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 Folha de São Paulo, Fovest, terça-feira, 23 de setembro de 2008

CARREIRA


Oceanógrafo tem formação ampla para entender o
mar

Profissional atua em áreas em expansão hoje, como petróleo

CRISTINA MORENO DE CASTRO, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Exploração de petróleo, preservação ambiental e mudanças climáticas são
apenas três das áreas em que o oceanógrafo pode atuar e que estão com demanda
crescente no Brasil.

O estudioso dos oceanos pode ainda trabalhar na pesca, desenvolver métodos
de saneamento e abastecimento de água, além de proteger espécies ameaçadas e
praias assoreadas.

"Mais do que estudar os organismos marinhos, a oceanografia estuda todos os
componentes dos ambientes marinhos e de transição, vivos e não-vivos, assim como
todos os processos que ali ocorrem", diz o coordenador do curso de Oceanologia
da Furg (Universidade Federal do Rio Grande), Luiz Krug.

É por isso que não basta gostar de biologia e ser apaixonado pelo mar para
fazer o curso, dizem os especialistas. Enquadrada pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico como uma ciência exata e da terra, a
oceanografia é interdisciplinar e exige dos alunos e profissionais conhecimentos
de matemática, física, química, biologia e geologia, entre outras disciplinas.

Foi o que assustou a vestibulanda de Duque de Caxias (Baixada Fluminense)
Gabrielly Ribeiro, 18, que vai prestar vestibular para oceanografia na Uerj
(Universidade do Estado do Rio de Janeiro) neste ano: "Quando optei por essa
carreira, pensei que fosse relacionada à geografia e à biologia. Quando descobri
que as matérias específicas do vestibular são matemática e física, fiquei
balançada". No entanto, mesmo assim, ela decidiu se preparar bastante para
prestar o curso de que gosta.

O curso da USP, criado em 2002, cobra, logo nos primeiros períodos, noções
de estatística, cálculo diferencial e química analítica qualitativa. Mas também
oferece em sua grade curricular as disciplinas sobrevivência em alto-mar,
ecologia aquática e poluição marinha.

Todos os cursos têm pelo menos cem horas de aulas práticas em barcos de
pesquisa. No da USP, por exemplo, além dessas aulas, o aluno é obrigado a passar
150 horas embarcado, em projeto paralelo. "Pode ser desde projetos que vão para
a Antártica a projetos em plataformas de petróleo brasileiras", diz a presidente
da comissão de graduação do curso da USP, Márcia Bícego.

O gaúcho Ricardo Domingues, 20, que está no sexto período de oceanografia
na Universidade Federal da Bahia, gosta das aulas em campo. "A proposta do curso
é muito interessante, e a possibilidade de juntar o útil com o agradável é bem
atrativa", diz.

Outro atrativo é o mercado de trabalho, que está em expansão. "As empresas
que prestam serviços na área ambiental à indústria do petróleo e gás oferecem as
melhores oportunidades", diz Krug.

Tomás Peixoto, 26, que se formou pela Uerj em 2005, foi um dos beneficiados
por um mercado de trabalho com vagas "sobrando", como ele define. Ele faz
mestrado em geologia e conseguiu emprego na multinacional Fugro Brasil,
prestando serviço para empresas como a Petrobras.

Para ele, o diferencial do oceanógrafo é possuir uma formação ampla sobre
todos os assuntos relacionados ao oceano. "Temos conhecimento de geologia,
biologia, oceanografia física -ondas, correntes e marés-, química dos oceanos
-poluição-, além de meteorologia, astronomia e navegação, ou seja, uma formação
bem abrangente."

Lei que
regula área foi aprovada há dois meses

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Mais de seis décadas após a
criação do primeiro Instituto Oceanográfico do país, que hoje pertence à USP, a
oceanografia foi regulamentada como profissão pela lei 11.760, de 31 de julho
deste ano.

Segundo o presidente da Aoceano
(Associação Brasileira de Oceanografia), Fernando Diehl, agora o oceanógrafo
pode assinar laudos e concorrer a vagas em concursos públicos.

Além disso, Diehl diz que "o
clima do mercado de trabalho ficou mais favorável, agora que a estrutura de
organização profissional pode melhorar". Hoje não há sindicato, piso salarial,
registro profissional ou exame específico.

Luiz Krug, coordenador do curso
de oceanologia da Furg, acredita que a aprovação da lei vai estimular a procura
pelos cursos. "Antes, era mais conveniente fazer graduação em biologia, geologia
ou química e fazer posteriormente mestrado e doutorado em oceanografia", diz.

Para a coordenadora do curso da
USP, Márcia Bícego, a lei pode fazer com que o mercado conheça mais o perfil
desse profissional: "A regulamentação mostra que a carreira está em
crescimento".

Só neste ano, três instituições
-Universidade Federal de Santa Catarina, Faculdade Metropolitana de Camaçari
(BA) e UFC (Universidade Federal do Ceará)- abriram cursos de graduação. A
Universidade Federal de Pernambuco começa uma nova turma a partir de 2009.

Segundo Manuel Furtado Neto,
coordenador do curso da UFC, o vestibular de oceanografia foi o mais concorrido
da instituição, com 16 alunos por vaga.

Categorias: Oceanografia

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