Nova pagina 4

Folha de São Paulo, New York Times, TERÇA-FEIRA, 11 DE MARÇO DE
2014

Cientistas sociais preveem novos usos da tecnologia

Intel desenvolve projeto de robô
personalizado

Por NATASHA SINGER

A antropóloga Genevieve Bell se considera
"apenas uma garota selvagem da Austrália". Mas, para a Intel, ela personifica
algo maior: as aspirações da empresa de ser vista como algo além de uma mera
fabricante de chips.

Bell ocupa o cargo de diretora de pesquisa de
experiências do usuário nos Laboratórios Intel, o braço de pesquisas da empresa.
Ela supervisiona cerca de cem cientistas sociais e projetistas que viajam pelo
mundo observando como as pessoas usam a tecnologia. As descobertas da equipe
ajudam a subsidiar o processo de desenvolvimento de produtos da empresa e são
também frequentemente compartilhadas com fabricantes de laptops, montadoras de
veículos e outras companhias que incorporam processadores Intel em seus artigos.

Alguns anos atrás, por exemplo, a equipe de Bell
entrevistou na China pais que viam os computadores domésticos como algo que
distraía os filhos das tarefas escolares. A Intel desenvolveu então o protótipo
de um computador, mais tarde fabricado por um cliente da Intel, que possuía um
código que os pais poderiam ativar para evitar que seus filhos brincassem com
jogos eletrônicos durante o horário da lição de casa.

"Você precisa compreender as pessoas para
construir a próxima geração da tecnologia", disse Bell.

A Intel foi surpreendentemente lenta para
reconhecer o florescente mercado dos chips para smartphones. Na verdade, Bell e
sua equipe, entre outros, haviam previsto logo no começo a tendência dos
celulares, mas, na época, a Intel não deu prioridade ao produto. Os fabricantes
de PCs ainda formam a maior base de clientes da Intel, respondendo por US$ 33
bilhões da sua receita de US$ 52,7 bilhões no ano passado.

Agora, em parte por causa dos esforços de Bell e
de sua equipe, a Intel está tentando recuperar o atraso, avançando gradualmente
em áreas como a dos aparelhos "vestíveis", que podem ser uma vitrine para seu
novo e minúsculo chip de baixo consumo energético. Os futurólogos da equipe de
Bell estão também desenvolvendo um robô pessoal customizável que usa os novos
minichips.

Alguns anos atrás, Bell e sua colega Alexandra
Zafiroglu, antropóloga da Intel, viajaram pelo mundo examinando o que havia
dentro dos carros das pessoas e perguntando aos motoristas como eles usavam
aqueles objetos. Embora os fabricantes de veículos já tenham incorporado
sistemas de comando por voz aos seus modelos, com a ideia de reduzir a
desatenção ao volante, a dupla concluiu que, quando os motoristas ficam
entediados no trânsito, eles costumam pegar seus aparelhos pessoais portáteis.

No semestre passado, a Intel anunciou uma
colaboração com a Jaguar Land Rover para desenvolver maneiras mais adequadas de
fazer os consumidores sincronizarem seus aparelhos pessoais com seus carros. A
Intel também tem uma iniciativa semelhante com a Toyota. O objetivo é tornar
mais adequada a tecnologia incorporada aos veículos, suplantando assim o impulso
do motorista de pegar seu smartphone.

Num esforço para tornar os laptops mais
relevantes, o laboratório de Bell projetou um protótipo de software para um
TaiChi -notebook de duas telas feito pela Asus, cliente da Intel. O programa
permite que as pessoas postem fotos e mensagens de texto de até 140 caracteres
nas telas externas do laptop. O objetivo era encorajar a comunicação em tempo
real entre pessoas que estão num mesmo lugar na mesma hora. "Como seria ter
tecnologia que celebrasse a presença, não a ausência?" disse Bell.

Mas, com tanta gente sendo agora mais atraída
por dispositivos móveis, esse software pode nunca aparecer nos computadores
portáteis dos consumidores. Ou pode, em vez disso, surgir em smartphones com
duas telas. Recentemente, Bell vem refletindo sobre a possibilidade de criação
de computadores que possam assumir vida própria.

Um número cada vez maior de objetos, como
termostatos e semáforos, estão sendo equipados com chips e sensores capazes de
coletar e transmitir informações sobre seus arredores. Bell vê esses objetos
como precursores de dispositivos que se relacionarão com as pessoas.

O futurólogo Brian David Johnson está comandando
um projeto para desenvolver um robô pessoal, chamado Jimmy, que se relacionaria
com as pessoas na condição de indivíduo. Branco e curvilíneo, Jimmy é um sistema
personalizável que chega à altura dos joelhos no qual os consumidores podem
baixar aplicativos.

"Jimmy é uma plataforma computacional que pode
andar por aí", explicou Johnson. "Ele tem poder computacional suficiente para
perceber como está o seu humor e onde você está, enfim, ter uma compreensão
baseada no relacionamento." Jimmy tem sua raiz na crença de Bell de que o futuro
da computação está em dispositivos personalizados, focados na pessoa.

Na realidade, a Intel planeja lançar o software
neste semestre, de modo que as pessoas com acesso a impressoras 3-D possam criar
seus próprios Jimmys.

Mas Bell é a primeira a dizer que não é nenhum
oráculo da tecnologia. "Será que achamos que, daqui a dez anos, as pessoas ainda
vão querer conversar umas com as outras? Sim. Elas ainda vão querer compartilhar
fotos de gatos? Sim. Elas ainda vão querer contar piadas ruins? Sim. As pessoas
vão querer estar com uma câmera? Provavelmente", conjectura. "Com o que isso vai
se parecer?" Ela dá de ombros.


1 comentário

Os comentários estão fechados.

× clique aqui e fale conosco pelo whatsapp