Nova pagina 10

UOL EDUCAÇÃO – 07/04/2017 – SÃO PAULO, SP

Visão cronológica da história é “tradicionalista”, dizem especialistas

ESTADÃO CONTEÚDO – ISABELA PALHARES

O ensino de História –
área que foi alvo de mais críticas e polêmicas durante a elaboração da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) – deverá ocorrer na ordem cronológica. O
método, que segue uma linha `tradicionalista`, é criticado por parte dos
especialistas da disciplina.

Hoje, como o Brasil não
tem um currículo nacional, as escolas seguem diretrizes municipais e estaduais e
material didático de livre escolha. Alguns estabelecimentos também consideram
conteúdos cobrados em avaliações, como é o caso do Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem).

`No fundo, o novo
documento reproduz muito do que, nos últimos anos, os currículos, as propostas
pedagógicas e os livros didáticos mais tradicionais sugerem para os alunos. É
uma perspectiva cronológica, mais preocupada com exemplos convencionais do que
com uma formação e conhecimentos mais amplos`, criticou Roberto Catelli, doutor
em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).

De acordo com ele,
faltou ousadia para pensar em outra forma de trabalhar a disciplina, valorizando
conceitos importantes para a formação do cidadão. `Sinto falta de uma abordagem
que permita formular e refletir sobre períodos históricos. Não adianta apenas
conhecer um conjunto de informações.`

Ele também destacou que
a base traz de forma `tímida` a história africana. Desde 2003, o ensino de
história e cultura africana e indígena é obrigatório nas escolas brasileiras.
`Nos conteúdos, há uma referência às sociedades africanas, mas na forma
tradicional em que costumam aparecer. A relação com a cultura brasileira aparece
de forma muito eventual.`

África

A cultura africana surge
novamente no documento na parte de Educação Física, com brincadeiras, jogos e
danças a serem aprendidos pelos alunos do 1º ao 9º ano do ensino fundamental.
Quando a primeira versão da BNCC foi lançada, em setembro de 2015, a área de
História recebeu muitas críticas, uma vez que o modelo tinha maior ênfase na
história da África e das Américas do que na História Antiga e europeia.

O currículo de História
também é apontado pelos especialistas como uma das áreas em que há maior
possibilidade de diversificação nos Estados e municípios. Isso porque a base
deixa 40% do conteúdo a ser ensinado na educação básica livre para a
complementação. Um exemplo são os fatos locais: a Revolução Farroupilha ou o
M.M.D.C., por exemplo, podem entrar na vertente local dos Estados onde
ocorreram.

Mudanças

O ensino religioso foi
excluído da terceira versão da base. O Ministério da Educação alegou respeitar a
legislação que determina que o tema seja optativo nas escolas e destacou que é
competência das secretarias estaduais e municipais definir a regulamentação.

A versão anterior
estabelecia diretrizes para o ensino religioso em todo o fundamental e defendia
que a escola poderia `contribuir para a promoção da liberdade religiosa e dos
direitos humanos, com práticas pedagógicas`.

Gênero

Para especialistas,
apesar de o documento colocar nas competências gerais para a educação básica o
respeito à diversidade de orientação sexual e de gênero, os temas são pouco
abordados nas disciplinas.

Educação sexual, por
exemplo, só é considerada no 8.º ano em Ciências, quando é esperado que os
alunos saibam o que ocorre na puberdade e as formas de transmissão de Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DSTs). O debate sobre questões de gênero é destacado
em História apenas no 9.º ano, quando se espera que os alunos saibam relacionar
as mulheres à conquista de direitos políticos.

`Esses temas ganharam
uma importância muito grande e foram motivo de polêmica durante a elaboração dos
planos municipais e estaduais de educação. Pode ser que seja tardio abordar
esses assuntos só nessas séries, mas o Conselho Nacional da Educação (que fará a
análise final do documento) talvez tenha maior legitimidade para debater com
mais tranquilidade esses assuntos tão sensíveis`, disse Mozart Neves Ramos,
diretor do Instituto Ayrton Senna. As informações são do jornal O Estado de S.
Paulo.

Categorias: História

1 comentário

Os comentários estão fechados.

× clique aqui e fale conosco pelo whatsapp