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Folha de São Paulo, Empregos, domingo, 16 de setembro de
2007


Sua carreira

 


Tatuagens atrapalham início da vida profissional

Marcas ainda são malvistas em profissões mais conservadoras

PAULA NUNES, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para conseguir trabalhar em uma companhia aérea, a
estudante Flávia Cristina Veloso dos Santos, 21, viu-se obrigada a retirar sua
única tatuagem.

"Eu a fiz há três anos e nunca pensei que ela me
prejudicaria profissionalmente", comenta.

O desenho de uma pequena borboleta na nuca causou-lhe
problemas na primeira busca por um emprego no setor de eventos, como promotora.
"Nem todas as empresas aceitam pessoas tatuadas", admite.

Ter desenhos no corpo e colocar piercings são
iniciativas cada vez mais acessíveis. Existem estúdios de tatuagens até mesmo em
shopping centers.

Ainda assim, no mundo corporativo, ostentar tais
adereços dificulta a carreira -sobretudo a de iniciantes-, ressalta Fernanda
Campos, sócia-diretora da Mariaca InterSearch.

"O candidato deve ficar atento ao perfil da profissão
que quer seguir e das empresas em que gostaria de ingressar antes de fazer uma
tatuagem em um lugar visível", explica Campos.

Nuca, pescoço, pulsos e tornozelos são os locais que
mais chamam a atenção dos contratantes. Marcas nesses locais, portanto, podem
criar dificuldades para o candidato conseguir a tão almejada vaga.

Mentir sobre ter tatuagens ou piercings também está fora
de cogitação. "Denota falta de ética", decreta Campos.

Algumas profissões, como o de comissária de bordo, sonho
da estudante Flávia Santos, não admitem pessoas com desenhos em locais visíveis.

"Ter uma tatuagem em um local que não aparece no
uniforme já não é bem-visto pelas empresas; já em uma parte visível do corpo
praticamente anula as chances de a pessoa ser contratada", enfatiza o
coordenador do Ceab (Centro Educacional de Aviação do Brasil), Ricardo Augusto
Marques.

 

Concursos públicos

Aos que desejam seguir carreira no funcionalismo
público, especialmente os profissionais do setor jurídico, o juiz federal
William Douglas, autor do livro "Como Passar em Provas e Concursos" (ed. Campus/Elsevier),
é categórico: "Tatuagens não devem ser feitas e, se existirem, devem ser
retiradas".

"Elas já apresentam hoje melhor aceitação popular, mas
as bancas avaliadoras ainda são compostas de antigos profissionais, que não as
vêem com bons olhos", observa Douglas.

Ramon Mateo Jr., 48, juiz de uma vara cível de Santos e
magistrado há 18 anos, foi contra essa indicação e recentemente fez uma tatuagem
no braço.

Como trabalha de terno, poucos colegas sabem da
novidade. Mas Mateo admite que, se ele tivesse esse desenho no corpo quando
prestou concurso, talvez não tivesse conquistado a posição que ocupa hoje.

"Não existe regra que impeça o candidato de ter
tatuagem. Mas ainda há certo nível de preconceito", argumenta.


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