Folha de São Paulo, Fovest, terça-feira, 05 de setembro de 2006

Engenharia no ITA é entrada para a Aeronáutica

Aluno pode
ingressar na Força Aérea ou seguir como civil

VINÍCIUS SEGALLA

Estudar no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) é tarefa
para quem sabe o que quer e está disposto a lutar por isso. O vestibular é um
dos mais concorridos do país, o curso é difícil e a disciplina, rígida.

A vantagem de quem consegue é estudar de graça em uma das
melhores escolas de engenharia do Brasil. Na maioria das vezes, o engenheiro
formado pelo ITA logo consegue uma colocação no mercado.

Se o aluno preferir, porém, já tem garantida
uma carreira estável: a de engenheiro da Força Aérea Brasileira. No terceiro
ano, o estudante opta pela carreira militar ou civil. Se
escolhe
a primeira, já passa a receber um soldo de aspirante a oficial,
de R$ 2.000.

Ao concluir a graduação, torna-se primeiro-tenente. Ao longo da
carreira, pode subir os degraus da hierarquia da Força Aérea: capitão, major,
tenente-coronel, coronel, brigadeiro e major-brigadeiro. A patente máxima na
instituição é tenente-brigadeiro, mas o oficial engenheiro não pode alcançá-la.

Como aspirante a oficial, o aluno já faz parte da Aeronáutica.
As faltas devem ser justificadas e não podem ultrapassar o limite de 10%. Além do curso regular de engenharia, igual ao dos que optam pela
carreira civil, há aulas de instrução militar, palestras sobre comando e aulas
de educação física.

Uma vez formado, o oficial deve permanecer pelo menos cinco
anos na Força Aérea. "Se ele não o fizer, terá que indenizar a instituição
por tudo que foi gasto com ele", explica Susana Zepka,
professora de engenharia mecânica aeronáutica e membro da coordenação do
vestibular do ITA.

Cursos e estrutura

No primeiro ano, todos são obrigados a fazer o CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva). É um
curso de instrução militar, que apresenta aos alunos a doutrina e o modo de
trabalho da Força Aérea. Por cursarem, os alunos são remunerados com cerca de
um salário mínimo (R$ 350). "É um curso tranqüilo, não se exige nada
impossível de ser feito e é apenas uma vez por semana. Você conhece como é a
vida militar e como a Aeronáutica se organiza, tanto na parte legal quanto na
operacional", relata Luiz Erasmo Kotsugai
Moreira, 20, estudante que optou pela carreira civil e está no terceiro ano de
engenharia eletrônica.

Os dois primeiros anos são dedicados ao ciclo fundamental da
engenharia. A partir do terceiro, dá-se início ao "curso
profissional", quando o aluno escolhe entre engenharia aeronáutica,
eletrônica, mecânica-aeronáutica, infra-estrutura
aeronáutica ou computação. "O curso é difícil, mas, se estudar, não tem
problema", diz Moreira, que passou também no vestibular de medicina da USP
e no do IME (Instituto Militar de Engenharia), neste último com nota 10 em
matemática.

Vestibulares de IME e ITA ignoram humanas

Exames são
conhecidos pela complexidade das questões

"Nossos alunos estudam, em
média, 16 horas por dia. Há aulas de segunda a sábado. Aos domingos, realizamos
simulados." Esta é a rotina dos candidatos a uma vaga no ITA ou no IME,
descrita pelo professor Marcelo Pelisson, coordenador
da "turma ITA" do cursinho Poliedro.

No ITA, o processo seletivo se dá em
quatro dias, cada um com uma prova de quatro horas de duração. Os exames são de
matemática, física, química, português e inglês, sendo
que só as provas de exatas contêm perguntas dissertativas.

No IME, são as mesmas matérias,
dividas em cinco dias, um com questões objetivas das três disciplinas de exatas
e os outros quatro com perguntas dissertativas de cada uma das áreas abordadas
(português e inglês são no mesmo dia). Além disso, há um exame de inspeção de
saúde e outro de aptidão física, ambos de caráter eliminatório.

Os exames são tidos entre os mais
difíceis do país. "Eles não têm a interdisciplinaridade que as questões da
Fuvest possuem, mas o nível é mais alto. No ITA, as questões objetivas e
discursivas têm o grau de dificuldade das da segunda fase da Fuvest, com a
diferença que os candidatos são mais bem preparados", analisa o professor.

Já para Luiz Erasmo Kotsugai Moreira, aluno do terceiro ano do ITA e definido
por Pelisson como "brilhante", "é
consenso que a prova de física é a mais difícil".

Moreira conta como era sua rotina de estudos no ano em que se
preparou para entrar no ITA: "Eu me dedicava bastante. Raramente faltava,
fazia todas as tarefas e as revisões. Assistia às aulas das 13h
até a noite. Chegava em casa perto das 21h. Acordava
às 8h e começava a estudar."


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