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REVISTA ÉPOCA, 06/11/2008 – 18:37 – Atualizado em 06/11/2008 –
19:07

“Suas
vitrines são horríveis”

A
mineira Lena Pessoa escreveu isso numa carta para a Louis Vuitton. E se tornou
responsável pela imagem das lojas das principais marcas do grupo LVHM

Marianne Piemonte


CRIADORA

Numa
fria manhã de janeiro em Paris, na sede da grife Louis Vuitton, na Avenida
Champs-Elysées, Jean Christophe Aumas, o executivo responsável pela imagem da
marca de bolsas mais desejadas do mundo, recebe uma carta. Nela, a remetente diz
que as vitrines das lojas do grupo são pavorosas. E termina anunciando que tem
idéias revolucionárias para melhorar as vitrines da grife. Aturdido, ele convida
Lena Pessoa, a autora da carta-bomba, para expor suas idéias. Para novo espanto
do francês, ela aparece com uma maquete feita com bolsas e sapatinhos da Barbie,
que pegou emprestado da filha, Ange Marie.

O
encontro com as bolsinhas de plástico cor-de-rosa aconteceu em janeiro de 2000.
Em maio, as idéias de Lena já estavam expostas nas vitrines da Louis Vuitton de
todo o mundo. Hoje, aos 54 anos, a brasileira nascida em Belo Horizonte e criada
na zona sul do Rio de Janeiro é uma das principais colaboradoras do conglomerado
de moda LVHM, ao qual pertence a Louis Vuitton. Ela é responsável pela criação
de uma atmosfera, nas lojas, que traduza o espírito de ícones da moda como
Givenchy, Jimmy Choo, Pucci, Tod’s, entre outras.

Lena
está na Europa há 20 anos. Ela diz que sua primeira viagem a Paris foi com
Fernando Gabeira, com quem namorava em 1980. Conta que voltaram e moraram juntos
em Itatiaia e Trindade, no melhor esquema hippie. Então conheceu o francês que
seria pai de sua filha (a dona dos sapatinhos e bolsinhas da Barbie), o
responsável por levá-la de volta à França.

No
Brasil, Lena havia abandonado a faculdade de História e Geografia quando as
sapatilhas que fazia com uma amiga começaram a fazer sucesso em lojas de Belo
Horizonte. “Nunca estudei moda ou design, mas desde menina mandava fazer minhas
roupas”, diz. Para ganhar dinheiro em Paris, ela conta que montava bijuterias e
vendia as peças para o Japão. Diz ter desenhado uma linha de óculos para a
esportiva Adidas e sapatos para pequenas confecções parisienses. Assim, de bico
em bico, mantinha o orçamento. “Mas eu estava cansada, porque todo o dinheiro
que ganhava gastava na elaboração da coleção seguinte”. Até mandar a carta para
a Louis Vuitton.


Hoje, Lena vive pelo mundo. A primeira vez que nos falamos, ela estava em
Marrakesh, no Marrocos, para a festa de aniversário do marido. Marcamos a
entrevista para um domingo. Nós nos falamos de Paris, onde ela mora. No dia
seguinte, ela embarcou para a Itália, onde está implantando o novo conceito de
loja da Tod’s, a Louis Vuitton italiana, classuda e tradicional, que tem a atriz
Gwyneth Paltrow como garota-propaganda.


Parece uma vida glamorosa, cercada por lindas roupas em visitas a lugares
incríveis. E é. Mas envolve horas – às vezes meses – de imersão nos ateliês e
escritórios, estudando croquis, coleções, histórico, até captar a “alma” de cada
marca. O trabalho é fazer com que o consumidor, ao entrar numa loja da Givenchy,
por exemplo, sinta-se recepcionado pelo próprio monsieur Hubert de Givenchy, o
estilista que fez da marca a imagem de elegância parisiense. Quem pensa em
Givenchy lembra de Audrey Hepburn, em Bonequinha de Luxo. Sua missão é
não perder esse espírito, mas ao mesmo tempo não deixar que a marca envelheça.

Na
marca do príncipe das estampas, Emilio Pucci, Lena montou as lojas de maneira
que quem entre tenha vontade de desvendar todo o espaço. As bolsas parecem
flutuar, suspensas em prateleiras invisíveis, e as araras rodeiam os clientes
por toda a loja. Cada loja do mundo é de uma das cores criadas por Pucci. A do
Brasil é acqua, um verde-azulado. Laudomia Pucci, a herdeira da grife, apelidou
Lena de Ótima. “Ela tem soluções inusitadas, e o mais impressionante é que não
tem formação de arquiteta ou engenheira. Mas o melhor mesmo é o bom astral
dela”.

Lena
enxerga um grande campo de trabalho no Brasil. “As vitrines brasileiras são
horríveis”, diz. “As manequins parecem bruxas”. Ela diz que, para colocar suas
criações em pé, tem a ajuda de um arquiteto milanês e um escritório de
engenharia inglês. E a inspiração? Isso, diz ela, é herança da mãe, uma ótima
bordadeira mineira. “Uma mestra em trabalhos manuais”, diz.


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