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Revista Veja, Edição
2128
 / 2 de setembro de
2009



Estilo


Sabendo usar, o salário
pode melhorar



Aviso das consultoras: o figurino é muitas vezes determinante na hora de uma
promoção. Aviso dos estilistas: nem o infinitamente repetido terninho é à prova
de erro. Quem foi que disse que ser mulher e profissional é fácil? Ninguém

Bel Moherdaui


Desde Oscar Wilde todo mundo sabe que só as pessoas superficiais
não se preocupam com as aparências. Mas na hora de se arrumarem para trabalhar,
para infelicidade dos recrutadores e especialistas em carreiras, muitas mulheres
continuam a incorrer em erros que não fazem bem às suas aspirações
profissionais. O primeiro e mais generalizado é acreditar no mantra tantas vezes
repetido de que "não existe mais ditadura da moda" e "cada um pode usar o que
quer". Na verdade, não pode. "Na área corporativa, as roupas falam pela pessoa,
inclusive, ou principalmente, na hora de avançar na carreira. E elas têm de
falar bem. Por isso, é importante conhecer o seu tipo físico e o código de
vestuário da empresa e saber fazer a mistura correta", diz Fernanda Campos,
sócia-diretora da Mariaca, empresa de treinamento e recrutamento de executivos.
A segunda atitude profissionalmente indesejável incorre no exagero oposto:
mulheres que gostam tanto de moda que não resistem a usar as últimas novidades –
assimetrias, recortes e, ultimamente, até a encantadora dupla short e salto
alto, uma graça para ir à faculdade, passear no shopping ou sair à noite e uma
desgraça para quem tem um emprego e planos de prosperar. Não precisa repetir,
mas a consultora Gloria Kalil repetiu, em palestra para funcionários de um
grande banco na semana passada: "Roupa social, em especial a de balada, é uma
coisa; roupa profissional é outra". Também pela milionésima vez, ela recomendou
atenção ao código particular de cada empresa.


Em outras palavras, se você olhar em volta e perceber que todos
os seus colegas têm um piercing, corra para fazer a tatuagem com que sempre
sonhou – ou simplesmente exiba a que já tem. Em geral, no entanto, quanto mais
conservadora for a empresa, maior a necessidade de adaptação das mulheres
profissionais. Na filial brasileira da transportadora americana UPS, como em
todos os escritórios dela no mundo, existe uma série de normas escritas em papel
timbrado, que variam conforme a categoria profissional. Para entregadores (que
lá fora, como todo mundo já viu no cinema e na TV, usam bermuda, vetada aqui
porque a maioria das empresas brasileiras não autoriza a entrada em traje tão
despojado), até o corte de cabelo é especificado em comunicados com fotos. Nas
funções mais altas, homens têm de estar perfeitamente barbeados (eventualmente,
são convidados a corrigir falhas) e mulheres não podem usar sandálias – há pouco
mais de um ano, foi liberado o peeptoe, o modelo de sapato com uma abertura na
frente. "Os funcionários são nosso cartão de visita. Eles carregam a imagem e a
reputação da empresa, por isso precisam seguir regras predeterminadas",
justifica a presidente da UPS, Nadir Moreno. Antes de ser indicado a uma
promoção, o funcionário é avaliado por um comitê que verifica habilidades,
competências e, sim, modo de vestir. A própria Nadir, linda e, ao contrário do
nome, loira, com-preende e segue as regras, ainda que a custo das preferências
pessoais. "Adoro sandálias. Compro todas as da face da Terra, mas só uso nos
fins de semana e à noite. Também gosto de vestido curto, mas não uso nem em
festinhas, porque as pessoas não podem associar a presidente da UPS a um traje
desses", revela.


A inadequação no vestir pode ter um preço, tanto em termos de
progresso na carreira quanto em dinheiro real. A dentista Carla Renata Sarni, 35
anos, dona de clínicas odontológicas, perdeu contrato com uma empresa por ter
comparecido a uma reunião "de chinelo de dedo, bermuda e batinha de gestante" –
trajes que, contra toda a lógica, ela considerava aceitáveis. "O negócio já
estava praticamente fechado, mas me ligaram depois para cancelar", conta a
dentista, que, após o parto, trocou o guarda-roupa inteiro. "Trabalhar com
roupas mais formais impõe respeito e valoriza o profissional", diz. A proverbial
naturalidade das brasileiras em relação ao corpo, tão positiva no que se refere
à autoestima, também encerra armadilhas. Roupas explicitamente sensuais provocam
olhares entusiasmados nos colegas, mas podem contar pontos contra na hora da
promoção. "Eu uso roupa feminina, mas tomo cuidado", diz a maranhense Dezée
Mineiro, diretora executiva de uma empresa alemã no Brasil. Ela já passou pelo
aperto de ter de segurar o decote na hora de assinar um contrato e aprendeu a
adaptar o guarda-roupa às am-bições profissionais, sem abrir mão do estilo
exuberante. "Os alemães são conservadores", constata. "Já ouvi gente preocupada
até com a sola do sapato, que não deve parecer muito gasta quando se cruzam as
pernas."


Mesmo a beleza, que abre tantas portas, pode produzir efeitos
dúbios. "A mulher bonita já passa sensualidade naturalmente. Por isso, deve
andar ainda mais séria, para evitar que pensem que está ali só pela beleza",
recomenda Titta Aguiar, consultora de estilo do Senac, que foi contratada pela
bela e vaidosa advogada Daniela Esteves, 32 anos, de São Paulo, e contribuiu
para atenuar o efeito do seu guarda-roupa depois de uma reunião reveladora.
"Quando entrei na sala, percebi que o impacto causado pela minha roupa, um
tailleur rosa justinho, tinha sido grande demais. Diante dos olhares dos homens
presentes, eu me senti uma mulher desejada, interessante, mas não inteligente",
diz Daniela. "Fora do trabalho, sou sexy e elegante, não tenho nada desse estilo
sisudo. Mas aprendi que, quando vou procurar convencer um cliente de um projeto,
ele não pode ficar tentando não olhar para o meu decote." Às vezes, adaptar só
não basta, é preciso se desdobrar em duas – não, não é fácil ser mulher e
profissional preocupada com a carreira. Executiva de uma empresa de Santos,
Alessandra Barros, 36 anos, mudou o figurino quando subiu a serra, transferida
para o escritório de São Paulo. "Notei que, aqui, se chego para uma apresentação
de vestido colorido e sandália rasteira, não me levam a sério. Mas, se vou a uma
reunião em Santos de calça e camisa social, encaram como arrogância", diz ela. O
conselho mais simplificado dos consultores é observar como se vestem as chefes.
"Você tem de se vestir não como as pessoas do seu grupo, mas como as pessoas do
grupo ao qual você quer pertencer", aconselha Monique Cosendey Soares,
consultora da Dinsmore, empresa de gestão de projetos.


Até num ambiente onde exibir o corpo e desfilar modismos
constitui a norma é preciso entender os códigos. Exemplo de transformação
pessoal bem-sucedida, a atriz Grazielli Massafera, 27 anos, superou o estilo que
ostentava na época do Big Brother 
cabelo comprido demais, maquiagem cintilante, acessórios ofuscantes e, numa
esquecível ocasião, jeans rasgados com a marquinha do biquíni aparecendo. "Ela
entendeu que seu corpo é de modelo, específico para usar roupas curtas, que
alongam mais. Além disso, ela tem rosto, pele e cabelo puxando para o dourado.
Qualquer coisa que brilha muito ou contrasta demais vulgariza", analisa a
personal stylist Patrícia Zuf-fa, que há um ano e meio a ajuda com o figurino.
Hoje, Grazi pode ostentar com elegância o estilo predominante nas festas de
celebridades internacionais: um vestidinho de pouco mais de três palmos
acompanhado de salto altíssimo. O truque para não ficar vulgar é usar no máximo
um acessório e abrandar a maquiagem. "Aprendi também que, quando o decote é
grande, o comprimento da roupa deve ser maior. Evito calças de cintura baixa,
que acabam com o que o corpo feminino tem de mais sexy, além de marcarem o
culote. E, se estou em dúvida, boto um terninho", recita Grazi. Mas terninho
moderno, sem cara de uniforme das mulheres que, por medo de errar, se refugiam
na praticidade desenxabida. Aqueles conjuntinhos coloridos usados por Hillary
Clinton, entre outras, são de lascar. "Mulheres que atuam na política querem
mostrar que moda é uma coisa secundária, fútil, o que não é verdade. Em geral,
usam roupas e tecidos práticos, mas de baixa qualidade", diz o estilista André
Lima. "Meu conselho a elas é: abram uma conta na lavanderia e comprem roupa
boa".



Código de conduta


Algumas regras parecem óbvias, mas vivem sendo esquecidas. Para
relembrá-las:


• Nenhuma parte da roupa de baixo pode aparecer ou mesmo se
insinuar, incluindo marca de calcinha ou, pior ainda, alça de sutiã transparente


• Existem duas opções: a chefe, ou cliente, pode prestar atenção
no que você tem a dizer – ou nos brincos, colares e pulseiras enormes que está
usando


• "Exagerar no gloss pode parecer que você está babando. Prefira
batom cor de boca, que é natural e não tem erro", recomenda Fernanda Campos,
especialista em recrutamento de executivos


• Quanto mais tradicional a empresa, menos enfeitada deve ser a
bolsa


• Sandálias muito abertas transmitem uma informalidade excessiva
para grande parte dos ambientes de trabalho


• Saltos altos infundem autoconfiança, mas se forem altíssimos,
acoplados a bicos finíssimos, atiçam o lado fetichista nos colegas de trabalho


• Barriga de fora, só se for no ramo do entretenimento noturno


• Qualquer coisa com elástico na cintura é de uso exclusivo de
grávidas


• Quanto mais alta a posição que você ocupa, ou almeja ocupar,
menos jeans deve usar. E mais: "Casual Friday não é o dia do relaxo", diz a
consultora de estilo Titta Aguiar. "Calça jeans desbotada e tênis não são opção
para o trabalho"


• Quem tem ou aparenta mais de 20 anos não pode usar short, nem
com meia grossa. Aliás, só golfistas profissionais deveriam trabalhar de short


• Quanto às leggings, precisa comentar?

Categorias: Moda

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