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Revista Isto É, |  N° Edição:  2396 |  30.Out.15

O Brasil que constrói: biotecnologia



Entre 1997 e 2013, a biotecnologia gerou um benefício de US$ 25 bilhões aos
projetos ligados ao agronegócio. Com os avanços nas pesquisas e o aumento dos
investimentos das empresas, a projeção é de ganhos de R$ 91 bilhões até 2023


Entre
1997 e 2013, a biotecnologia gerou um benefício de US$ 25 bilhões aos projetos
ligados ao agronegócio. Com os avanços nas pesquisas e o aumento dos
investimentos das empresas, a projeção é de ganhos de R$ 91 bilhões até 2023. O
setor de saúde é outro que se beneficia das novas descobertas. saiba o que
quatro empresas estão fazendo para se destacar



Conheça as empresas que, mesmo com a crise, continuam investindo e estão
transformando o Brasil:






Entre o diagnóstico e a terapia




A farmacêutica Roche tem
investido em pesquisas científicas que fazem o sistema imunológico do paciente
encontrar a solução para a doença.






Eficiência em inovar




O tema inovação é cada vez
mais frequente no dia a dia das grandes empresas. Para a Ambev, a palavra
significa ampliar ainda mais a sua já conhecida eficiência.






Beleza nos átomos da floresta




Com projetos comprometidos com
a natureza e as comunidades da Amazônia, a Natura expande a pesquisa em
nanotecnologia com projetos de inovação em cosmética do Natura Campus.






O futuro da química é verde




Com investimentos expressivos
em pesquisa e desenvolvimento para a produção de biopolímeros, a Braskem se
aproxima de encontrar a solução para fazer borracha sintética a partir da
cana-de-açúcar.

 

O futuro da química é verde



Com investimentos expressivos em pesquisa e desenvolvimento para a produção de
biopolímeros, a Braskem se aproxima de encontrar a solução para fazer borracha
sintética a partir da cana-de-açúcar

Márcio
Kroehn


O
francês Antoine Lavoisier, considerado o pai da química moderna, popularizou o
conceito de que na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
Mais de dois séculos após as experiências de Lavoisier com a conservação das
massas, estudiosos de todo o mundo têm comprovado que essa frase é a chave para
promover avanços importantes em diferentes áreas. Num condomínio criado para
receber incubadoras de alta tecnologia na cidade paulista de Campinas, a cerca
de 100 quilômetros da capital, a Braskem, maior produtora de resinas
termoplásticas das Américas e líder mundial na produção de biopolímeros, divide
o espaço com empresas como a americana HP e a Venturus, especializada em
soluções eletrônicas para dispositivos móveis. Enquanto suas vizinhas se
preocupam com hardwares e softwares, o laboratório da Braskem trabalha na
química do futuro. Ali, cerca de 34 profissionais estudam, desenvolvem e testam
a transformação do açúcar vegetal, a partir da cana-de-açúcar, em butadieno e
isopreno renováveis. O objetivo é produzir borracha sintética utilizando uma
matéria-prima renovável. “O Brasil está para o açúcar assim como a Arábia
Saudita está para o petróleo”, diz Mateus Schreiner Lopes, gerente de inovação
em biotecnologia da Braskem, ao comparar a competitividade do agronegócio
brasileiro com a produção de combustíveis fósseis dos países árabes. “Há uma
enorme fronteira a ser explorada no agronegócio e o País tem todas as condições
de encontrar e desenvolver as principais descobertas nesse campo.”


Com
investimento de, aproximadamente, R$ 30 milhões, o laboratório da Braskem em
Campinas foi inaugurado em junho do ano passado e recebeu os mais modernos
equipamentos para a pesquisa de químicos renováveis. Há, por exemplo, um robô de
alto desempenho capaz de executar diversos experimentos ao mesmo tempo, o que
economiza o precioso tempo dos pesquisadores, que podem se dedicar às atividades
intelectuais ao invés das manuais. Para medir o ganho de produtividade, o robô
Hamilton (nome do fabricante americano do aparelho, uma coincidência com o
tricampeão mundial de Fórmula 1) substitui 96 pessoas. Outro aparelho que se
diferencia é o cromatógrafo de alta sensibilidade, que consegue separar as
misturas em fase líquida para facilitar a identificação de compostos.


Essas
duas tecnologias fazem parte de uma cadeia de processos, que tem início no
computador, com o desenho da molécula que vai ser transformada. Ali são
indicados os caminhos e as etapas da reação esperada, que os biologistas
moleculares vão reproduzir. Ao se alcançar o resultado, manda-se o gene
modificado para uma empresa especializada em sintetização. Como essa etapa é
realizada fora do País, a Braskem recebe o seu gene sintético em até 60 dias. A
partir daí, começa um longo trabalho de infinitas possibilidades até encontrar a
solução que poderá ser reproduzida em larga escala, com o menor custo e a maior
produtividade possível. “Os impactos para o mercado podem ser em relação ao
custo, performance e sustentabilidade do produto”, afirma Patrick Teyssonneyre,
diretor de tecnologia e inovação corporativa da Braskem. “Outro benefício é a
captura de gás carbônico da atmosfera”.


Os
projetos da Braskem estão sendo desenvolvidos com dois parceiros americanos. A
pesquisa colaborativa é uma maneira de aumentar as chances de sucesso, além de
ter agilidade e dinamismo na troca de informações e no cruzamento de
tecnologias. Há dois anos, dois pesquisadores da Braskem estão no laboratório da
americana Genomatica, em San Diego. Eles foram para os Estados Unidos em 2013,
quando a empresa brasileira firmou um acordo com essa startup de biotecnologia
para a pesquisa do biobutadieno. Nesse período, diversos avanços foram
alcançados e a expectativa é construir uma planta-piloto no início do ano que
vem. O butadieno renovável, que será usado pelo mercado de borracha sintética em
substituição ao produto a base de nafta, terá uma importância imensa para o
Brasil. De acordo com a central inglesa de informações petroquímicas ICIS, o
consumo de butadieno terá uma expansão agressiva no País até 2020 e a importação
do composto dos Estados Unidos deverá aumentar 60% antes de fontes alternativas
entrarem em produção.


Assim
como o butadieno, o isopreno é um composto muito utilizado pela indústria da
borracha, principalmente para a fabricação de pneus. Para chegar ao isopreno
verde, a Braskem assinou um acordo de cooperação tecnológica com a americana
Amyris e a francesa Michelin para a substituição da borracha natural por um
insumo químico feito, também, do açúcar da cana. Se os avanços mostrados pelos
testes do pneu verde conseguirem ser reproduzidos pela indústria, os ganhos de
sustentabilidade serão enormes. Há desde um equilíbrio no ciclo de sete anos
para a produção de borracha até uma durabilidade maior do produto, o que seria
um importante aliado para a indústria automotiva no combate às emissões de gás
carbônico. “Esses dois químicos estão na rota dos renováveis a partir da
cana-de-açúcar, com custos competitivos”, diz Alexandre Elias, diretor de
químicos renováveis da Braskem.



Estratégico Uma das maiores petroquímicas do mundo, a Braskem, que alcançou
faturamento de R$ 53 bilhões no ano passado, tem a inovação como parte
estratégica de seus negócios, desde 2002. Até o ano passado eram 850 patentes
documentadas, o que faz da empresa uma das principais pesquisadoras do País. Só
em 2014, foram investidos R$ 230 milhões em pesquisa e desenvolvimento. O maior
exemplo do sucesso dessa estratégia está na fábrica do plástico verde,
inaugurada há cinco anos na cidade gaúcha de Triunfo, com investimentos de US$
290 milhões. Pioneira na produção em escala industrial do polietineno da
cana-de-açúcar em substituição ao derivado de petróleo, a pesquisa com essa
substância teve início em 2007, comandada pelo cientista Antonio Morschbacker.
Hoje, a marca “I’m Green”, criada pela Braskem para assinar o plástico verde,
está presente em mais de 80 embalagens de alimentos a higiene pessoal, com
empresas como J&J, Tramontina e Faber-Castell. No ano passado, a Tetra Pak
expandiu a utilização do plástico verde para todas as suas embalagens produzidas
no Brasil. A empresa foi a primeira a utilizar um produto feito a base de fonte
renovável para envasar alimentos, em 2011.

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