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REVISTA ÉPOCA – 17/11/2015 – RIO DE JANEIRO, RJ

Produtividade e Educação? A imaginação no poder!

RICARDO NEVES

Os empresários não devem
esperar pelo governo para construir o Sistema de Educação Contínua para elevar a
produtividade orientada para a criação de riquezas

O Brasil está perdendo
de 7×0 no campeonato mundial da produtividade. E aí?

Se o conceito é simples,
fazer acontecer a produtividade depende de uma complexa e cada vez mais
sofisticada equação combinando inovação tecnológica e qualificação de pessoas.

No caso do Brasil, mais
do que a inovação tecnológica o problema é a baixa qualificação do trabalhador
brasileiro.

O senso comum nos diz
que é culpa do governo e de seu Sistema Educacional que em seus dois níveis,
isto é, educação básica e superior, não forma pessoas com capacitação suficiente
para o desafio que o mundo do trabalho no século XXI requer. Isso é parte da
verdade.

Se fixarmos total e
exclusivamente a nossa atenção no indicador “proporção de pessoas entre 24 e 39
anos com curso superior completo”, podemos jogar a toalha. Afinal de contas como
buscar ter protagonismo global se o Brasil tem apenas 15,2% relativamente a este
indicador enquanto o a Coréia tem 65,7%, Japão 58,8% e na média os demais países
desenvolvidos marcam sempre acima de 40%?

Os sábios costumam dizer
“devemos valorizar mais as coisas que podemos fazer do que aquelas que não
podemos fazer”, o que quer dizer que não devemos ficar paralisados pelo que não
podemos fazer.

Vamos tentar ver o
problema de outro ângulo. Para encontrar novas respostas para o enigma da
produtividade os empresários e gestores devem mudar sua mentalidade e buscar uma
nova forma de interpretar, compreender e mudar a realidade.

Já que elevar em poucos
anos a proporção de brasileiros com educação superior é uma proposição utópica,
que tal se tentássemos encontrar atalhos e estabelecer novos caminhos de
qualificação de pessoas para elevar a produtividade no Brasil?

De fato, a educação das
crianças, dos adolescentes e dos jovens conduzida no Sistema Educacional
brasileiro é desastrosa para preparar nossa sociedade como um todo. Entretanto a
qualificação para o trabalho pode e deve ser vista como muito mais do que um
resultado deste sistema educacional.

O mundo como um todo
está descobrindo que a educação contínua e permanente dos adultos é a chave para
vitalizar as empresas e organizações modernas, as quais exigem que as pessoas
tenham uma performance mais produtiva.

Nesse novo contexto de
um mundo onde o trabalho é feito pelo talento e pela capacidade de racionar e de
operar máquinas cada vez mais sofisticadas, a empresa deve ver a si própria como
uma organização de aprendizado para adultos em tempo integral., onde trabalhar e
aprender estarão intrinsicamente ligados.

E é exatamente isso que
está acontecendo: a empresa para se tornar viável e competitiva neste século XXI
deve que se tornar uma organização de promoção do conhecimento e desenvolvimento
de pessoas.

O modelo fabril de
criação riquezas na forma de produtos e serviços caminha para ser uma relíquia
do passado. Isso por que, progressivamente, as atividades repetitivas estão
sendo robotizáveis, seja através de androides ou seja através de algoritmos.

Neste contexto, o mundo
caminha para uma realidade na qual a verdadeira fonte geradora de riquezas será
cada vez mais resultado da combinação de conhecimento, inteligência, talento e
criatividade.

Isso é antes resultado
do próprio sucesso da espécie humana em criar ferramentas e processos mais
produtivos, explorando mais a inovação tecnológica do que explorando seres
humanos. É aí que a porca torce o rabo.

Adam Smith valorizava a
mão invisível e o egoísmo do açougueiro e do padeiro como formas de criar
riquezas. Esse tempo acabou. Adentramos a era da economia do conhecimento e os
empresários devem colaborativamente erigir o Sistema de Educação Continuada de
seus colaboradores para aumentar a produtividade orientada para a criação de
riquezas.

Neste desafio os
empresários não precisam ficar parados reclamando a ação do governo. Precisam
ser proativos e buscar de forma solidária encontrar novas respostas para criar o
Sistema de Educação Continua e Permanente para o mundo do trabalho.

A educação no próprio
contexto do trabalho representa no Brasil uma demanda de mercado expressiva que
pode ser calculada pelo tamanho da população empregada com carteira assinada,
que chega a quase 60 milhões de brasileiros contratados por 6,9 milhões de
empresas, das quais mais de 250 mil são grandes e médias. Essa demanda é muito
maior que a demanda do sistema educacional formal que tem 37,5 milhões de
crianças e adolescentes e ainda 5 milhões de jovens universitários.

O atendimento desta
demanda já é feito em parte pelas organizações do chamado Sistema S. Mas existe
um espaço extraordinário para crescimento e inovações de ruptura. Já temos novos
e vigorosos players nesta atividade e que podem ser representados pelas holdings
formadas inicialmente para atender a demanda de ensino superior.

Exemplos? Os grupos
Kroton, Estácio, Anima, Ser Educacional, Laureate e DeVry que são até aqui as
grandes companhias do setor, responsáveis por atender quatro de cada cinco
universitários matriculados em nosso país.

Essas empresas de
educação captam recursos em bolsa de valores, se desenvolvem mais rapidamente do
que as instituições públicas federais. Atraem talentos, implantam inovações
tecnológicas de ponta, como soluções de telecomunicações que permitem alta
capilaridade em mais de duas mil cidades levando conhecimento e capacitação
através do ensino à distância e operam centenas de campi espalhados pelo país.

É principalmente com
essas empresas de educação que as grandes e médias empresas devem buscar
parceria para suas necessidades de apoio em educação continuada e permanente
para seus funcionários.

O Brasil está
complicado. Precisamos sim de mudar muitas coisas na política. Mas precisamos
sobretudo mudar nossa mentalidade como sociedade, independente dos rumos da
crise. A imaginação no poder!

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