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 O ESTADO DE S.PAULO, 08 Junho 2014 | 02h 00

Vestígios de pré-históricos, como preguiça gigante, estavam em obra de linha
de trem

Lu Aiko Otta

A construção de uma
ferrovia federal no interior da Bahia, cortando o Estado de oeste a leste,
deparou-se com um problema inusitado: depósitos de fósseis de animais
pré-históricos, como preguiças gigantes e mastodontes, seriam "atropelados" pela
linha do trem. "Eles estavam literalmente no meio do caminho", disse ao Estado a
professora Carolina Scherer, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

Ela coordena um time de
pesquisadores que, com recursos de R$ 2,8 milhões da Valec, estatal responsável
pela construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), dedica-se a
coletar, catalogar e identificar os fósseis desde janeiro deste ano.

Os primeiros resultados
da pesquisa serão apresentados no 9.º Simpósio Brasileiro de Paleontologia de
Vertebrados, que será realizado em agosto, no Espírito Santo.

Até o momento, os
animais encontrados são do período Pleistoceno, de 2 milhões a 10 mil anos
atrás. São espécies mais "recentes", que podem ter convivido com os primeiros
hominídeos. Para se ter uma ideia, os dinossauros são bem mais antigos: de 220
milhões a 65 milhões de anos atrás.

A espécie mais
impressionante entre as já identificadas é, provavelmente, a preguiça gigante.
"É um animal que podia chegar a seis metros", descreve a professora. Também
foram encontrados ossos de duas ou três espécies de gliptodontes, que são
aparentados gigantes de tatus e tatus gigantes.

"É por isso que a gente
fala em “megafauna” na região", afirma a professora. É nessa categoria que se
enquadra o toxodonte, outro animal já extinto. "Ele se assemelha a um
hipopótamo, embora não seja aparentado e não tenha deixado descendentes", disse
Carolina. Também foram achados restos de mastodontes – semelhantes aos mamutes,
que habitaram o Hemisfério Norte.

Há também resquícios de
cavalos já extintos e restos de casco de cágado. No total, são sete espécies já
catalogadas. Nenhuma delas é inédita no Brasil, segundo Carolina. Por enquanto,
o que há de novo é a área onde os fósseis foram localizados.

As pesquisas estão
concentradas no município de Guanambi, onde foi encontrada uma formação rochosa
que os paleontólogos chamam de tanque. É uma depressão que parece uma piscina
natural e onde se acumula água. Há outro tanque semelhante nos municípios de
Anagê, Vitória da Conquista, Palmas do Monte Alto e Matina.

O trabalho
paleontológico conta com a cooperação também da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (Uesb), da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e
da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que faz um trabalho educacional, de
conscientização patrimonial das comunidades afetadas.

Sítios. Além dos restos
de animais, também foram encontrados cerca de 80 sítios arqueológicos no trajeto
da ferrovia. São cerâmicas, pinturas rupestres, sítios líticos e históricos.
Esse material vem sendo resgatado e será analisado, segundo explicou o gerente
de Arqueologia da Valec, Fábio Campos.

Todos esses sítios foram
detectados ainda na fase de planejamento da ferrovia, de forma que o resgate
ocorre simultaneamente à obra. Porém, afirmou o gerente, isso não provoca
atrasos – apenas "ajustes no cronograma". Ele disse que, uma vez localizado um
sítio a ser pesquisado, as máquinas e operários são transferidos para outras
frentes de construção até que o resgate seja realizado.


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