crítica mordaz aos desfiles sem diversidade. "Eu sinto que a Dior é tão
incisivamente branca que parece deliberado", disse ele num artigo no BuzzFeed.
Em julho, quando Simons apresentou sua coleção
para a Dior, o desfile incluiu seis modelos negras, levando a especulações de
que a mudança teria decorrido dos comentários de Scully. Naquela semana, a Prada
lançou uma campanha com Malaika Firth, primeira modelo negra em quase 20 anos a
aparecer na publicidade da marca. Representantes das duas grifes não quiseram
comentar o assunto.
A Calvin Klein, que costumava diversificar, tem
sido recriminada por usar muitas modelos brancas. No desfile deste mês em Nova
York, houve sinais de que a pressão poderia motivar algumas mudanças.
Havia cinco modelos negras entre as 35 entradas
no desfile da Calvin Klein no último dia. Mas, no geral, as mudanças foram
pequenas: mais de metade dos estilistas criticados na temporada passada usou
duas ou mais modelos negras nesta temporada, mas a maioria ficou mesmo só com
duas. Muita gente observou que não havia modelos asiáticas no desfile.
Francisco Costa, diretor de criação de moda
feminina da Calvin Klein, disse que a empresa busca rostos diversos, mas
escreveu.
"Atualmente, há poucas modelos de cor de alto
nível, treinadas profissionalmente. Elas acabam sendo contratadas por outras
grifes e podem ser vistas sobre dúzias de passarelas a cada temporada, o que é
contra aquilo que estamos procurando".
Riccardo Tisci, estilista da Givenchy conhecido
por usar grande variedade de raças, idades e gêneros, diz que quem escolhe só
modelos brancas é "preguiçoso". "Não há só gente branca no mundo", disse ele.
Veronica Webb, que topou com desculpas variadas
durante sua carreira, na década de 1990, disse que a questão é importante para
as jovens.
"Quando você vê alguém na passarela que se
parece contigo, você se sente mais bonita. Isso cria uma sensação de
pertencimento".
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