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Folha de São Paulo, Ilustrada, terça-feira, 06 de
fevereiro de 2007

Única “crise” do
fotojornalismo ocorre nas relações de trabalho

RUBENS CHIRI, ESPECIAL PARA A FOLHA

Um ônibus queimado e um policial estático -a imagem nos remete
à inércia do poder público frente à violência. O cassetete enverga no braço de
manifestante durante assembléia de professores -tal qual a educação é
massacrada. A silhueta de jovens boleiros nos confins da Paraíba -sonhos de
anônimos por uma vida melhor no país do futebol.

Em contrapartida, Ronaldinho rola com uma fã -constelação se
perde no ufanismo. São leituras, divagações, crônicas visuais, retratando fatos
e histórias -fotojornalismo.

Essas são algumas das cem imagens que contam um pouco da
realidade do Brasil e do mundo hoje e que compõem a exposição “Fotojornalismo
2006 – Fatos e Histórias do Cotidiano”, produzida por 83 repórteres fotográficos
e organizada pela Arfoc-SP (Associação de Repórteres Fotográficos e
Cinematográficos do Estado de São Paulo). O material será incorporado ao acervo
da Associação dentro de um projeto de documentação iniciado há alguns anos.

Em crítica publicada no último dia 27 na Folha,
intitulada “Exposição reflete a crise que o fotojornalismo enfrenta hoje”, o
autor, Eder Chiodetto, com base no trabalho apresentado na exposição, afirma que
cada vez mais o fotojornalismo aproxima-se da fotografia publicitária e perde a
sua função.

As fotografias expostas por si só desdizem tal afirmação.

Há, sim, uma crise, mas no jornalismo como um todo.
Especificamente no fotojornalismo, a crise não reside na produção, mas,
sobretudo, na precarização das relações de trabalho. Na substancial redução dos
postos de trabalho. Na desenfreada produção industrial das mídias impressas, com
rígidos horários de fechamento, amarras editoriais e projetos gráficos que não
tratam a fotografia como informação, e sim como mera ilustração.

Se hoje suspiramos por uma foto de Robert Capa -um ícone do
seu tempo-, não devemos desacreditar em futuras referências, que terão seu valor
reconhecido ao seu tempo. Afinal, cada repórter fotográfico coloca em sua foto
seu olhar, sua cultura, suas emoções, sua conduta ética. E esse conjunto tão
peculiar deve ser respeitado e valorizado.


RUBENS CHIRI é
repórter fotográfico e presidente da Arfoc-SP.

FOTOJORNALISMO 2006 – FATOS E HISTÓRIAS DO
COTIDIANO

Quando: ter. a sex.,
das 10h às 20h; sáb. e dom., das 10h às 18h. Até 4/3

Onde: CCSP – piso
Flávio de Carvalho (r. Vergueiro, 1.000, tel. 0/ xx/11/ 3383-3402)

Quanto: entrada
franca


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