Nova pagina 10

PORVIR – 26/091/2017 – SÃO PAULO, SP

Professor cria projeto de intercâmbio cultural através da música

POR ROBERTO SCHKOLNICK

O projeto “Cantando pelo
mundo – cantigas e brincadeiras” é uma proposta de intercâmbio musical e
cultural, realizada por meio de uma plataforma colaborativa entre alunos e
professores das escolas do PEA (Programa de Escolas Associadas) da Unesco
(agência da Organização das Nações Unidas para Educação e Cultura), e aberto a
toda organização vinculada à educação musical no Brasil e no mundo.

A iniciativa promovida
pelo Colégio Magno/Mágico de Oz, em São Paulo, conta com o apoio integral do
PEA-UNESCO e busca valorizar a educação musical por meio das manifestações e
expressões da cultura popular, compartilhando o aprendizado das brincadeiras
cantadas e cantigas folclóricas e, assim, enriquecer o repertório das crianças.
A origem do intercâmbio e brincadeiras surgiu um pouco antes, quando participei
do FLADEM (Seminário Internacional do Fórum Latinoamericano de Educação
Musical), que acontece uma vez por ano. Em um dos encontros, surgiu a proposta
de intercâmbio e parceria entre as escolas e educadores musicais, que acabou não
vingando como um projeto institucional. Fiquei pensando que era um desperdício
perder essa oportunidade de troca entre alunos e educadores, então formatei essa
nova proposta, de maneira mais ampla, simples e aberta.

A ideia era que os
alunos fossem protagonistas do projeto e que pudessem apresentar algum recurso
ou alguma característica da sua cultura para os outros participantes. Em meados
de 2015, o projeto teve início como uma proposta experimental e hoje está
plenamente consolidado como uma importante referência ao educador musical. A
plataforma já conta com indicação de mais de 80 atividades de diferentes países,
como Uruguai, Grécia, Espanha e do próprio Brasil, em São Paulo (SP), Porto
Alegre (RS), João Pessoa (PB), Rio de Janeiro (RJ), entre outras.

Quando eu propus essa
plataforma, fomos os primeiros a gravar uma música da cultura popular, “A
lavadeira” e demos o início ao intercâmbio, que foi muito bem aceito pelos
nossos pares pela simplicidade e riqueza de informações presentes no projeto. Em
2016, utilizei as atividades presentes na plataforma “Cantando pelo mundo” como
referência para o trabalho musical em sala de aula com meus alunos do Colégio
Magno/Mágico de Oz. Pesquisamos músicas, cantigas e brincadeiras cantadas de
diferentes regiões do Brasil e do mundo e optamos em sistematizar o conteúdo
trabalhado em duas vertentes: um livro-CD com os registros e produções
realizadas pelos alunos (clique para ver exemplo) e uma apresentação “ao vivo”
das músicas trabalhadas durante o ano.

O importante de se
entender nesse projeto é que ele é interdisciplinar, no sentido de que outros
professores também são incentivados a colaborar

O importante de se
entender nesse projeto é que ele é interdisciplinar, no sentido de que outros
professores também são incentivados a colaborar. Não é apenas o professor de
música que participa. Nesse trabalho, o grupo de professores de música da escola
elaborou a proposta, mas as pesquisas de contextualização, por exemplo, foram
realizadas com as professoras de outras disciplinas. Estamos pensando sempre no
primeiro ano, crianças de 6 e 7 anos em processo de alfabetização.

Acreditamos que é muito
importante dar uma noção mais ampla às crianças para que elas aprendam não
somente a música trabalhada, mas também algumas características da sua cultura,
ou seja, o contexto de onde vem. Os alunos adoraram, por exemplo, conhecer e
experimentar algumas comidas típicas de determinada região, pronunciar a língua
falada em cada país, identificar as roupas e vestuário utilizados, bem como
escutar a sonoridade dos instrumentos tocados naquele lugar.

O desenvolvimento do
trabalho permitiu uma troca muito rica de informações e aprendizados. Lá na
seção de vídeos da plataforma, temos uma família que mora em Israel. Eu trouxe a
referência de uma música, uma brincadeira e a família gravou um vídeo mostrando
como ela funcionava, como aquela canção era brincada pelas crianças israelenses.
Em outra seção, uma escola da Espanha fez uma dança típica e apresentaram para
os alunos. Aqui no Brasil, uma outra escola de Fortaleza (CE), fez a mesma coisa
com a brincadeira cantada folclórica, “Bambu, Tirabu”.

Esse trabalho envolve um
processo: mostramos a música, aprendemos a cantar, tocar e vamos atrás da
contextualização. Podemos trabalhar a sonoridade ou ensinar a letra e tentar
entender o que ela está dizendo. Por, exemplo, numa música indígena Surui,
identificamos o significado de um ritual de luta somente pela intenção da
prosódia (canto) e o ritmo constante dos tambores. Também tivemos uma situação
muito bacana que um avô português de uma aluna veio ensinar na escola uma
brincadeira cantada de Portugal.

É muito interessante
quando conseguimos organizar todo material pesquisado e sistematizar as
informações aprendidas

É muito interessante
quando conseguimos organizar todo material pesquisado e sistematizar as
informações aprendidas. Nesse nosso projeto, tivemos dois importantes momentos:
A gravação das crianças cantando e interpretando as músicas e a produção do
livro, que é o registro do processo com as informações, escrita e ilustrações
realizadas pelos próprios alunos.

O projeto proporcionou
aos alunos (e também educadores!) uma abertura na visão de mundo e aprendizado
dos conhecimentos de diferentes culturas. Uma coisa é mostrar ou escutar
simplesmente uma música. Outra coisa é ter uma música que iremos pesquisar a
fundo e nos surpreender: “Puxa vida, de onde é isso? Que som é esse?”. É uma
descoberta e constatação de que existem outras referências culturais e musicais.
Por exemplo, o som de um sitar (instrumento de origem indiana) é totalmente
diferente da sonoridade que estamos acostumados a ouvir na música do nosso
cotidiano. Eu creio que os alunos vão se abrindo a outras referências ao passar
por esse processo de fazer o registro, cantar a música e conhecer sua origem.

O meu desejo é que esse
aprendizado permaneça e que permita às crianças abrir horizontes a uma visão de
mundo mais ampla, com outros referências, com respeito à diversidade cultural,
não só as referências musicais que temos por aí na mídia. Que possamos criar
bons ouvintes, boas pessoas!

Categorias: Música

1 comentário

Os comentários estão fechados.

× clique aqui e fale conosco pelo whatsapp